Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
4 min — há 9 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 8:49:56 PM
Vivemos numa época de ateísmo teórico e prático que se alterna com uma religiosidade dulçurosa e sentimental, e as vezes ambos se confundem. Tanto o ateísmo como a religiosidade sentimental contribuem para a queda da moralidade e a caotização da sociedade.
Isso porque, para o ateísmo, não existe Deus e para a religiosidade sentimental, Ele não castiga. Portanto para ambos não existe um Juiz Supremo de nossas ações, que premia ou castiga, conforme nossas boas ou más ações.
Ora, sem que haja uma punição pela transgressão da lei – em relação a moral a lei de Deus, conhecida pela revelação ou pela lei natural impressa em nossos corações, esta perde seu sentido impositivo.
Mas, uma lei que não implica numa punição, caso seja transgredida, não é verdadeira lei; é apenas uma indicação, uma orientação, que podemos seguir ou não, a nosso bel prazer. A conseqüência disso é que a lei moral deixa de ter sentido, caindo por terra a própria noção de moralidade.
Daí a necessidade de um castigo, para que a lei moral obrigue de tal forma que mantenha vivo o senso moral, sem o qual a vida em sociedade se torna inviável.
Por outro lado, ao se transgredir a lei, ofende-se seu autor; no caso, o próprio Deus, e nisto consiste o pecado.
Embora o pecado já traga consigo uma punição aqui nesta terra, esse castigo tem um caráter medicinal, é uma forma despertar no homem o senso do bem e de abrir sua alma para a graça. Trata-se de um castigo misericordioso.
Uma vez, entretanto, chegado o momento derradeiro, em que a morte corta a possibilidade de uma volta atrás, se o homem rejeitar a derradeira graça e expirar no estado de revolta contra Deus, ele sela seu destino eterno. A misericórdia cede então o lugar à justiça divina, a qual aplaca a Majestade divina ofendida condenando o pecador impenitente ao inferno para sempre.
Estas verdades, que são confirmadas pelas Escrituras,[1] são de difícil compreensão para o homem moderno, que perdeu quase por completo a noção da justiça.
Se Deus não fosse justo, ele não seria perfeito e, portanto, não seria Deus. Por isso o profeta David exclama: “O Senhor é justo e ama a justiça” (Salmo 10:7). Por isso Ele não pode deixar que a ofensa feita à sua Divina Majestade fique impune.
Mas, pode-se objetar, Deus não é misericordioso, não deseja que o pecador se converta e se salve? (cf. Ezequiel 33:11).
Sim, e foi por isso que Nosso Senhor Jesus Cristo sofreu sua paixão e morte dolorosíssima; foi por isso que Ele fundou a sua Igreja e instituiu os sacramentos para nos comunicar sua graça e, em especial a Confissão, para perdoar nossos pecados arrependidos com o propósito de emenda.
Por sua misericórdia também Deus é paciente à espera de nossa conversão: “Senhor é compassivo e misericordioso: paciente e cheio de misericórdia” (Psalm 103:8).
Não se pode conceber, entretanto, a misericórdia como se ela aniquilasse a justiça como se Deus não se importasse com as ofensas, como um Buda insensível a nossas obras: “Dizer que Deus não pode sofrer é uma coisa, dizer que Deus é indiferente ao mal, é outra. A resposta de Deus face ao mal não é o sofrimento, mas a cólera, isto é, sua oposição ao mal.”[2]
Essa cólera divina, que não é separável de seu e misericórdia – por mais terrível que seja o castigo do inferno, ele ainda deveria ser maior – era bem compreendida nos tempos em que havia fé viva.
Por exemplo, o poeta Dante Alighiere (+ 1321), em sua imortal obra “A Divina Comédia” pôs os seguintes dizeres na porta do Inferno:
“Por mim se entra no reino das dores;
“por mim se chega ao padecer eterno;
“por mim se vai à condenada gente.
“Por amor à justiça, criou-me o Poder que tudo pode;
“pois que sou obra da Suma Sabedoria e do Amor Supremo. (Cant. III)
Eliminada, no entanto, a ideia de um castigo eterno, da existência do Inferno, como foi dito, se destrói a reverência pela lei divina, caindo-se no completo amoralismo. E o resultado é que os homens se transformam em feras, dando vazão a todos os seus caprichos, ambições e cóleras.
A vida em sociedade se degrada e, dessa forma, a frase absurda do filósofo existencialista francês Jean-Paul Sartre, de que “o inferno são os outros,” toma sentido, pois o mundo se transforma num verdadeiro Inferno.
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[1] Cf. por exemplo, Isaias 66:24; Mat. 25:46; 26:24; Marc. 9:43, 45, 47; João 3:36; Romanos 9:22; 1 Corinthians 6:10; Gálatas 5:21: Apocalipse 14:11; 19:3; 20:10 etc.
[2] Dieu est-il impassible?, http://theopedie.com/Dieu-est-il-impassible.html, retrieved 5/2/15.
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