Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
9 min — há 2 anos
Na Introdução do Tratado da Verdadeira Devoção, comenta o Prof. Plinio, podemos notar o aspecto estritamente teológico da obra, na qual São Luís Maria Grignion de Montfort analisa a devoção a Nossa Senhora, os meios de A honrarmos, de Lhe darmos graças pelos benefícios recebidos, etc.
Em segundo lugar, podemos destacar o papel de Nossa Senhora na luta contra o demônio e os inimigos da Igreja.
Hoje veremos:
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Retomemos o tópico 5: “Maria é a obra-prima por excelência do Altíssimo, cujo conhecimento e domínio Ele reservou para Si“.
Que belíssima noção! Maria Santíssima é tão grande que o próprio São Luís Grignion, que não é senão um seu pequeno menestrel, já é quase inesgotável quando fala d’Ela. Ele afirma ser Nossa Senhora tão enorme, tão colossal – e o que são estes adjetivos, que de longe Ela transcende? – que só Deus A conhece em toda a extensão das Suas perfeições. Nós não podemos sequer ter disto uma pálida idéia. Há n’Ela belezas, há culminâncias, há encantos, há perfeições, há excelências que escapam e sempre escaparão completamente ao nosso olhar, e que são somente por Deus contempladas.
Imaginemos esses universos, essas constelações imensas de estrelas, que o homem não conhece e possivelmente jamais conhecerá, e cujas belezas ficam reservadas à exclusiva contemplação de Deus. Assim é Maria Santíssima. Há n’Ela coisas que nunca homem nenhum conhecerá, reservadas que são ao conhecimento exclusivo de Deus Nosso Senhor. N’Ela há esta nota de incognoscibilidade: paramos extasiados a Seus pés, compreendendo, após ter compreendido muito, que o mais que se compreendeu é que quase nada compreendemos. Estamos sempre no Seu pórtico, um pórtico para nós demasiadamente grande, tal a Sua excelência.
Continuemos o tópico 5: “Maria é a Mãe admirável do Filho, a quem aprouve humilhá-La e ocultá-La durante a vida para Lhe favorecer a humildade, tratando-A de mulher – “mulier” (Jo 2, 4; 19, 26) – como a uma estrangeira, conquanto em Seu coração A estimasse e amasse mais que a todos os anjos e homens“. São Luís Grignion desenvolveu neste parágrafo a idéia de que, durante a vida, também Nosso Senhor A manteve ignorada; apenas Ele a conhecia.
“Maria é a `fonte selada’ (Ct 4, 12) e a esposa fiel do Espírito Santo, onde só Ele pode penetrar“. Retorna aqui a idéia de Nossa Senhora como criatura reservada ao conhecimento de Deus.
“Maria é o santuário, o repouso da Santíssima Trindade, em que Deus está mais magnífica e divinamente que em qualquer outro lugar do universo, sem excetuar seu trono sobre os querubins e serafins“. Sabemos que os Anjos da guarda ocupam os graus inferiores na hierarquia celeste. Tendo certa vez aparecido a uma santa o seu anjo da guarda, ela ajoelhou-se, pensando estar na presença do Altíssimo. A grandeza dos anjos é tal que, no Antigo Testamento, em várias aparições, os homens julgavam que fossem o próprio Deus. E no Céu há miríades de Anjos. Em que assombro ficaríamos, se os víssemos a todos e ao mesmo tempo! Nossa Senhora, contudo, está acima de todos eles reunidos. Assim, diante de Sua insondável alma, nós nos deparamos novamente com termos imperfeitos de comparação, e o melhor que podemos dizer é que são totalmente insuficientes.
“… e criatura alguma, pura que seja, pode aí penetrar sem um grande privilégio“. Existe, pois, uma categoria de criaturas privilegiadas que podem penetrar no conhecimento de Nossa Senhora. Essas criaturas privilegiadas – São Luís Grignion no-lo explica – são aquelas a quem Deus dá, por liberalidade, o dom que o comum das pessoas não têm, de conhecerem e praticarem a devoção a Nossa Senhora do modo especial por ele ensinado. E os “apóstolos dos últimos tempos”, de que ele nos fala, terão esse dom. Por isso serão terríveis no combate ao mal e eficacíssimos na defesa do bem. Serão almas elevadíssimas, que terão a graça de penetrar neste umbral da devoção a Nossa Senhora.
Outras qualidades de Maria Santíssima
Tópico 6: “Digo com os santos: Maria Santíssima é o paraíso terrestre do novo Adão“. O paraíso terrestre era de encantos, de delícias, de perfeições. São Luís Grignion diz que Nosso Senhor estava no ventre puríssimo de Maria Santíssima com a excelência e a perfeição com que Adão estava no paraíso; Nossa Senhora, durante a concepção, era o paraíso do novo Adão, Jesus Cristo.
Quando recebemos na comunhão este mesmo Jesus Cristo, acostumado que está a tais paraísos, perguntamo-nos: o que achará Ele da nossa hospitalidade? Oferecemos-Lhe ao menos – a Ele que condescende em descer à nossa choupana – o modestíssimo luxo de uma casa limpa?
“… no qual Este se encarnou por obra do Espírito Santo, para aí operar maravilhas incompreensíveis“. Nosso Senhor, durante a Sua vida em Maria Santíssima – e esta é uma belíssima idéia que São Luís Grignion desenvolverá mais tarde – quando Ela era o tabernáculo no qual Ele habitava, já aí operou maravilhas. São Luís Grignion compôs uma oração dirigida a Nosso Senhor enquanto vivendo em Maria Santíssima: “O Iesu, vivens in Maria“.
“… É o grande, o divino mundo de Deus, onde há belezas e tesouros inefáveis. É a magnificência de Deus, em que Ele escondeu, como em Seu seio, Seu Filho único, e n’Ele tudo que há de mais excelente e mais precioso. Oh! Que grandes coisas escondidas Deus todo-poderoso realizou nesta criatura admirável, di-lo Ela mesma, como obrigada, apesar de Sua humildade profunda: `Fecit mihi magna qui potens est’ (Lc 1, 49) “. O sentido inteiro deste canto do Magnificat, só o compreenderemos se considerarmos quem é Nossa Senhora. Realmente, é preciso lembrarmo-nos do poder de Deus, para compreender que Ele possa ter operado essas maravilhas que n’Ela operou.
“… O mundo desconhece estas coisas porque é inapto e indigno“. São Luís Grignion referiu-se a uma raça (no sentido teológico, e não biológico) misteriosa, à qual Deus concede o favor único de poder penetrar nos umbrais desta devoção. Ele nos fala agora de uma raça má, que por sua maldade, por sua impureza, por sua indignidade, detesta tudo isto. É o reverso da medalha.
Devoção a Nossa Senhora: característica da santidade
Tópico 7: “Os santos disseram coisas admiráveis desta cidade santa de Deus; e nunca foram tão eloqüentes nem mais felizes – eles o confessam – do que ao tomá-La como tema de suas palavras e de seus escritos“.
Este trecho evidencia-nos uma verdade muito importante. Não se deve pensar que a devoção a Nossa Senhora é um estilo de santidade inaugurado por São Luís Grignion ou levado por ele ao último grau de intensidade. A devoção especialíssima e intensíssima a Nossa Senhora é característica de todos os santos. Embora não se possa dizer que todos a tenham levado ao ponto a que a levou São Luís Grignion, estudando a vida de piedade de qualquer deles notamos sempre uma devoção ardentíssima a Ela, que é a dominante logo abaixo do culto a Deus Nosso Senhor.
Essa devoção, contudo, se reveste em cada um de aspectos particulares. É raro, neste sentido, encontrar algum santo que não tenha encontrado um aspecto novo de piedade em relação a Nossa Senhora. E não há um só que não conheça dever à intercessão d’Ela não só o seu progresso espiritual, mas até mesmo a sua perseverança. Todos passaram por duras provas espirituais, das quais se viram livres por uma intervenção especial d’Ela.
São Francisco de Sales, por exemplo, teve em sua juventude uma terrível crise, relativa ao problema de sua predestinação. Estudando o assunto, ficou como que tragado pelo abismo do problema, e foi duramente assediado pelo demônio, que lhe insuflava qua a predestinação não era para ele. Isto lhe causou uma tremenda depressão. Começou a emagrecer, a perder a saúde, nada havia que lhe restituísse a paz à alma. Certo dia, rezando diante de uma imagem de Nossa Senhora, pediu-Lhe que, ainda que tivesse que ir para o inferno, mesmo assim lhe fosse dado não ofender a Deus na Terra, pois o que o apavorava do inferno não era o tormento, mas a idéia de ofender eternamente a Deus. E recitava “Memorare, o piissima Virgo Maria“, que estava escrito embaixo da imagem. Ele mesmo nos conta que, logo após o término da oração, restabeleceu-se em sua alma uma paz admirável. Viu então claramente todo o jogo do demônio, de que estava sendo vítima, e recuperou aquela serenidade que viria a ser a nota dominante de toda a sua vida espiritual.
Encontramos na vida de todos os santos esta constante, de uma particular devoção a Nossa Senhora. Ela é, pois, uma característica segura da verdadeira piedade, e devemos absolutamente duvidar da santidade de alguém que não a possua.
Seria sofisma dizer algo que é especial para todos, por isso mesmo não o será para ninguém. Uma mãe de muitos filhos tem, para com cada um, carinho especial; e cada filho ama a própria mãe de um modo particular. Assim, devemos cada qual amar Nossa Senhora de maneira inteiramente própria, especial e inconfundível. Ela, por sua vez, terá para conosco um carinho que não será um carinho genérico, de quem dissesse: “toda aquela gente, eu a amo”; mas um carinho todo particular, que pousará sobre cada um de nós, individualmente considerados, como se só nós existíssemos na face da Terra.
Maria Santíssima é a Onipotência Suplicante
“…E depois, proclamam que é impossível perceber a altura dos Seus méritos, que Ela elevou até ao trono da Divindade; que a amplitude da Sua caridade, mais extensa que a Terra, não se pode medir; que está além de toda compreensão a grandeza do poder que Ela exerce sobre o próprio Deus“.
Por ser este Seu poder tão grande, que se exerce até sobre o próprio Deus, os teólogos têm-Na chamado de “onipotência suplicante”. Parece haver, à primeira vista, uma contradição nos termos, pois quem suplica, nada pode. Ela, porém, é de fato a onipotência suplicante, porque Sua súplica pode tudo sobre Aquele que é onipotente. Desta maneira Ela pode, na prática, absolutamente tudo.
Todo o exposto nesta introdução não nos deve ficar como tiradas piedosas e ocas. É preciso que fique compreensível, razoável, como tudo que brota da razão com base na Fé. Devemos encontrar nisto substancioso alimento; deve servir-nos de combustível, e não apenas de incenso.
Estas afirmações não devem ficar no vácuo. É preciso sabermos aplicá-las concretamente em nossa vida espiritual, nas dificuldades, nos problemas, nas lutas. É preciso lembrarmo-nos de que Nossa Senhora é a onipotência suplicante, e termos n’Ela uma confiança ilimitada. Mas nem sempre a temos tão arraigada no espírito quanto desejaríamos.
Imaginemos, por exemplo, que Deus apareça à nossa mãe terrena, e lhe dê a possibilidade de nos fazer todo o bem que quiser. Ficaríamos radiantes, evidentemente, pois tudo conseguiríamos facilmente. Ora, Nossa Senhora nos ama imensamente mais do que todas as mães terrenas reunidas amariam seu filho único. Por isso deveríamos ficar muito mais contentes em saber que Ela no Céu olha para nós, do que com a idéia de uma proteção eficacíssima de nossa mãe terrena.”
Fonte: https://www.pliniocorreadeoliveira.info/DIS_1951_comentariosaotratado01.htm#.Y7iVtnbMJjE
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Veja os Posts anteriores em nosso Site https://ipco.org.br/o-tratado-marial-de-sao-luis-grignion-i/]
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