Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
4 min — há 9 anos
Mariano Melgarejo tomou o poder por golpe de Estado e presidiu a Bolívia de 1864 a 1871. Morreu assassinado em Lima naquele ano. Na série para esquecer dos caudilhos latino-americanos, ninguém foi tão primário. Por suas atitudes disparatadas, uma atrás da outra, virou o símbolo do que o caudilhismo poderia produzir de mais danoso e desmoralizante.
Corta. Tente imaginar a origem das palavras a seguir(quem sabe já saiba, aí perde a graça): “Até agora, até agora, a energia hidroelétrica é a mais barata. Em termos do que ela dura, da sua manutenção e também pelo fato da água ser gratuita. I da genti podê istocá. Cê, o vento podia sê isso também, mas ocê num conseguiu ainda tecnologia pra istocá vento. Então se a contribuição dos outros países, vamos supô que seja, desenvolver uma tecnologia que seja capaz de na eólica istocá, ter uma forma docê istocá, porque o vento ele é diferente em horas do dia, então vamos supô que vente mais à noite, cumé queu faria pra istocá isso. Hoje nós usamos as linhas de transmissão, cê joga de lá pra cá, de lá pra lá, pra podê capturá isso, mais si tivé uma tecnologia desenvolvida nessa área, todos nós nos beneficiaremos, o mundo inteiro”.
Trecho de peça humorística, em que algum cientista maluco explica sua última alucinação? Errou redondo. Capiau pavoneando erudição? Neca. Bebum potocando em bar? Wrong again. Pode desistir, se não sabe, não acerta.
Tirando o véu, faz parte da entrevista coletiva concedida pela presidente Dilma em Nova Iorque no último 27 de setembro. O resto não está lá muito distante disso. Ela, pelo visto, achou que estava dando o grande e desinibida fez a apologia da estocagem do vento, tecnologia salvadora que estaria por vir. Imagine o espanto divertido dos jornalistas. Não é a primeira vez, nem será a última em que a presidente, sem o cajado protetor do texto escrito por outros, deixará constrangidos os brasileiros. Quando é improviso ou resposta não ensaiada a perguntas, aparece logo a saraivada dos disparates, ditos em português de lógica e gramática estropeadas, que divertem os rieurs e envergonham o País.
Quanto às opiniões, Dilma, — invencivelmente primária, penoso e inevitável constatá-lo — na galeria dos presidentes latino-americanos vai passar como o exemplo mais característico do que a região em dois séculos apresentou de pior. Nada houve na América Latina que chegasse perto das bobagens que dispara a todo momento. Óbvio ululante, no âmbito das opiniões, Dilma Rousseff é o Melgarejo de terninho.
Hilário? Mais bem trágico, sintoma estridente do buraco no qual despenhou o Brasil, aspecto do aviltamento imposto pelo lulopetismo, no qual sobrelevam as granizadas sem fim de gente primária na direção do País, boa parte composta ladravazes contumazes. A consequência não é só a desmoralização da vida pública; o povo paga pelo desemprego crescente, carestia em aumento e pobreza cada vez mais ampla.
Nunca antes na história deste país foi assim. Deixo imerso nas brumas da História os quase sessenta anos de governo de dom Pedro II, respeitabilidade severa. Lembro outros. José Sarney teve noção viva da liturgia do cargo, FHC, intelectual conhecido, cercou-se de pessoal competente. Juscelino, boa cultura, estuante de vitalidade, despertava sonhos. Epitácio Pessoa, jurista de ar fino, parecia estar saindo de um baile de gala. Todos eles com correção representaram os interesses do Brasil. Quando falavam, e não era pelos cotovelos, diziam coisa com coisa, pelo menos. Agora? Sobrou a chacota divertida e o desprezo de fora. Pior, muitos de nós passamos a achar normal a convivência com o disparate.
Quem tem cabeça baralhada é porque, míope, vê confusamente a realidade; são olhos incapazes da amplidão e da agudeza. Daí necessariamente brotam juízos mirrados e atrapalhados. Cortando caminho, mesmo com as lições da tempestade em que meteu a administração, o governo Dilma tem alguma chance de dar certo? Nenhuma, é a resposta óbvia. Concluindo, ou a direção política do País acha urgente solução eficaz, benéfica para o povo, ou, impossível escapar, o futuro à frente terá mais agitação social e mais sofrimento, em particular dos menos assistidos. Deus tenha pena de nós.
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