Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
6 min — há 7 anos — Atualizado em: 10/9/2018, 9:43:56 PM
Mediante documento intitulado “Mensagem da 56ª Assembleia Geral da CNBB ao povo brasileiro” do dia 7 de abril, a entidade tomou posição sobre as próximas eleições. Durante a leitura tive uma surpresa e me veio à mente, nem sei por que, título de artigo do prof. Plinio Corrêa de Oliveira, publicado em Catolicismo, abril de 1964: “Pensando, criticando, matizando, e esperando na borrasca do século 20”. Sempre gostei da frase, reflete postura séria e proveitosa do espírito; diante de qualquer assunto, refletir, analisar, confrontar. E só então agir.
É o que pretendo fazer com o importante documento da entidade que congrega os bispos do Brasil. No geral, uma borrasca, mas há uma fresta de luz no meio. Verão abaixo o motivo da surpresa.
No seu primeiro ponto, o documento episcopal traz forte condenação do aborto; de outra forma é advertência contra candidatos que o propugnem: “[Bispos católicos do Brasil] preocupados com a defesa integral da vida”. Não é novo, a CNBB sempre se manifestou louvavelmente contra o aborto provocado e demais medidas que são assassinas ou favorecem o assassinato.
O texto coloca ênfase na construção do bem comum. Cinco vezes ali aparece a expressão. Em si, normal, até imprescindível em documento dessa índole. Infelizmente, em muitas das posições abaixo analisadas, ele foi desconsiderado, para dizer o mínimo. Assim o definiu João XXIII na “Mater et Magistra”: “o conjunto das condições sociais que permitem e favorecem nos homens o desenvolvimento integral da personalidade”. Simples e denso.
O desenvolvimento inteiro da personalidade, objetivo do bem comum (e do Estado) se faz bafejando liberdades naturais cujo desabrocho enérgico é o único fator que pode efetivamente gerar uma sociedade protetora dos direitos humanos, dessa forma harmonicamente desigual. Se quisermos, proporcionadamente desigual. Neste contexto, o aumento das desigualdades em todos os âmbitos da vida é bem a ser desejado. E se torna claramente contrária ao bem comum a sociedade igualitária.
Com harmonia, proporção, razoabilidade, quanto mais desiguais os homens, nos mais diferentes domínios, mais rica de valores e bens será a sociedade, e assim mais perfeitos e felizes seus componentes. A CNBB aqui, fiel a seu longo passado de subserviência ardente ao ideário petista, propugna como objetivo “a construção de um país justo, ético e igualitário”. Justo e ético, no caso quase uma redundância, está bem. Igualitário? Os bispos se esqueceram de nomear como objetivo — num país outrora intitulado de Terra da Santa Cruz —, que seja verdadeiramente cristão, fiel às suas origens.
Ainda a deplorável contumácia na posição da companheira de viagem do petismo, cujos setores decisivos sempre foram furibundamente favoráveis ao aborto e a medidas contrárias à família, agora especialmente a ideologia de gênero: “A carência de políticas públicas consistentes no país está na raiz de graves questões sociais, como o aumento do desemprego e da violência”. Todos sabem, é o que afirma falaciosamente o PT e assemelhados.
O aumento do desemprego tem raiz, mais proximamente, no intervencionismo estatal amalucado do governo Dilma Rousseff, que afundou o Brasil. Mais longinquamente, em boa medida na opressão coletivista que impede o desabrochar da liberdade natural de empreender, protegida pela garantia ao direito de propriedade e à livre iniciativa. Houvesse mais respeito ao princípio de subsidiariedade, menores seriam o desemprego e menos agressiva a violência.
Continua o documento na trilha esquerdista: “A perda de direitos e de conquistas sociais, resultado de uma economia que submete a política aos interesses do mercado, tem aumentado o número de pobres”. Nem vou comentar. Os Estados Unidos, despreocupados com as tais conquistas sociais, é o paraíso terreno sonhado pelos pobres de países, verdadeiros infernos sociais, lotados das tais conquistas, como Cuba, Venezuela, Nicarágua. É triste, mas a CNBB, queira ou não, trabalha para que o Brasil tenha destino semelhante a eles. De passagem, conquista social, expressão enganosa, virou mantra político. Serve para tudo, significa nada de sério.
Agora, a surpresa. Para as eleições, a CNBB defende fazer valer “a Lei 135/2010, conhecida como ‘Lei da Ficha Limpa’, que torna inelegível quem tenha sido condenado em decisão proferida por órgão colegiado”. Lula virou ficha-suja. A CNBB aqui advoga claramente medida que o coloca fora das próximas eleições. Sabia que estava causando uma trombada na agitação petista. Pelo histórico deprimente, sempre alinhada com as últimas demagogias esquerdistas, não era de esperar. Já é alguma coisa, um golinho d’água para quem está sedento.
Convém notar que a atitude acima vai na linha do que dias atrás mandou divulgar dom Odilo Scherer sobre a pantomina (oficialmente, ato ecumênico) pró-petista de dom Angélico Sândalo Bernardino [foto ao lado] em frente do Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo: “Sobre o ato religioso realizado ontem na frente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a assessoria de imprensa da Arquidiocese de São Paulo esclarece que: 1. Não se tratou de Missa, mas de um ato ecumênico; 2. Foi iniciativa pessoal de quem promoveu o ato; 3. Não houve participação da CNBB nem da arquidiocese de São Paulo; 4. O ato aconteceu fora da jurisdição e responsabilidade do arcebispo e da arquidiocese de São Paulo; O arcebispo de São Paulo lamenta a instrumentalização política do ato religioso”.
Aliás, não é a primeira vez que dom Odilo Scherer sai publicamente contra setores extremados episcopais, ligados à CNBB. Em 22 de junho de 2017, a CNBB defendeu o CIMI, de orientação muito conhecida, em disputa que aqui não vou relatar (está relatada no meu artigo ‘A CNBB, mais uma vez, agrava a exclusão social’, 25-6-2017). Dizia o documento da entidade episcopal: “Tenha-se em conta ainda que as proposições da CPI se inserem no mesmo contexto de reformas propostas pelo governo, especialmente as trabalhista e previdenciária, privilegiando o capital em detrimento dos avanços sociais. Tais mudanças apontam para o caminho da exclusão social”.
Na ocasião, o cardeal-arcebispo de São Paulo de público deixou ver o desacordo com a CNBB: “Penso que de toda maneira há necessidade de reformas tanto na lei trabalhista como na lei da Previdência. Sim, acho que é necessário fazê-las e fazê-las bem”. Parece, o Purpurado não está só entre seus pares.
Concluo. Exausto de esperar, qual lamparina com paviozinho bruxuleante na borrasca, como católico filho espiritual do Episcopado, ainda tento entrever uma migração célere — cada vez menos provável — rumo a posições como as do Cardeal Jószef Mindzenty, antigo Primaz da Hungria. Rezo para que aconteçam; entrementes, sigo o que julgo dever, de forma matizada expressar, com respeito, desvios demolidores.
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