No momento, você está visualizando O medíocre

medíocre nunca diz, ele repete sempre. Não concebe que um homem, ainda obscuro, ao qual se é muito chegado, possa ser um homem de gênio. Suas admirações são prudentes,  seus entusiasmos oficiais. Ele só exclamará: eu bem que o tinha previsto.

Ele jamais diria ante a aurora de um homem ainda ignorado: aqui está a glória e o porvir. O homem medíocre pode até mesmo ter talento,  mas a intuição lhe é vedada. Pode aprender, mas não prever. Por vezes ele admite alguma idéia, mas não a seguirá em suas últimas aplicações. E se lha apresenta em termos diferentes, ele não mais a reconhece e a rejeita. Se a palavra exagero não existisse, o  medíocre inventaria.

O homem medíocre pode ter estima para com pessoas virtuosas e de talento: ele tem medo e pavor dos santos e dos homens geniais. Ele os acha exagerados.

O homem que ama nunca é medíocre. O homem verdadeiramente  medíocre ama um pouco todas as coisas, mas não admira nada com calor. Ele prefere seus inimigos, se forem frios, a seus amigos, se forem quentes. Ele odeia o calor. O medíocre só possui uma paixão: o ódio ao Belo.

Toda afirmação parece-lhe insolente, pois que ela exclui a posição contrária. Ele finge dizer algo e não diz absolutamente nada. Há uma apreensão que permanece no medíocre ativo e em função: é o temor de se comprometer. Por isso exprime alguns pensamentos  tirados de M. de La Palisse com a reserva e a prudência de um homem que teme que suas palavras demasiadamente ousadas possam sacudir o mundo!

medíocre detesta os livros que o obrigam a refletir. Ele gosta dos livros que não estouram o seu molde, daqueles que já se conhece de cor antes de os ter lido. O medíocre declara que Jesus Cristo deveria ter se limitado a pregar a caridade e não fazer milagres. Ele detesta, aliás, ainda mais os milagres dos santos, sobretudo dos santos modernos. O temor que o medíocre tem das coisas superiores fá-lo dizer que ele estima antes de tudo o bom senso, mas ele não sabe o que é o bom senso. Ele entende por bom senso a negação de tudo quanto é grande.

medíocre pode muito bem ter esta coisa sem valor que nos salões se chama “esprit”, mas ele não poderá ter jamais esta forma de inteligência que é a faculdade de ler a idéia no fato. O homem inteligente levanta a cabeça para admirar e para adorar. O medíocre levanta a cabeça para debicar… O medíocre não acredita no demônio.. O medíocre lamenta que a Religião tenha dogmas. O medíocre é o mais frio e o mais feroz inimigo do homem genial. Opõe-lhe a força da inércia, que é uma resistência cruel.Ele não tem entusiasmo nem compaixão, pois estas duas coisas andam sempre juntas.

medíocre é muito mais perverso do que imagina, e do que os outros o imaginam, porque sua frieza vela sua perversidade. Vive comentando pequenas infâmias, que à força de serem pequenas não têm a aparência de serem infames. Aqueles que bajulam os preconceitos e os hábitos de seus contemporâneos são impelidos rumo ao sucesso; trata-se dos homens de seu tempo. Os que rejeitam os preconceitos e os costumes respiram de antemão o século vindouro, impelem os outros e vão rumo à glória… são os homens da Eternidade. Grandes são aqueles que se impõem aos homens em vez de sucumbir a eles.

medíocre  mostra aos homens a parte conhecida de si mesmo, enquanto o homem superior revela aos homens a arte que lhe é desconhecida. O homem superior desce ao fundo de nós, faz nossos pensamentos falarem e se torna mais íntimo conosco do que nós mesmos. Ele nos irrita e nos regozija ao mesmo tempo. Assim como alguém que nos acordasse para ir ver o nascer do sol.

O medíocre enquanto nos deixa onde estamos, nos inspira uma tranquilidade morta, que não é a calma. O homem superior sente melhor de que outrem a grandeza e a miséria humana. Ele acende em nós o amor do ser e lembra-nos sem trégua a consciência de nossa nada. O homem genial é superior ao que faz e o seu pensamento é superior à sua obra. O medíocre é inferior a tudo quanto executa. Sua obra não é fruto da realização de um pensamento. É o trabalho feito segundo certas regras. O homem de gênio considera sempre sua obra inacabada. O medíocre vive tomado pela sua obra: cheio de si mesmo, cheio de nada, cheio de vaidade! Este personagem cabe nestas duas palavras: frieza e vaidade. (Ernest Hello)

Este post tem 3 comentários

  1. Evandro lucio

    Conheço um site que tem uma galinha preta com dois espetos nos pés como símbolo, que tá cheio deste tipo de medíocre!

  2. Candeias

    Faço minhas as palavras do ERNEST HELLO:

    O medíocre vive tomado pela sua obra: cheio de si mesmo, cheio de nada, cheio de vaidade! Este personagem cabe nestas duas palavras: frieza e vaidade.

  3. Gustavo Francisco Bueno

    Muito boa matéria gostei !! Pessoalmente acho que na simplicidade é que existem as grandes obras sei também que o medíocre não tem alma e por isto sempre vive em constante conflito consigo mesmo: “homem hominis lúpus” o homem é o lobo do homem.

Os comentários estão encerrados.