Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
5 min — há 5 anos — Atualizado em: 9/25/2019, 11:24:42 PM
Desde 9 de junho último a população de Hong Kong reage energicamente, no fundo, contra a crescente ingerência do Partido Comunista Chinês (PCC) na vida pública da antiga colônia britânica, com repercussão óbvia na vida privada de seus habitantes.
Mais proximamente,a reação visa projeto de lei que permite a extradição de cidadãos de Hong Kong paraa China para lá serem julgados por um Judiciário sem autonomia. Ou, por outra, maisclaro, permite que opositores do Partido Comunista Chinês sejam entregues ao governode Pequim para, dependendo do caso, exílio interno, isolamento, tortura, encarceramento,prisão e morte.
Alguns marcosúteis. Depois de 156 anos de governo colonial inglês, em 1º de julho de 1997 foientregue à China a soberania e a administração de Hong Kong, então com 6,5 milhõesde habitantes, que passou a ser parte integrante da República Popular da China.Com algumas condições, sintetizadas na fórmula “dois sistemas, um Estado”, por 50anos, portanto, até 2047, manter-se-ia autônoma a administração e intacto o regimeeconômico então vigente. Já se foram 22 anos, faltam 28 para o processo se completar.Contudo, a China vem desrespeitando o tratado, desidrata cada vez mais a autonomiada “região administrativa especial”. O garrote sino sufoca liberdades e outros direitos,alarmando a população da cidade e o mundo em geral.
Já em 2014,na chamada revolta dos guarda-chuvas, houve 79 dias de protestos contínuos nos arredoresda sede do governo. Os guarda-chuvas abertos evidenciavam a determinação da populaçãode permanecer sob a chuva, sem arredar pé, reclamando liberdade, eleições livres,autonomia verdadeira.
Os líderesdo movimento dos guarda-chuvas enfrentam hoje processos, prisões e exílio. Não foiconcedido o voto universal direto nas eleições para o Executivo de 2017. Assim,o pleito foi disputado só com candidatos previamente aprovados por Pequim, emque foi eleita Carrie Lam, agora contestada. E, a partir de 2014, a Chinaaumentou o financiamento a candidatos pró-Pequim e fez com que líderesempresariais favoráveis comprassem espaço de propaganda nos meios dedivulgação. Outro ponto, o Parlamento, também de momento contestado, tem mais dametade dos membros sob controle de Pequim (do PCC, portanto), o que lhe dá poderpara interferir no regulamento e interpretar a “Lei Básica”, a constituição, demaneira que lhe seja favorável.
Uma palavrasobre as presentes manifestações. A Inglaterra tem laços históricos com a populaçãoe a imprensa londrina segue de perto os acontecimentos. Explica artigo do “The Economist”: “Muitas vezes de forma surpreendente, os manifestantes que defendem as liberdadesde estilo ocidental em Hong Kong fingem que não estão procurando uma briga com oPartido Comunista. Pelo contrário, os ativistas afirmam que seus objetivos e asmetas dos chefes comunistas são harmônicos: ambos buscam a continuação da prosperidadepara Hong Kong. Os slogans contra Xi Jinping têm sido raros”. Um dos líderes,Nathan Law pontua: “Todas as nossas exigênciasestão dirigidas ao governo de Hong Kong”. E conclui melancólico: “Na verdade, ainda não conquistamos nada”.
Embora asmanifestações sejam apresentadas como fruto espontâneo de convocações pelas redes,certamente têm líderes e coordenação e eles estão procurando evitar o choque abertocom o PCC, que permanece inamovível.
O povo comumé que percebe pela evidência que os visados naturais pelos protestos são os chefesdo Partido Comunista e do governo chinês. E, nas bases, são vociferados ataquesa Pequim e até a reivindicação de Hong Kong voltar a ser colônia da Inglaterra,certamente, situação mais cômoda e segura para a população. A invasão doParlamento foi um momento de desabafo, embora com claro controle de líderes.
No Exterior,o governo de Pequim se manifesta energicamente contra Washington e Londres. Sãoos dois pontos mais sensíveis. Apenas como exemplo o embaixador chinês emLondres acusou o Reino Unido de “gigantescainterferência”, “escolha do lado errado” e “apoio a agitadores fora-da-lei violentos”. Nos Estados Unidos,Donald Trump manifestou apoio às manifestações “estão procurando democracia; infelizmente alguns governos não queremdemocracia”. Não passou daí.
Concluomelancolicamente, quem escreve tem obrigação especial de objetividade everdade. A China não vai ceder. Ela vai repetir em 2019 o que fez em 2014. Aspotências ocidentais protestarão, em especial Estados Unidos e Reino Unido, masouviremos protestos verbais, sem sanções econômicas ou medidas mais extremas.
O quepretende a China? Dobrar as oposições e em parte, já conseguiu. Vimos, aoposição mede os passos, teme o punho rijo dos governantes de Pequim. O PCC temproblema delicado. Habituar paulatinamente os 7,4 milhões de habitantes à novasituação — sair de ar puro e, em transição gradual, respirar em ambientefuliginoso e tóxico. De outro modo, estavam aclimatados a liberdades amplas detipo inglês. Dentro de 28 anos acabará o regime especial e serão empurradospara o ambiente social e político da China.
Ocaminho para o qual será empurrada a população da ilha, entremeado por explosõesde inconformidade, comportará decepção e desalento. Em teoria, passará poretapas: tolerância, conformidade, por baixo a aceitação resignada. O Ocidenteserá submetido a tratamento parecido: terá sua inconformidade, haverá recusa e protestos.O objetivo é o mesmo, tolerância, depois conformidade, no fim pelo menos aaceitação resignada.
A Chinaatingirá o objetivo? Não sei. Nas presentes circunstâncias, o bom desfecho docaso depende em especial das reações da opinião pública nos Estados Unidos.Mais no ponto: da vivacidade do inconformismo.
Diz a história, ou a lenda, que o rei Mitrídates [busto ao lado] ingeriu veneno de forma crescente para se tornar imune a doses maiores e assim escapar do envenenamento. Tal processo de imunização recebeu o nome de mitridização; é utilizado na produção do soro antiofídico. De forma análoga, a China tenta mitridatizar a opinião pública, em Hong Kong e alhures para levá-la à resignação derrotista.
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