Denis Lerrer Rosenfield
Não se preocupem, não enlouqueci! Para quem quiser compreender o “abril vermelho” do MST e da CPT é altamente recomendável a leitura da Revista Sem Terra de fevereiro-março deste ano. Na capa, uma manchete para homenagear Marighella como herói nacional, além de elogios à revolução socialista de Chávez e dos irmãos Castro, com críticas veementes ao agronegócio e ao “latifúndio da mídia”.
A matéria central versa sobre o sentido de ser, hoje, “marighellista”. Para os mais jovens, convém lembrar que Marighella foi um comunista que lutou para implementar o comunismo no Brasil, tendo como modelo a ex-União Soviética. Por discordar da linha do PCB, contrário à luta armada, fundou a sua própria organização, a Ação Libertadora Nacional (ALN), partindo para o que se denominava, então, de guerrilha urbana. Era um stalinista, e não um partidário da democracia, como os seus partidários procuram apresentá-lo atualmente. Foi morto pelos militares em 1969, tendo o seu projeto sido, dessa maneira, abortado.
Ora, esse indivíduo, com tal curriculum, que mais se assemelha a uma folha corrida, é apresentado pelos invasores como um partidário da democracia. “Marighella não vive no retrato na parede nem nas lembranças que guardamos. Vive nos ensinamentos e atitudes que conformaram nossa herança.”
O problema reside precisamente aqui, nessa herança que o MST e a CPT procuram resgatar como “nossa”, a saber, a herança comunista, socialista, da qual não pretendem abdicar. Ao contrário, procuram nos impô-la, mudando o sentido mesmo das palavras. Os nomes mudaram, porém os significados permanecem. Agora, quando ouvimos falar de “solidariedade” e “justiça”, palavras proclamadas pelos ditos movimentos sociais, somos como que compelidos pela simpatia, quando, na verdade, estamos sendo literalmente enganados.
Fonte: O Estado de S. Paulo