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12/06 – São João De Sahagún, Mártir

São João de Sahagún, pregador espanhol do século XV, dedicou-se à palavra divina e à luta contra os vícios de sua época. Dotado de inteligência e talento para a pregação, destacou-se em Salamanca. Além de ser um religioso agostiniano, teve êxtases na celebração da Missa. Realizou milagres, pacificou Salamanca e enfrentou perigos, sendo vítima de um envenenamento fatal em 11 de junho de 1479, aos 49 anos.

Por Instituto Plinio Corrêa de Oliveira

6 minhá 2 anos — Atualizado em: 6/12/2024, 11:28:28 AM


12/06 – São João De Sahagún, Mártir

São João de Sahagún

Hoje apresentamos a vida de outro santo desconhecido no Brasil. Entretanto, foi dos maiores pregadores de um país de grandes pregadores como é a Espanha. Seu exemplo nos mostra como os ministros da palavra divina devem estar dispostos a morrer antes que a pactuar com os crimes e os vícios da época em que vivem.

Sahagún, antigamente São Facundo, no Caminho de São Tiago de Compostela, é uma cidade da província de Leão. Ela nasceu nos arredores de um mosteiro beneditino consagrado aos Santos mártires Facundo e Primitivo. O que leva a pensar que seu nome surgiu de uma abreviação e variação do nome San Fagun.

A glória de Sahagún está em ter o mártir São Fernando tingido de sangue as águas do rio Cea no tempo dos romanos. Outra de suas glórias é  a de ser também a pátria de João Gonzalez de Castrilho, que passará para a História da Igreja como São João de Sahagún ou de São Facundo.

Seu pai e homônimo, “cristão velho” e fidalgo “pelos quatro costados”, vivia na corte do rei D. João II, e se notabilizara na batalha de Hiqueruela contra os mouros, sob o comando do condestável Álvaro de Luna.

João nasceu na festa de São João Batista, 24 de junho de 1430, sendo o mais velho de sete filhos de D. João e de Da. Sancha Martinez. Estudou letras e humanidades no Real Mosteiro de São Bento de sua cidade. Como era dotado de boa inteligência, saiu muito avantajado nos estudos.

Na adolescência foi apresentado por um tio ao arcebispo de Burgos, D. Alonso de Cartagena, antigo rabino sinceramente convertido em príncipe da Igreja, homem virtuoso, de vasto saber, que logo se encantou com as qualidades de João Gonzalez. D. Alonso ordenou-o sacerdote, nomeou-o cônego da catedral, e lhe concedeu outros benefícios. Mas o jovem levita, renunciando a tudo, dedicou-se à pregação, à cura das almas, e aos estudos na pequena igreja de Santa Águeda.

Morto D. Alonso em 1456, o Pe. João trasladou-se para Salamanca para estudar direito canônico em sua célebre universidade. Ao mesmo tempo exercia sua atividade pastoral em uma capela da cidade.

No princípio de sua carreira, por causa de sua humildade, poucos notaram as qualidades desse jovem sacerdote. Mas um dia o convidaram a fazer um sermão em honra de São Sebastião, patrono do colégio de São Bartolomeu. O Pe. João agradou tanto, que foi eleito para essa casa, tornando-se também muito popular na cidade. Uma vez formado em direito canônico, lecionou Sagrada Escritura no mesmo colégio.

Entretanto, um cálculo renal tornou necessária dolorosa operação que, naquela época, podia pôr em risco a vida do paciente. Diante dessa perspectiva, o Pe. João prometeu a Deus que, se saísse ileso da operação, tornar-se-ia religioso. Eis o que ele mesmo diz que ocorreu então: “O que se passou aquela noite entre Deus e minha alma, só Ele sabe; e, logo de manhã, fui [ao convento de] Santo Agostinho, creio que por iluminação do Espírito Santo, e recebi o hábito da Ordem”, tornando-se religioso agostiniano.

Muito devoto da Eucaristia, o novo religioso não podia ser menos do Santo Sacrifício do Altar. Tinha tais êxtases na celebração da Missa, que esta não tinha fim. O que fez com que o Superior lhe ordenasse que fosse mais breve.

Frei João, confuso, comunicou-lhe então o que se passava entre ele e Nosso Senhor durante o Santo Sacrifício: Jesus Cristo aparecia-lhe frequentemente, fulgurante como um sol, e lhe fazia as mais altas revelações. “Eu vos digo – declarou o Superior a seus frades –, que tais e tantos segredos me disse, que via que eu desfalecia; pensei cair morto por terra com o muito terror que se me apoderou”. A partir de então não puseram mais limite de tempo ao santo quando celebrava.

Mas a grande missão de São João de Sahagún foi a pregação. Falava tão bem e tão pateticamente, que em Salamanca se dizia: “Vamos ouvir o frade gracioso”. Entretanto, fustigava os vícios, as modas extravagantes, a licenciosidade de costumes e as injustiças que via na cidade. Por isso várias vezes foi vítima de atentados. Pois não poupava nem amigos nem pessoas elevadas em dignidade quando se tratava de apontar alguma irregularidade: “Fazer de outro modo, dizia, é vender a consciência, trair o Crucifixo, e fazer, por assim dizer, moeda falsa em matéria de religião”.

Frei João era de tal modo dotado do poder de penetrar os segredos de consciência, que no confessionário não era fácil enganá-lo. E aqueles que queriam fazer apenas uma confissão de rotina, eram obrigados a fazê-la bem. Insistia na necessidade do firme propósito para que fosse boa a confissão. Era, entretanto, muito discreto e misericordioso com os pecadores, por isso muito procurado pelos fiéis.

Deus Nosso Senhor cercou a vida de São João de Sahagún com vários fatos milagrosos. Assim, um dia seu irmão D. Martim de Castrilhos o chamou aflito, porque uma filha acabava de falecer. Frei João, ao chegar à sua casa, disse alegremente a seu irmão: “Por que choras? A menina desmaiou, e pensam que morreu”. Tomando-a pela mão, entregou-a com vida à mãe.

Um dos maiores feitos de São João de Sahagún foi a pacificação de Salamanca, que estava sendo devastada por uma guerra de famílias havia quarenta anos. Dois partidos dividiam a cidade, e não havia dia em que o sangue não corresse com abundância. O pior é que nem mesmo os magistrados e a autoridade real eram respeitados. Cometiam-se homicídios mesmo nos lugares de asilo, e matava-se até ao pé dos altares.

São João de Sahagún não omitiu nada para reunir os dois partidos opostos, e fazer cessar o espírito de vingança que os animava. Tudo empregou, tanto no confessionário quanto no púlpito, nas ruas e até em frente às casas dos litigantes para fazer cessar esse flagelo.

Um dia, quando pregava contra essas desordens na igreja lotada, começou um murmúrio de desagrado no templo, e alguns puseram mão à espada. O Santo interrompeu então o sermão e, com tom de profeta, disse que cairia morto o primeiro que a empunhasse. Um dos senhores mais responsáveis pelo litígio quis desafiar o pregador, e caiu fulminado. Esse castigo tão súbito, tão público, e tão milagroso, foi de tanto efeito, que operou a difícil reconciliação. Pelo que João de Sahagún recebeu na cidade o título de “El Pacificador”.

Havia em Salamanca um senhor da alta nobreza que levava vida muito escandalosa com uma mulher também de qualidade. E ninguém ousava repreendê-los. São João, entretanto, tomou a liberdade de lhes mostrar o estado pecaminoso em que viviam, e o escândalo que davam à cidade. E os ameaçou com o castigo divino. Suas palavras e admoestações causaram profundo efeito sobre o nobre que, arrependido, rompeu a ligação ilícita em que vivia. O mesmo, entretanto, não ocorreu com sua concubina, que jurou vingar-se. Não se sabe por que meios conseguiu pôr um veneno lento, mas mortal, num alimento que Frei João ia tomar. A conseqüência foi um lento e doloroso deperecimento do Santo. Sofrendo tudo com paciência admirável, no dia 11 de junho de 1479 ele entregou sua alma a Deus aos 49 anos de idade.

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