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Revelações da espionagem soviética estarrecem Letônia

Por Luis Dufaur

4 minhá 6 anos


Celas no quartel geral da KGB na capital da Letônia

A Letônia, um dos três países bâlticos que recuperaram a independência após a queda da União Soviética em 1991, se depara com um dos tantos dramas legados pela ditadura comunista. 

Em concreto, discute o que fazer com os malotes repletos de fichários pessoais deixados pela KGB, a polícia secreta soviética originalmente chamada de Checa, escreveu o “The New York Times”. 

Trata-se das fichas completas de 4.141 cidadãos da pequena república que teriam sido espiões ou informantes da KGB.

Sua função consistia em denunciar familiares, amigos, colegas de trabalho lhes atribuindo atividades anticomunistas. Tais denúncias poderiam lhes custar a vida, torturas ou sinistras prisões.

Por exemplo, Yuris Taskovs denunciou um vizinho que assistia pornografia alemã e que depois denunciou centenas de ativistas anti-Moscou. Taskovs está convencido de sua nojenta “façanha”: “durante 12 anos trabalhei para eles com grande entusiasmo”, como informante da KGB, disse.

Mas muitos outros denunciam que seus nomes, codinomes e datas de recrutamento que constam nos arquivos malditos estão falsamente inscritos. É o que diz, por exemplo, Rolands Tjarve, professor na Universidade da Letônia.

Por vezes, no sistema de denúncias generalizadas, aliás típico das ditaduras comunistas, os informantes ativos comunicavam ter recrutado novos “agentes” para marcar pontos ante seus chefes, mas era blefe.

Quartel geral da KGB em Riga escritório (esq.) e marcas de balas em sala de execuções (dir).

Durante a derrubada do sistema ditatorial socialista, as polícias secretas tentaram destruir esses comprometedores arquivos.

Para o comunismo, interessava resguardar a rede real, pois poderia servir para um futuro retorno do império soviético. Porém, os escritos poderiam revelar quem era quem em dita rede.

Na Letônia o índice sistemático de nomes reais e codinomes de mais de 4.000 agentes ou informantes foi recuperado de modo completo. Também sobrou um arquivo digital de atividades da KGB, conhecidas como Delta.

Revelar ou não revelar de público esses nomes é um drama. O Parlamento letão discute se o conteúdo das sacolas pode ser publicado na internet.

Muitos cidadãos teriam sido colaboradores ativos. Mas outros, incluídos nas listas, não seriam vítimas de ciladas da KGB para semear dissensão e perturbação social após a independência e de futuro retornar aproveitando a confusão assim gerada?

Os comunistas teriam instalados bombas de tempo de longa duração para usa-las numa futura reconquista russa da Letônia. Então as listas ‘envenenadas’ fariam parte de uma “operação de desinformação”.

Os nomes nas sacolas incluem um ex-primeiro-ministro, o presidente da Suprema Corte, um antigo ministro das Relações Exteriores, líderes das Igrejas Católica e Ortodoxa, reitores de universidade, cineastas e artistas de televisão.

A própria Mara Sprudja, diretora do arquivo nacional, que começou a publicar os arquivos na internet em dezembro levou um arrepelão quanto encontrou o nome de Andres Slapins, um cinegrafista letão morto a tiros por tropas soviéticas que atacaram ativistas pró-independência.

Quartel Geral da KGB contém fichas, falsas ou verdadeiras de 4,141 cidadãos letões

“Ele foi um herói. Como poderia ser um agente da KGB? Não faz sentido”, afirmou.

O poeta Rokpelnis, cujo nome não apareceu nas sacolas confessou ter sido recrutado em 1979, após ver seu pai humilhado por policiais soviéticos.

Então se ofereceu à KGB para garantir sua “proteção”. Hoje, está convertido ao cristianismo e deseja reparar os males feitos colaborando com um sistema que ele descreveu como “totalmente errado”.

Lidija Lasmane, veterana dissidente de 93 anos apontou para um problema moral de fundo: “como uma pessoa normal se torna um animal que trai amigos, familiares e o país?”

A filosofia gnóstica e igualitária socialista-comunista conseguiu introduzir essa deformação nas almas usando de terrível pressão, ameaçando carreiras profissionais e a vida dos parentes.

“Mas no final todo indivíduo faz a opção”, explicou Lasmane, que foi enviada três vezes a campos de prisioneiros soviéticos, incluindo um em Vorkuta, no temível arquipélago Gulag.

Nessa tremenda opção, escolher o bem exige forças morais especiais e uma sabedoria especialmente sobrenaturais.

É a hora de apelar à graça de Deus, que só a Igreja Católica dispensa pela mediação universal de Nossa Senhora.

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Luis Dufaur

Luis Dufaur

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Escritor, jornalista, conferencista de política internacional no Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, webmaster de diversos blogs.

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