Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
4 min — há 9 anos — Atualizado em: 5/1/2017, 9:31:41 PM
Laurent Bouvet, pensador socialista e diretor do Observatoire de la Vie Politique (Ovipol) da Fondation Jean-Jaurès, pintou um deprimente quadro do Partido Socialista francês (PS), hoje no poder e praticamente a única opção viável para as esquerdas francesas.
Bouvet resumiu o seu balanço com uma frase lapidar: “O PS está moribundo, o partido de Épinay [Épinay-sur-Seine, localidade onde foi fundado] está morto”, registrou o jornal parisiense Le Figaro (Cfr.: Alexandre Devecchio, “Laurent Bouvet : «le PS est moribond, le parti d’Épinay est mort»“, 6/6/2015).
O tema interessa na América Latina pois o PS francês foi e continua sendo um grande patrocinador das esquerdas tupiniquins, intensamente unido ao lulopetismo e ao Foro de São Paulo.
Bouvet apontou como causas do desastre o desinteresse e a desconfiança do público em relação aos partidos políticos e aos jogos de lideranças partidárias, bem como a fraqueza dos militantes socialistas em se mobilizarem.
A própria estruturação do partido, que é o farol das esquerdas francesas, está em profunda crise. Ele deveria se renovar, mas todos brigam internamente pelo controle do aparelho partidário que se desfaz.
Pouco restou das promessas de socializar a economia, feitas pelo presidente Hollande, e quase nada se empreendeu no sentido socialista, deixando os militantes decepcionados.
Reformas como a do “casamento” homossexual, da educação sexual escolar, etc., levantaram uma onda de oposição que ameaça sepultar o partido para sempre.
Esses fenômenos provocaram resultados eleitorais catastróficos para o PS e o conjunto das esquerdas.
Embora faça concessões, Hollande, o presidente mais impopular da V Republica, não consegue reverter o desastroso panorama econômico, que multiplica a antipatia popular.
O PS fundado em Épinay visava trazer à política o espírito anárquico e emancipador de Maio de 68.
Ele chegou a conquistar a Presidência em 1981 com Mitterrand, mas logo abandonou a plataforma autogestionária que devia operar a ruptura com o regime de propriedade privada e livre iniciativa, eliminando o capitalismo, conforme prometia.
Ficou para o PS conduzir a “emancipação” da sociedade, leia-se a promoção dos “direitos” das minorias, como LGBT ou raciais.
O partido ficou lotado de representantes dessas minorias, concentradas nos centros urbanos. Porém, o povo abandonou-o e correu para a extrema-direita.
Hoje o projeto do PS gera dúvida e desordem entre os socialistas e o partido já avista uma catástrofe eleitoral nas próximas eleições presidenciais.
O pouco que subsiste após tantas derrotas será logo varrido por essas derrotas eleitorais, diz Bouvet, provocando pesadas deserções.
O eleitorado “progressista” não existe mais como pedestal político para relançar uma forca capaz de enfrentar a direita ou mesmo a extrema-direita, continua o especialista.
Trata-se de uma dissolução sociológica da base do partido. Ele devia se apoiar na juventude, na igualdade e na diversidade. Mas hoje está tomado pelas brigas dos velhos “elefantes”.
Fica pouco do partido original. O desejo de romper com o capitalismo através da socialização dos meios de produção, da propriedade coletiva e da intervenção maciça do Estado na economia, pertence à sua história, não ao presente.
O anti-racismo se esgotou. Quem se lembra do emblemático SOS Racismo?
O anti-racismo se revelou ineficaz e ficou como pretexto para favorecer a carreira burocrática de militantes das causas anti-racistas.
Porém, o PS ainda conserva “toda uma casta de guardiões do templo para quem o menor questionamento equivale a um ataque contra o dogma”. E a imprensa ri dessa cegueira.
Os líderes partidários, os responsáveis locais, as associações cidadãs que engrossam a periferia partidária não são mais capazes de entender a sociedade e de conversar com ela.
O anti-racismo virou um dogma totalmente ineficaz contra o racismo e sucumbe diante dos espectros anti-semitas e antimuçulmanos, que crescem renovados.
O governo ataca este e aquele intelectual, esquecendo-se de que a intelectualidade é um componente essencial da vida francesa, sobretudo nas esquerdas.
A independência de espírito e a liberdade de crítica estão encravadas na alma revolucionária desde o Iluminismo.
Mas quando algum intelectual se volta contra o partido, este o esmaga. E se suicida…
Os símbolos, a ideologia, as ideias, os militantes, os representantes eleitos, as redes sociais, isso formava o corpo do PS. Já não há mais nenhuma doutrina identificável no socialismo e as sedes do partido se esvaziam.
O partido nascido em Épinay está morto. E essas foram as suas causas. A atual estrutura do PS ainda boia, mas entrou em estado terminal sem sobressaltos. Sem um choque elétrico profundo não se vê como possa se reinventar, concluiu o pensador socialista.
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