Portal do IPCO
Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação
Logo do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira
Instituto

Plinio Corrêa de Oliveira

Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo

Progresso sem tradição: fator da guerra revolucionária

Por Plinio Corrêa de Oliveira

4 minhá 9 anos — Atualizado em: 5/1/2017, 9:31:37 PM


Folha de S. Paulo, 16 de abril de 1969

No discurso que o General Muricy pronunciou por ocasião de sua posse na chefia do Estado-Maior do Exército, chamou-me a atenção um trecho de ouro. Falando da “guerra revolucionária em que todos hoje nos empenhamos”, disse o orador: “Nessa luta – como um povo só é verdadeiramente dominado quando rompe com seu passado, com sua base cultural e social, com os fundamentos morais herdados dos seus maiores, e com sua base cultural e social, [com os fundamentos morais herdados dos seus maiores], e com sua formação espiritual, e como para os marxistas só é moral o que interessa à realização de seus propósitos – buscam os inimigos da democracia a destruição desses valores. Assistimos no momento à tentativa de destruição dos princípios morais, particularmente no seio da juventude, através de perigosas filosofias que exaltam o erótico e o perverso e procuram quebrar os laços que ligam os jovens ao seu passado e à sua família.

“No aspecto espiritual há forte atuação no sentido de confundir valores, levando a dúvida aos menos esclarecidos, pregando até o contra-senso de uma simbiose comuno-cristã, como solução ideal para os problemas sociais, solução a ser atingida mesmo através da violência. O comunismo é apresentado como solução para o levantamento do homem e para a sua defesa contra o que chamam de alienação”.

Estes conceitos merecem ser meditados por todo bom brasileiro. Dentre eles destacamos especialmente um. Como acabamos de ver, para o General Muricy, a ruptura de um povo com seu passado é obra ardilosa dos comunistas para reduzir esse mesmo povo à servidão. Em outros termos, a preservação da tradição é fator essencial da independência de todo o país.

Talvez a assertiva do distinto oficial choque muitos leitores, que não entendem bem o que é tradição. Vamos, para elucidá-los, citar um trecho lapidar de Pio XII. É o melhor comentário que as palavras do General Muricy comportam.

Começa o Pontífice por mostrar que a tradição não é estagnação: “Muitos espíritos, mesmo sinceros, imaginam e crêem que tal tradição não seja mais do que a lembrança, o pálido vestígio de um passado que não existe mais, que não pode voltar, e que quando muito é relegado com veneração, se se quiser, e com reconhecimento, à conservação de um museu, que poucos amadores ou amigos visitam. Se nisto consistisse e a isto se reduzisse a tradição, e se importasse em recusa ou desprezo do caminho do porvir, seria razoável negar-lhe o respeito e a honra, e seria para se olharem com compaixão os sonhadores do passado, retardatários em face ao presente e ao futuro, e com maior severidade aqueles que, movidos por intenções menos puras e respeitáveis, mais não são do que desertores dos deveres da hora que se mostra tão lutuosa”.

Mostra depois que, se o progresso é marcha para a frente, a tradição constitui um valor inapreciável nesta marcha; ela é o rumo: “Mas a tradição é coisa muito diversa de um simples apego a um passado já desaparecido, é justamente o contrário de uma reação que desconfie de todo são progresso. O próprio vocábulo, etimologicamente é sinônimo de caminho e marcha para a frente – sinonímia e não identidade. Com efeito, enquanto o progresso indica somente o fato de caminhar para a frente, passo após passo, procurando com o olhar um incerto porvir, a tradição indica também um caminho para a frente, mas um caminho contínuo, que se desenvolve ao mesmo tempo tranqüilo e vivaz, de acordo com as leis da vida, escapando à angustiosa alternativa: “Si jeunesse savait, si vieilleisse pouvait!”, semelhante aquele Senhor de Turenne, do qual foi dito: “teve em sua mocidade toda a prudência de uma idade avançada, e em uma idade avançada todo o vigor da juventude” (Fléchier, Oração Fúnebre, 1676)”.

Em seguida, ele acentua a profunda harmonia entre o verdadeiro progresso e a verdadeira tradição: “Por força da tradição, a juventude, iluminada e guiada pela experiência dos anciãos, avança com passo mais seguro, e a velhice transmite e consigna confiante o arado a mãos mais vigorosas, que continuam o sulco já iniciado. Como indica seu nome, a tradição é um dom que passa de geração em geração; é a tocha que o corredor a cada revezamento põe na mão e confia a outro corredor, sem que a corrida pare ou arrefeça de velocidade”.

E conclui, triunfalmente, que a tradição é indispensável ao progresso: “Tradição e progresso reciprocamente se completam com tanta harmonia que, assim como a tradição sem o progresso se contrariaria a si mesma, assim também o progresso sem a tradição seria um empreendimento temerário, um salto no escuro” (Discurso do Santo Padre Pio XII à Nobreza e ao Patriciado Romano, em 1944, publicado pelo “L’Osservatore Romano” em 20 de janeiro de 1944).

Um país que progrida velozmente e sem tradição é como um homem que anda rapidamente sem caminho e sem rumo! Quanto mais rápida a marcha, mais louca, mais extenuante. Por fim, o homem se depaupera, se extenua e cambaleia: então está no ponto de ser subjugado por qualquer salteador que o encontre.

No caso, o salteador é o comunismo… com a máscara de progressismo.

Detalhes do artigo

Autor

Plinio Corrêa de Oliveira

Plinio Corrêa de Oliveira

557 artigos

Homem de fé, de pensamento, de luta e de ação, Plinio Corrêa de Oliveira (1908-1995) foi o fundador da TFP brasileira. Nele se inspiraram diversas organizações em dezenas de países, nos cinco continentes, principalmente as Associações em Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), que formam hoje a mais vasta rede de associações de inspiração católica dedicadas a combater o processo revolucionário que investe contra a Civilização Cristã. Ao longo de quase todo o século XX, Plinio Corrêa de Oliveira defendeu o Papado, a Igreja e o Ocidente Cristão contra os totalitarismos nazista e comunista, contra a influência deletéria do "american way of life", contra o processo de "autodemolição" da Igreja e tantas outras tentativas de destruição da Civilização Cristã. Considerado um dos maiores pensadores católicos da atualidade, foi descrito pelo renomado professor italiano Roberto de Mattei como o "Cruzado do Século XX".

Categorias

Esse artigo não tem categoria

Tags

Comentários

Seja o primeiro a comentar!

Comentários

Seja o primeiro a comentar!

Tenha certeza de nunca perder um conteúdo importante!

Artigos relacionados