Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
6 min — há 5 anos — Atualizado em: 12/19/2019, 5:42:48 PM
Nos próximos dias a Igreja vai comemorar diversas festas, cuja mensagem não é apenas extremamente forte, mas também excepcionalmente atual. Assim, teremos no dia 25 de dezembro o nascimento do Menino Jesus; no dia 26 o martírio de Santo Estevão; no dia 28 a matança dos Santos Inocentes, e no primeiro domingo depois do Natal a festa da Sagrada Família.
Dessas festas, a da Natividade de Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, sem dúvida é a mais importante. Seu nascimento marca também o início de uma nova fase na história da humanidade. É compreensível que o Cristianismo tenha dividido a História em tempo antes e depois de Cristo, expressando deste modo que toda a criação, incluindo tudo o que é terreno, está ordenado a Jesus Cristo. Todas as ações humanas têm Nosso Senhor como ponto de referência (Mt 12, 30; Mc 9, 40).
Deus Pai, Todo-Poderoso, Criador do Céu e da Terra, poderia ter disposto que seu Filho viesse ao mundo como adulto para pregar o Evangelho e salvar a humanidade decaída. Ele quis, porém, que Jesus nascesse em uma família como um bebê vulnerável, necessitado de proteção. O desígnio divino parece tão adequado hoje em dia, que a ideia de que poderia ter sido diferente parece quase blasfema.
Deste modo a Sagrada Família entra em nosso campo de visão: Jesus, Maria e José. Uma família composta pelo Filho de Deus, por sua Mãe e pelo protetor que Deus lhes destinou. Não é uma família qualquer. É a Sagrada Família, a família por excelência, modelo de todas as famílias, sagrada não apenas pela santidade ímpar de seus membros, mas também pelo fato de servir de exemplo para todas as famílias em todos os tempos e lugares.
Nela encontramos imensos contrastes, de nenhum modo exagerados, antes pelo contrário. Assim, conquanto muito inferior do ponto de vista sobrenatural ao Menino Jesus e a Nossa Senhora, São José era o chefe dessa família, embora Jesus fosse Deus encarnado e Maria sua verdadeira mãe. São José, embora carpinteiro, pertencia à mais alta linhagem judaica, à família real de Davi (São Lucas 2, 4; São Marcos 10, 47). Muitos teólogos e exegetas de renome são da opinião de que São José era então de jure o soberano legítimo da Palestina.
Embora Deus humanado, Jesus subordinou-se a seus pais e lhes obedeceu (São Lucas 2, 51). Pois Deus ama a tal ponto sua própria criação, que se conformou às leis que regem o matrimonio e a família.
Deus considerou proporcionado e adequado crescer durante nove meses no seio puríssimo da Virgem Maria, e depois de nascido, ser nutrido por Ela. Naturalmente falando, Maria é a mais baixa das três pessoas dessa família, pois Jesus Cristo é Deus, e São José, o chefe da família. Mas a maternidade divina eleva Maria à preeminência sobre todas as criaturas: “Porque olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada” (São Lucas 1, 48). A Igreja Católica venera Maria pelo fato de ser Mãe de Jesus, como Rainha do Céu e da Terra (cf. Papa Pio XII, encíclica Ad Caeli Reginam). Assim, na Sagrada Família, encontramos desigualdades que dificilmente poderiam ser mais extremas. No entanto, nenhuma pessoa razoável afirmaria que nela não existe harmonia.
Ao magno acontecimento de Belém, cerca de 2.000 anos atrás, seguiram-se implicações políticas, culturais e sociais. A família é o núcleo da sociedade. Mas a Sagrada Família é o núcleo da civilização cristã. A noite santa e feliz representou igualmente o nascimento da civilização cristã. Naquela noite começava um processo histórico que produziu todas as obras espirituais, intelectuais, sociais e materiais do Cristianismo ao longo de dois milênios. Com a Sagrada Família, cercada de pastores e acompanhada dos Reis Magos, o Cristianismo começa a se tornar uma realidade social e, portanto, também cultural e política. Todas as riquezas espirituais e morais que viriam à luz no curso da História já estavam presentes em germe na gruta de Belém.
Nesse sentido, Cristo nasce não apenas em uma família, mas em um contexto social criado pelo próprio Deus. Assim como hoje, esse núcleo cristão estava em nítido contraste com a sociedade então moralmente corrupta de adoradores de ídolos do paganismo antigo.
As duas festas dos dias subsequentes mostram bem que esse processo não se desenvolveu sem percalços: em 26 de dezembro — ou seja, no segundo dia de Natal, conforme se comemora na Alemanha —, a Cristandade celebra a memória do protomártir Santo Estevão. Ao longo da História, incontáveis cristãos seguirão a mesma via, massacrados pelos Neros, Robespierres, Stalins, Hitlers e, mais recentemente, pelo terrorismo islâmico. Jesus Cristo veio ao mundo para trazer a paz entre Deus e os homens, mas muitos destes não querem essa paz e, para evitá-la, estão dispostos a matar.
Dois dias depois, em 28 de dezembro, segue-se outro incidente sangrento: a matança dos Santos Inocentes. As circunstâncias deste assassinato em massa estão bem descritas no Evangelho. Herodes, o governante ilegal da Terra Santa, temeu perder o poder ao tomar conhecimento do nascimento de um rei. A fim de eliminar o futuro concorrente, ordenou o assassinato de todos os meninos de até dois anos de idade.
“O Massacre dos Santos Inocentes” (detalhe do quadro de Hans Memling, 1480) |
Assim Herodes tornou-se um modelo espantoso para todos aqueles que, por desejo de mando ou por cálculos políticos, atacam crianças moral ou fisicamente. É precursor dos que promovem a matança de crianças. O apoderamento das crianças por mero cálculo político é o denominador comum de todas as ideologias que surgiram no século XX.
No comunismo foram figuras como Margot Honecker que subordinaram a educação infantil inteiramente à criação do homem novo socialista. Hoje, políticos detentores do poder são os que atacam as almas inocentes nas escolas através da educação sexual e da ideologia de gênero. Embora não tirem a vida das crianças, tentam matar-lhes a inocência a fim de torná-las propagandistas de suas ideologias insanas.
No fundo, porém, todas essas festas litúrgicas da Igreja contêm uma estupenda mensagem de esperança: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade” (São Lucas 2, 14). Essa mensagem dos Anjos, dada no meio da noite aos pastores de Belém, é dirigida a todas as pessoas de boa vontade, encontrem-se elas num campo de concentração comunista em Cuba, na China ou na Coreia do Norte. E a todos os pais de família que no mundo inteiro defendem seus filhos das garras dos ideólogos de gênero.
Desejo a todos os leitores um Santo Natal e um feliz Ano Novo!
Fonte: http://mathias-von-gersdorff.blogspot.com
Título original: Weihnachten und die Heilige Familie
Tradução: Renato Murta de Vasconcelos
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