Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
6 min — há 9 anos
A Rússia não só não dispõe dos recursos necessários para realizar o sonho imperial de Vladimir Putin – que já foi o da ex-URSS –, como carece dos meios para se sustentar em prazo médio.
Nessa contingência, nada poderia haver de melhor para o dono do Kremlin do que a Europa ser devorada por atritos internos – sociais culturais e religiosos – mais ou menos insolúveis.
Esta interrogação não implica que Putin inventou as causas da migração em massa.
Mas leva a perguntar se ele não as está exacerbando com vistas a debilitar – e quiçá, no futuro, submeter – o continente europeu, com mais um engenhoso estratagema de guerra híbrida.
Pela Europa Central – Ucrânia, Países Bálticos, Polônia – não deu certo. Era necessário outro frente e outras vestes. Pois não poderiam ser de novo os “homens de verde” que ocuparam a península da Crimeia. Isso já é conhecido demais.
O Kremlin precisava de uma outra estratagema de desconcertar os “quadrados” ocidentais. No contato pessoal com amigos russos de Moscou fiquei surpreso e muito agradado, constatando que o russo sob certos pontos de vista – não todos – é muito parecido com o latino-americano e com o brasileiro em especial.
Eu me dizia a mim mesmo: “estou falando com brasileiros!”. Mas, logo depois, a língua e certas saídas psicológicas me levavam a outra conclusão.
Numa coisa somos quase idênticos: a capacidade infinita de improvisar. De criar um jogo diverso que desconcerta o adversário, e até jeitosamente.
Resumindo, quando aconteceu a entrada súbita do exército russo no conflito sírio os sisudos analistas de Berlim, Londres e Nova York ficaram tecendo hipóteses no ar, aparentemente muito lógicas, mas enormes torres Eiffel do pensamento construídas nas nuvens.
Depois de alguns dias, começaram a chegar as notícias de que a entrada russa no conflito foi de um modo que não contribui para dar a vitória a facção alguma em luta. Depois apareceu caotizando essa luta. Caos esse que estimula ainda mais os sofridos cidadãos da Síria a fugirem para a Europa.
Pelos menos quatro mísseis disparados do Mar Cáspio pela Rússia contra território sírio, caíram no Irã, que na teoria é aliado de Moscou na defesa do regime de Bashar al-Assad, noticiou o jornal parisiense “Le Figaro”.
A Rússia diz que sustenta ofensivas do regime de Bashar al-Assad em várias frentes contra o execrável Estado Islâmico.
Mas, eis que seus bombardeios aéreos visam grupos moderados de oposição ao regime de Damasco e provocam a morte de civis alheios ao conflito, segundo a agência Euronews.
Além do mais, o procedimento militar russo visa objetivos que não são os declarados oficialmente.
“Vemos que a Rússia está testando na Síria algumas de suas armas mais modernas”, além de realizar uma impressionante movimentação militar, disse osecretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, em entrevista coletiva na sede da Aliança Atlântica, noticiou o site Terra.
Tinha escrito que o atabalhoamento da ação russa violando o espaço aéreo dos vizinhos pode provocar acidentes ou atritos com as forças ocidentais. E isso só favoreceria a confusão e a ampliação do conflito.
Não demorou muito e um caça turco derrubou um caça-bombardeiro russo com toda a tensão que se seguiu e ainda promete render.
Tinha registrado para publicar neste blog que o secretário-geral da OTAN também havia condenado a “violação inaceitável do espaço aéreo turco” por parte de aeronaves de guerra russas. Ele havia acrescentado que “as ações da Rússia não contribuem para a segurança e a estabilidade da região”.
Poucos dias depois, a derrubada do caça-bombardeiro Sukhoi-24 russo pela aviação turca veio aumentar a tensão com a NATO. Também permitiu ao Kremlin “justificar” ante a opinião pública russa um maior engajamento na Síria.
Jens Stoltenberg também havia sublinhado: “A Rússia não tem como alvo o Estado Islâmico, está atacando a oposição síria e civis.”
Mais de 40 grupos insurgentes sírios, incluindo a influente facção islâmica Ahrar al-Sham, pediram aos países da região que formem uma aliança contra a Rússia e o Irã na guerra síria. Velhos jatos iranianos – de fabricação americana – foram filmados dando cobertura a bombardeiros russos ainda mais velhos sobre a Síria
A Rússia se gaba de ter acertado alvos do Estado Islâmico, sem nada de decisivo que compense a confusão introduzida.
Dessa maneira, o conflito do Oriente Médio não caminha para uma solução, mas para um tumulto maior. E, em consequência, mais êxodo de cidadãos para a Europa.
Resumindo este longo post: essa confusão parece montada por uma mentalidade russa no que ela tem de parecido com a brasileira.
A defesa do Ocidente está sendo driblada, ponto por ponto por um adversário que avança gingando deixando atrás um e outro.
E, isso sim, a mudança surpreendente de fronte e nomes está de acordo com os métodos de “guerra híbrida” pregados pelos estrategistas do Kremlin para pôr de joelhos os adversários sem necessidade de recorrer a grandes investimentos militares.
A guerra híbrida “é uma combinação de meios e instrumentos, do previsível e do imprevisível. Não há fronteiras entre o legal e o ilegal, entre a violência e a não violência.
“Não há uma distinção real entre guerra e paz”, explicou Félix Arteaga, pesquisador de Segurança e Defesa do Real Instituto Elcano, da Espanha.
“É a guerra de Putin”. Ver “A guerra híbrida do século XXI: sem fronteiras entre o legal e o ilegal”, jornal “El País” edição Brasil.
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