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Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo

O Kremlin manipula “inocentes úteis”, alguns não tão inocentes, outros muito úteis

Por Luis Dufaur

6 minhá 8 anos — Atualizado em: 6/30/2017, 6:21:10 PM


Cécile Vaissié 04
Professora Cécile Vaissié, da Universidade de Rennes 2, especializada em Estudos Soviéticos e Pós-Soviéticos

Todos os grandes Estados têm um ‘softpower’, explicou a professora Cécile Vaissié, da Universidade de Rennes 2, especializada em Estudos Soviéticos e Pós-Soviéticos e autora do livro Les réseaux du Kremlin en France (As redes do Kremlin na França), em entrevista para a Rádio França Internacional – RFI. (Vídeos embaixo)

O que é um ‘softpower’? É a capacidade de um país de projetar uma imagem cultural e vender assim seus produtos aos outros.

A Rússia tenta ter um ‘softpower’, mas anda como um deficiente físico, pois não tem títulos reconhecidos. Seu cinema, por exemplo, não é mais o que foi. O fracassado regime comunista encarregou-se de esmagar toda forma cultural que não fosse soviética, totalitária e sinistra.

Assim diminuída, a “nova Rússia” tenta produzir um impacto sobre o conjunto dos outros povos a fim de impor sua visão das coisas sobre certos problemas. E tem de usar recursos sub-reptícios.

Ela é nisso um pouco diferente dos outros Estados, porque reatou dissimuladamente com a tradição soviética de propaganda. Para esse efeito, criou especialmente certo número de meios de comunicação que difundem a versão do Kremlin para consumo ocidental.

Entre tais meios recentemente instalados, a professora cita o site Sputnik e certas páginas do Facebook, onde se pode ver toda espécie de coisas demenciais. E, sobretudo, a versão que o Kremlin tenta impor a respeito dos acontecimentos no mundo.

É preciso fugir da tentação de achar que o Kremlin difunde sua interpretação, numa simples oposição de pontos de vista.

Afirma a professora: “Não. Aqui se fala de coisas muito concretas. Efetivamente há este exemplo: o primeiro canal da TV russa difundiu uma informação há alguns meses dizendo que uma criança de três anos foi crucificada pelos nazis ucranianos no Donbass (leste da Ucrânia) diante de toda a população de uma cidadezinha.

“Tudo isso foi espalhado por outro sinal de TV que emite muito em inglês, em espanhol e em árabe, ainda não em francês, que é Russia Today, o qual é da mesma classe. Você fica tomado pelo horror.

Mas jornalistas russos da oposição foram investigar no local, achando que se a criança foi crucificada diante de toda uma aldeia deveria ter gente que viu.

“Porém ninguém tinha visto, essa criança não existia, a mãe não existia. O que queria dizer que o caso era falso, e não que havia sido deformado.

“Eu vou dar exatamente outro exemplo marcante, que foi a história do avião da Malaysian Airlines derrubado sobre o leste da Ucrânia.

“A mídia do Kremlin divulgou uma versão dizendo: ‘Você sabe, nesse avião só havia cadáveres tratados com substâncias na Alemanha (e isso com toda espécie de detalhes) e todos estavam mortos havia vários meses’”.

“Então, você se pergunta qual é o objetivo dessa propaganda? Qual é o objetivo desse gênero de coisas completamente insensatas?

“E a esse respeito, antigos jornalistas russos exilados explicam que isso são práticas da KGB inteiramente habituais. Essas práticas, dizem eles, nos foram ensinadas há várias décadas, quando fazíamos o que se chamava ‘cátedra militar’ na escola de jornalismo.

“Esses métodos consistem em provocar choques emocionais, para que logo depois as pessoas percam o senso, não possam mais analisar o que está acontecendo.

“E é isso que fazem sem cessar sites como Sputnik, espalhando coisas aberrantes.

“Os estudantes vêm me perguntar se podem acompanhar Sputnik e eu lhes respondo: ‘Não, não, Sputnik é tudo sem valor’. Acresce ainda o Russia Today.

Sobre os tentáculos do Kremlin na mídia e na Internet veja:

A guerra de Moscou para desequilibrar as mentes 

Máquina de desinformação de Putin trabalha a toda

'Eu estou com Putin', trabalho sorrateiro russo desvia movimentos nacionais
Em Roma: ‘eu estou com Putin’. O trabalho sorrateiro russo quer manipular movimentos nacionais

Também é necessário não esquecer nesta guerra da informação – e isso também foi demonstrado por jornalistas russos –as fábricas de ‘trolls’.

“Quer dizer, pessoas – especialmente em São Petersburgo – pagas para difundir informações nas redes sociais.

“Elas são muito eficazes na Rússia, mas funcionam na França, na Grã-Bretanha. São pagas para ter perfis no Facebook, no Twitter, e se dedicam a espalhar a ‘boa palavra’. Há estudos científicos que demonstraram sua organização baseando-se nos endereços IP.

“E eles tentam convencer pessoas de boa vontade”.

Você conhece alguém que pode estar caindo na armadilha da desinformado montada por um ‘troll’ russo? Ou não? Veja como funcionam:

Exército de comentaristas fantasmas russos age na Internet – 1

Exército de comentaristas fantasmas russos age na Internet – 2

Quais são as novas táticas da ‘guerra da informação’ promovida por unidades especiais do exército russo? Veja:

A mentira e o engano na “Teoria e Ciência da Guerra” preferida de Putin

‘Putin defensor dos valores cristãos’?: mais uma mentira da nova KGB, diz arcebispo 

O Kremlin tenta também infiltrar as associações de emigrados russos no exterior.

“A partir de 2003, temos grandes operações de sedução tentando lhes dizer: ‘Bom, precisamos nos reconciliar’.”

A reconciliação é muito boa, diz a professora, mas é preciso estar de acordo com a História. E é ali onde a reconciliação engasga.

“Foi montada uma fantasia imaginosa sobre a Rússia que não tem nada a ver com a Rússia real. Esse falso imaginário faz crer que a Rússia seria a ‘Santa Rússia’ de outrora, que defende as tradições familiares e cristãs.

Sputnik uma máquina importante de falsas informações foi montada no mundo
Sputnik, Russia Today: peças de uma máquina impressionante para difundir informações enviesadas montada no mundo por Moscou.

“Mas as tradições familiares foram enormemente destruídas na Rússia, elas estão muito mais vivas na França.

“O Cristianismo foi enormemente destruído na Rússia.

“Você vê multiplicarem-se, por exemplo, no Donbass, as bandeiras vermelhas, todo um sistema de símbolos soviéticos – não apenas comunistas, mas soviéticos.

“Tudo isso está sendo reativado. Está se voltando ao discurso soviético dos anos 1946-1953: o de ‘nós contra eles’, e esses ‘eles’ são acusados de fascistas.”

A professora mencionou homens políticos ligados ao Partido Comunista Francês ou a grupos do Partido Socialista que apoiam ativamente tudo o que vem do Kremlin.

Mas também há destacados políticos de “direita” que na prática apoiam as manobras de Putin, embora se digam arautos do capitalismo, da democracia e da globalização.

Entre eles destacaram-se François Fillon, do partido UMP, e muito especialmente o ex-presidente Nicolas Sarkozy, que se fez eleger criticando os políticos que estreitavam a mão de Putin, quando ele próprio é hoje muito favorável ao mesmo Putin que esmagou a Chechênia e invadiu a Ucrânia.

Também fazem o jogo de Putin professores universitários objetivos, que abandonaram a vida acadêmica para se reunirem com políticos que vão da extrema-esquerda, passando pelo centro e a direita, até incluir Marine Le Pen. Um deles até chegou a ser um colaborador habitual de Sputnik.

Entrevistas à professora Cécile Vaissié sobre as estratagemas da propaganda russa para enganar Ocidente

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Luis Dufaur

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1043 artigos

Escritor, jornalista, conferencista de política internacional no Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, webmaster de diversos blogs.

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