Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
5 min — há 5 anos — Atualizado em: 12/28/2019, 3:18:07 AM
Gustavo Solimeo (*)
Há muita confusão sobre a natureza e o alcance do carisma da infalibilidade do Papa.
Muitos católicos com instrução religiosa média pensam que o Romano Pontífice é infalível em tudo o que diz ou faz. No entanto, não é isso que a doutrina católica afirma.
Dois Conceitos Diferentes Que São Frequentemente Confundidos
Assim, a maioria dos católicos confunde infalibilidade e impecabilidade. Na realidade, trata-se de dois privilégios distintos:
Infalibilidade é imunidade a erros.
Impecabilidade é isenção da capacidade de pecar; é ser incapaz de pecar.
A primeira (infalibilidade) foi concedida ao Papa; a segunda (impecabilidade) não o foi.
Só Nossa Senhora recebeu esse privilégio único. Tendo sido concebida sem pecado original e confirmada em graça, Ela era incapaz de cometer um pecado grave. E, pela dignidade de Mãe de Deus, foi-lhe também dado o dom da isenção da mais pequena imperfeição.
Nem mesmo São Pedro ‒ o primeiro Papa e Apóstolo ‒ foi isento das fraquezas devidas ao pecado original, como no episódio mencionado na Epístola aos Gálatas, quando São Paulo “resistiu-lhe em face” (Gal. 2, 11), por causa de certas medidas disciplinares ambíguas, devidas a suas deficiências e fraquezas humanas.
As condições necessárias para a infalibilidade
Assim, nem tudo o que os Papas dizem ou fazem é infalível. Certas condições devem ser satisfeitas para que uma declaração seja em si infalível.
A Constituição Pastor Aeternus do Concílio Vaticano I (1869-1870), contém a definição de infalibilidade papal. O documento afirma que o Papa é infalível “quando fala ex cathedra, isto é, quando, no desempenho do ministério de Pastor e Doutor de todos os cristãos, define com sua suprema autoridade apostólica alguma doutrina referente à fé e à moral para toda a Igreja, em virtude da assistência divina prometida a ele na pessoa de São Pedro”.1
Há, portanto, quatro condições necessárias para que um pronunciamento do Magistério Pontifício seja infalível:
Qualquer pronunciamento que não cumpra esses quatro requisitos não goza de imunidade ao erro. Naturalmente, estas quatro condições não estão presentes na maioria dos atos e documentos do Magistério Pontifício Ordinário. Muito menos nas palavras, gestos e atitudes dos Papas na sua vida quotidiana.
Ver a Igreja como Ela é
Além disso, a infalibilidade é uma faculdade que reside na pessoa do Papa, que é dotado de inteligência e livre arbítrio. Ele pode ou não usar desse poder como quiser.
A mesma Constituição Pastor Aeternus estabelece os limites da infalibilidade papal:
“O Espírito Santo não foi prometido aos sucessores de S. Pedro para que estes, sob a revelação do mesmo, pregassem uma nova doutrina, mas para que, com a sua assistência, conservassem santamente e expusessem fielmente o depósito da fé, ou seja, a revelação herdada dos Apóstolos.”2
Assim, os fiéis devem considerar a Igreja como Nosso Senhor Jesus Cristo a fez e a estabeleceu, não como eles a imaginam ser. Os católicos piedosos devem conhecê-la, amá-la, admirá-la e venerá-la como Ela realmente é: o Corpo Místico de Cristo. Os fiéis devem admirar a Igreja na infalibilidade dos Seus dogmas, na santidade dos Seus sacramentos, na Sua unidade e na catolicidade da Sua missão. Este amor, admiração e reverência, porém, não devem levá-los a tentar esconder as deficiências e imperfeições que possam existir em Seu elemento humano.
O Elemento Humano Não Obscurece o Divino
De fato, Cristo permite tais deficiências, como afirma o Papa Pio XII:
“E se às vezes na Igreja se vê algo em que se manifesta a fraqueza humana, isso não deve atribuir-se a sua constituição jurídica, mas àquela lamentável inclinação do homem para o mal, que seu divino Fundador às vezes permite até nos membros mais altos do seu Corpo místico para provar a virtude das ovelhas e dos pastores e para que em todos cresçam os méritos da fé cristã”.3
A própria Igreja, na Ladainha de Todos Santos, reconhece esta possibilidade de desvio do reto caminho, quando convida os fiéis a rezar para que o Santo Padre e os outros Pastores não se afastem da verdadeira religião:
V. Ut domnum Apostolicum et omnes ecclesiasticos ordines in sancta religione conservare digneris, R. Te rogamus, audi nos. | V. Que Vos digneis conservar na vossa santa religião o Sumo Pontífice e todas as ordens da Hierarquia eclesiástica, R. Nós vos rogamos, ouvi-nos. |
Assim, o elemento humano da Igreja pode falhar e até falhar gravemente, uma vez que o Papa e a hierarquia não são dotados de impecabilidade. Como seres humanos, eles são capazes de pecar, pois, sendo dotados de livre arbítrio, podem aceitar ou rejeitar as ações da graça. No entanto, a falta de impecabilidade papal não afeta a infalibilidade papal, nos termos acima descritos.
Em meio à crise atual, os fiéis devem sempre respeitar a Hierarquia Sagrada, aderir incondicionalmente à verdadeira Fé e amar com extrema dedicação a Igreja, Aquela que é completamente pura e imaculada em Sua constituição divina e em Sua realidade mística e sobrenatural, sendo como é a Esposa de Cristo.
Notas
December 13, 2019 | Gustavo Solimeo
https://www.tfp.org/lets-not-confuse-papal-infallibility-with-impeccability/
Gustavo Solimeo
18 artigosLicenciado em História pela Universidade de São Paulo. Ex-Secretário de Redação e atual colaborador da revista de cultura "Catolicismo". Membro Titular da Academia Marial de Aparecida.
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