Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
5 min — há 5 anos — Atualizado em: 12/9/2019, 10:27:18 PM
Noite de 6 de agosto deste ano, na famosa Times Square, em Nova York. Luzes multicoloridas, telões eletrônicos, propagandas aliciantes, fluxo contínuo de transeuntes, turistas inebriados diante das lojas e dos produtos de consumo ilimitado… ou quase. Em todas as esquinas há prazer, alegria, sorrisos fugazes mas constantes. Nada pode perturbar tal triunfo da modernidade, tal completo deleitamento da vida mundana oferecido pela “Big Apple” americana.
Noentanto, onde a ilusão corre sem freios, aí mesmo o homem extasiado por ela terácedo ou tarde algum sobressalto, que o obrigará a abrir os olhos para arealidade. E foi o que ali aconteceu. De repente, o barulho de estampidos sepropagou pela Times Square,seguindo-se diversos outros estouros. Bombas? Atentado terrorista? O pânico sealastrou, e a multidão correu desvairada pelas ruas cuja alegria tinha ares de imperturbável1… A morte parecia surgira dois passos de todos. Era o fim da ilusão.
O súbitopânico suscitado por esses estampidos faz certo sentido, tendo em vista algunsfatos que os precederam. Poucos dias antes, houve o atentado2 de El Paso, no Texas, quedeixou 20 mortos; outro ataque em Dayton, Ohio, resultou em nove vítimas fataise 27 feridos; um atirador matou três pessoas na Califórnia, uma semana antes. Quaisos motivos de tais brutalidades? As notícias nos trazem a respostaestarrecedora: não há razões! Pelo contrário, mostram motivos banais,ridículos, irracionais.
Aloucura, que pode conduzir a atentados como esses, dá sinais de ter-seinstalado definitivamente no mundo contemporâneo. Não longe de nós, bastalembrar o atentado de Suzano, SP, no início deste ano. Tudo indica que um dos “motivos”dos atiradores era simplesmente superar o número de mortes do massacre emColumbine, ocorrido em 1999 nos Estados Unidos. Ou seja, os assassinos quiseramrealizar, na vida real, o que se faz numa disputa de videogame. Difícil imaginarinsanidade maior.
A opinião pública e as defecções vergonhosas
Diantede tanta loucura, o que faz o homem imerso na enganadora felicidade que o mundoapresenta? Continua divertindo-se nas “TimesSquares” espalhadas por todo o mundo.
Essasituação pouco difere de inúmeros exemplos históricos. Nos últimos dias doImpério Romano, quando os bárbaros já saqueavam Roma, muitos habitantes dacidade sequer se preocupavam com a destruição iminente. Continuavam crendo quealgo aconteceria para impedir o desmoronamento definitivo do antigo império dosCésares. “Roma nunca cairá”, diziam. Dedicavam suas existências aos prazeres eà irreflexão, e daí a pouco seriam deglutidos pela avalanche bárbara.
Exemplorecente é o do Camboja, em 1975. Enquanto os comunistas do Khmer Vermelho iam conquistando paulatinamente o país, e mesmoquando já entravam com os tanques na capital Phnom Penh, muitos despreocupadosdormitavam ou se espreguiçavam à beira das piscinas. Não lhes preocupava o fatode um regime brutal estar batendo às suas portas, e do qual eles mesmos, osdespreocupados, se tornariam as primeiras vítimas.
O episódioda Times Square é emblemático. Nãohouve atentando algum! As explosões ouvidas vieram dos escapamentos demotocicletas. Mas a histeria generalizada que se seguiu mostra bem que atranquilidade e despreocupação eram apenas aparentes. Cenas filmadas apresentaramalguns chorando, mesmo após a polícia avisar que não havia perigo algum.
Numartigo de Catolicismo,3em 1955, Plinio Corrêa de Oliveira alertou os leitores para a ameaça comunista:“A continuação deste pandemônio por mais alguns anos não poderá deixar delevar a um grau imprevisível o embrutecimento geral, a decadência do padrãohumano, o declínio da capacidade de resistir, de lutar, de vencer, de todo oOcidente, quer no plano ideológico, quer no plano militar. Como sob um ventopestífero, vão minguando todas as nossas energias vitais. Dentro de mais algunsanos, estaremos talvez maduros para aceitar, sem resistência, alguma imensasurpresa, alguma defecção vergonhosa, súbita, completa”.
Osperigos atuais, embora muito maiores que os daquela época, vêm sendoacobertados sob amplas camadas de propaganda pacifista, que contribui para aapatia e adormecimento da população. Mas a preocupação com algum perigo poucoexplicitado, mas de grandes proporções, está evidente no episódio da Times Square. Haverá utilidade para odespertar da opinião pública, em advertências como a que acima transcrevemos?Não seria mais uma vox clamantis indeserto?
IrracionalidadeX sabedoria católica
Atentadosou explosões, caso se generalizem, podem provocar a fuga em massa das cidades,consideradas não mais habitáveis. E o resultado, queiramos ou não, será a voltaà vida selvagem, neo-bárbara, longe da civilização que vaidesaparecendo e enlouquecendo. Se lembrarmos que esse é o sonho das correntesestruturalistas e indigenistas atuais, algumas das quais infiltradas na IgrejaCatólica, esta hipótese não parece tão distante.
Nossaépoca vive na fantasia de um mundo repleto de deleites e entretenimentosinfindos. Finge não perceber a corrosão, o desfazimento inoculado nas suasentranhas. Sem princípios morais, sem famílias estruturadas, sem religião, semDeus. A irracionalidade passou a ser a única regra do homem do século XXI. Amultiplicação dos atiradores tresloucados revela-se apenas como mais um sintomada última doença do paciente em estado terminal. Não há como escapar dessa durarealidade: estamos no fim de uma era. Quando pessoas se matam sem razão, quandoentram em estado de histeria sem motivos, ou por motivos ridículos, eis ospresságios da desagregação derradeira que se aproxima.
Opânico coletivo da Times Square nosfornece mais uma lição: o homem moderno não está preparado para enfrentar atragédia. Quando esta se apresenta, ele entra em desespero, desaba. Isso porquedeseja repousar na eterna ilusão de uma vida sem dor, sem sofrimento.
Bemoutra é a mentalidade católica. A Igreja nos ensina que vivemos num vale delágrimas. Por mais que alguém tenha uma existência tranquila, e até com alguns prazereslegítimos, um dia a tragédia virá. A Santa Igreja nos diz: prepare-se, tenhaconfiança na Providência Divina. Encare a dor com resignação. Lá está a Cruz notopo das igrejas e nos altares, indicando que o Homem-Deus sofreu e morreu, masao mesmo tempo venceu, abrindo para nós as portas do Céu, esperança de nossasalmas.
Eiso que a Igreja Católica sempre ensinou, mas o neo-paganismo nega e esconde.
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Notas
Fonte: Revista Catolicismo, Nº 827, Novembro/2019.
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