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Morte suspeita de Alexei Navalny destaca padrão de repressão política na Rússia de Putin.
7 min — há 9 meses — Atualizado em: 2/25/2024, 11:31:02 AM
Navalny
Na Rússia putinista aconteceu o que todos os analistas políticos sérios receavam: a morte de Alexeï Anatolievitch Navalny [foto]. Certamente, não por causas naturais, mas foi morto. Tinha apenas 47 anos. Era o maior opositor do ditador comunista Vladimir Putin.
Ocorrido no último dia 16, o fato indignou boa parte do mundo, mas não surpreende aqueles que acompanham os acontecimentos na Rússia atual. Não é o primeiro caso e nem será o último morto em circunstâncias misteriosas e suspeitas.
Navalny provavelmente seria eleito no lugar de Putin [foto] caso na Rússia houvesse eleições livres. Como se sabe, lá elas são inteiramente manipuladas pelo Kremlin, que segue com o mesmo histórico das “eleições” durante a triste era soviética. Na época da URSS, os candidatos do Partido Comunista sempre “venciam” as eleições aproximadamente com 90% dos votos… Quem dirá “me engana que eu gosto”?
O mesmo ocorria com líderes comunistas de outros países, como em Cuba, onde Fidel Castro sempre foi reeleito com quase 100% dos votos. Por mais de 50 anos, ele foi praticamente candidato único…
Assim, sem Navalny como concorrente, nas eleições presidenciais do próximo dia 15 de março, o autocrata Putin, será novamente “reeleito” com os votos — dirá o Kremlin — da “imensa maioria”. Ele se perpetua no Poder com seu 5º mandato, ficando no comando, pelo menos, até 2030!
Qualquer um que tenha apoio popular na Rússia, com real possibilidade de ser eleito e ousar candidatar-se será tirado do caminho, como ocorreu com Navalny, um mês antes do pleito. Já em 2018, quando se candidatou, fora impedido de concorrer, acusado de organizar manifestações contra o governo e de tentar depor Putin…
Navalny, além de já ter sido preso algumas vezes por participar de protestos contra o déspota russo, sofrera alguns atentados. Em 2017, enquanto caminhava numa rua, foi atacado por agentes do serviço secreto com um spray que quase o deixou cego. Em 2020, num voo de Tomsk (Sibéria) a Moscou passou mal e teve de ser internado. Havia sido envenenado.
Temendo a morte, conseguiram levá-lo para a Alemanha, onde médicos especialistas do hospital militar de Berlim descobriram o tipo de veneno que usava a KGB, o letal tóxico Novichok [foto]. Assim, puderam salvá-lo. Laboratórios alemães, franceses e suecos confirmaram o envenenamento por esse neurotóxico colocado na roupa de Navalny.
É fabricado apenas por laboratórios muito avançados (na Rússia há alguns que forneciam para a KGB), afeta o sistema nervoso e leva a vítima à morte. Outras vítimas de Putin sofreram o mesmo tipo de envenenamento, mas não tiveram a mesma sorte, tiveram mortes atrozes.
Depois de ter recuperado a saúde na Alemanha, em 2021 Navalny retornou à Rússia, mas logo ao desembarcar no aeroporto de Moscou foi preso, acusado de não ter respeitado a “liberdade condicional”. É o vale tudo para se eliminar os opositores do novo Tsar russo. Seu recado é claro: se algum outro concorrente surgir para sucedê-lo, terá a mesma sorte…
Mesmo trancado no presídio, o prestígio de Navalny crescia. Era corajoso, carismático e popular, sobretudo entre os jovens, contava com milhões de seguidores nas redes sociais. Por meio de auxiliares, ele criticava a invasão russa na Ucrânia — o que na Rússia é considerado crime…
Em 2022, numa das audiências no Tribunal, acusou Putin de iniciar uma “guerra estúpida, sem nenhum propósito ou significado”. Também criticava a enorme corrupção e a podridão do governo russo, por ele caracterizado como sendo composto por “vigaristas e ladrões”.
Mais recentemente, ele anunciou uma campanha contra a reeleição de Putin nas eleições do próximo mês, mostrando que será uma eleição-farsa. O todo poderoso Putin, sentido seu trono ameaçado, mandou seu rival para bem longe a fim de ficar praticamente incomunicável.
No final de dezembro passado, desapareceu da prisão de Vladimir (a 250 km de Moscou), e reapareceu dias depois numa prisão na Sibéria (a 2000 km da capital) para cumprir pena de 30 anos!
A mãe de Navalny, Liudmila Navalnaya [foto], o havia visitado naquele cárcere no dia 12 último e declarou que o filho estava bem de saúde e bem animado, apesar de estar em “Lobo Polar”, uma das prisões mais temidas do mundo, localizada na Sibéria, onde as temperaturas chegam a 42 graus abaixo de zero! Neste mês de fevereiro, o clima está ‘ameno’, mais ou menos 30 graus negativos…
Conhecida também como IK-3, é uma prisão de segurança máxima na região de Yamalo-Nenets, no Ártico [foto abaixo] . Construída nos anos 60 num antigo campo de concentração da União Soviética, para onde eram mandados os dissidentes do regime comunista. Conta com 1000 detentos, os criminosos mais perigosos da Rússia, como assassinos em série, estupradores e pedófilos contumazes.
Mas no caso de Navalny foi condenado sem ter praticado nenhum crime, mas suspeito de ter ajudado organizações para depor o ditador russo. Muitos achavam que ele ficaria naquela “colônia penal” pelo resto de sua vida, ou pelo resto da vida de Putin.
Em isolamento total, lá os presos são proibidos de manter qualquer comunicação sob severas penas. Na primavera os presos sofrem pavorosamente com enxames de mosquitos; no inverno são forçados a ficar imóveis na neve, se um deles se move, todos recebem jatos de água gelada.
As celas não têm janelas, em algumas o condenado só consegue ficar agachado. Não podem fazer caminhadas, a não ser dentro de uma pequena jaula uma vez por dia durante 90 minutos. Mesmo nestas condições, Navalny estava bem. Na véspera da morte, numa audiência, ele se apresentou saudável, sorrindo e bem humorado brincando com o juiz.
Navalny é o 9º opositor de Putin que morre de modo misterioso. Alguns morreram “caindo” das janelas ou sacadas de seus apartamentos… Ou foram defenestrados pelos agentes dos serviços secretos?
Dezenas de jornalistas e políticos que fizeram oposição a Putin só tiveram uma alternativa para escapar da prisão e possivelmente da morte: fugiram da Rússia. Dos que ficaram alguns foram atropelados ou baleados “acidentalmente”, morreram em seus carros explodidos, envenenados com chá com polônio radioativo, outro teve o avião “implodido”[foto acima].
É o caso mais famoso do ano passado. O chefe do ‘Grupo Wagner’, Yevgeny Prigozhin, depois de décadas de serviços especiais prestados a Putin, foi acusado de traição e tramar um golpe de Estado.
Assim são as coisas na Rússia putinista, e Navalny entra para mais um na lista de opositores de Putin que morreram misteriosamente. Lista extensa e negra de assassinatos encomendados pelo Kremlin, que nunca serão esclarecidos. Menos mal que várias autoridades do mundo ocidental responsabilizaram diretamente Putin pela morte de Navalny.
Realmente seria preciso muita ingenuidade para não se colocar a culpa em Putin. Já o presidente brasileiro [na foto com Putin] , ao ser indagado, disse que esperará o resultado dos exames antes de se pronunciar. Mas aí não é por ingenuidade, mas para tentar salvar o ditador russo, assim como age em relação aos ditadores, como o de Cuba, Venezuela e Nicarágua.
No dia seguinte à morte de Navalny, familiares pediram seu corpo para o sepultamento, mas não obtiveram até esta data (21 de fevereiro). A própria mãe retornou à prisão no Ártico para ver o corpo do filho, mas não conseguiu, deram-lhe apenas um documento afirmando que Navalny morreu no dia 16 de fevereiro às 2:17 da tarde.
No documento não há explicação da causa mortis… Tudo leva a crer que o Kremlin está ganhando tempo para encobrir as provas do assassinato.
A viúva de Navalny, Yulia Navalnaya [foto com o esposo e filhos], que sequer pôde ver o corpo do marido no necrotério, acusou diretamente Putin de ter mandado envenenar o marido. Ela disse que o governo russo espera os vestígios do veneno ministrado desaparecerem do corpo para só depois entregá-lo à família.
Em várias cidades russas as ruas foram tomadas por manifestações acusando Putin de ser o culpado por ter calado a principal voz da oposição. Mas elas foram duramente reprimidas pela polícia, que efetuou, até o momento, quase 500 prisões de manifestantes.
Mesmo com proibição policial, centenas de simpatizantes depositaram rosas vermelhas na “Pedra Solovetsky” — monumento às vítimas da repressão política, que fica em frente ao Kremlin, onde outro líder oposicionista foi morto em 2015.
Flores vermelhas colocadas na neve bem simbolizam o sangue que se verterá em defesa de uma Rússia verdadeiramente anticomunista. Um dia virá!
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