O histórico dia 22 de abril de 1500 estava nos planos de Deus para ser a data do nascimento de um país-continente, que imaginaram ser uma ilha — donde o primeiro nome de nossa Pátria: Ilha de Vera Cruz. Depois, Terra de Vera Cruz e mais tarde adequadamente denominado Terra de Santa Cruz.
Estava atingida a meta da viagem ultramarina — incentivada pelo Rei Dom Manuel I, “O Venturoso” — com a descoberta pelos heróicos portugueses sob o comando do fidalgo Pedro Alvares Cabral. Eles aqui aportaram, no período pascal, com suas caravelas ostentando os estandartes da Ordem de Cristo.
Mais de três séculos antes, numa visão que Nosso Senhor Jesus Cristo concedeu ao primeiro Rei de Portugal, Dom Afonso Henriques (1109 – 1185) — o “Rei Fundador”, também cognominado “O Conquistador” — foi revelada a grandeza da missão da nação lusitana com a expansão marítima, a dilatação da Fé Católica pelo mundo e o descobrimento do Brasil, selado com a celebração da Primeira Missa na “Ilha” no dia 26 de abril, pelo franciscano Frei Henrique de Coimbra.

Para marcar esse portentoso acontecimento de exatos 525 atrás, transcrevo trechos de um discurso antológico.* Ele foi proferido por Plinio Corrêa de Oliveira, no encerramento do IV Congresso Eucarístico Nacional, no dia 7 de setembro de 1942, no Vale do Anhangabaú (capital paulista), para uma multidão de mais de meio-milhão de pessoas [foto abaixo].
Seguem alguns trechos desse memorável discurso do Prof. Plinio sobre a grandiosa vocação do povo brasileiro.

O grande celeiro da Igreja e da Civilização
“No curso já quatro vezes secular da História do Brasil, jamais se reuniu assembleia mais solene e ilustre que esta. No momento em que a vida nacional caminha para rumos definitivos, quis a Divina Providência reunir em pleno coração de São Paulo os elementos representativos de tudo quanto fomos e somos, de todas as glórias de nosso passado e de nossas melhores esperanças para o futuro. […]
Senhores, é hoje o dia 7 de setembro. A data é expressiva, e estou absolutamente certo de que um imenso clamor se levantará neste glorioso dia, transpondo os limites do Estado e do País, para notificar ao mundo inteiro que, como um só homem, o Brasil se ergue contra o imperialismo nazista pagão que trama sua ruína e parece ter chamado a si, exatamente como seu sósia vermelho de Moscou, a diabólica empreitada de destruir a Igreja em todo o mundo.
Contra os inimigos da Pátria que estremecemos, e de Cristo que adoramos, os católicos brasileiros saberão mostrar sempre uma invencível resistência. Loucos e temerários! Mais fácil vos seria arrancar de nosso céu o Cruzeiro do Sul, do que arrancar a soberania e a Fé a um povo fiel a Cristo, e que colocará sempre seu mais alto título de ufania em uma adesão filialmente obediente e entusiasticamente vigorosa à Cátedra de São Pedro. […]

Talvez não fosse ousado afirmar que Deus colocou os povos de sua eleição em panoramas adequados à realização dos grandes destinos a que os chama. E não há quem, viajando por nosso Brasil, não experimente a confusa impressão de que Deus destinou para teatro de grandes feitos este País, cujas montanhas trágicas e misteriosas penedias parecem convidar o homem às supremas afoitezas do heroísmo cristão, cujas verdejantes planícies parecem querer inspirar o surto de novas escolas artísticas e literárias, de novas formas e tipos de belezas, e na orla de cujo litoral os mares parecem cantar a glória futura de um dos maiores povos da Terra.

Quando nosso poeta cantava que “nossa terra tem palmeiras onde canta o sabiá, e as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá”, percebeu, talvez confusamente, que a Providência depositou na natureza brasileira a promessa de um porvir igual ao dos maiores povos da Terra.
E hoje, que o Brasil emerge de sua adolescência para a maturidade, e titubeia nas mãos da velha Europa o cetro da cultura cristã que o totalitarismo quereria destruir, aos olhos de todos se patenteia que os países católicos da América são na realidade o grande celeiro da Igreja e da Civilização, o terreno fecundo onde poderão reflorir, com brilho maior do que nunca, as plantas que a barbárie devasta no velho mundo. A América inteira é uma constelação de povos irmãos. Nessa constelação, inútil é dizer que as dimensões materiais do Brasil são uma figura da magnitude de seu papel providencial.
Tempo houve em que a História do mundo se pôde intitular “Gesta Dei per Francos”. Dia virá em que se escreverá “Gesta Dei per brasilienses” — as ações de Deus pelos brasileiros.
A missão providencial do Brasil consiste em crescer dentro de suas próprias fronteiras, em desdobrar aqui os esplendores de uma civilização genuinamente católica, apostólica, romana, e em iluminar amorosamente todo o mundo com o facho desta grande luz, que será verdadeiramente o “lumen Christ” que a Igreja irradia. Nossa índole meiga e hospitaleira, a pluralidade das raças que aqui vivem em fraternal harmonia, o concurso providencial dos imigrantes que tão intimamente se inseriram na vida nacional, e mais do que tudo as normas do Santo Evangelho, jamais farão de nossos anseios de grandeza um pretexto para jacobinismos tacanhos, para racismos estultos, para imperialismos criminosos. Se algum dia o Brasil for grande, sê-lo-á para bem do mundo inteiro.
Sejam entre vós os que governam como os que obedecem”, diz o Redentor. O Brasil não será grande pela conquista, mas pela Fé; não será rico pelo dinheiro tanto quanto pela generosidade. Realmente, se soubermos ser fiéis à Roma dos Papas, poderá nossa cidade ser uma nova Jerusalém, de beleza perfeita, honra, glória e gáudio do mundo inteiro. […]

então com 34 anos, discursa
na sessão de encerramento do
Congresso Eucarístico de 1942.
Em um Brasil imensamente rico, vereis florescer um povo imensamente rico, vereis florescer um povo imensamente grande, porque dele se poderá dizer:
Bem-aventurado este povo sóbrio e desapegado, no esplendor embora de sua riqueza, porque dele é o reino dos Céus.
Bem-aventurado este povo generoso e acolhedor, que ama a paz mais do que as riquezas, porque ele possui a Terra.
Bem-aventurado este povo de coração sensível ao amor e às dores do Homem-Deus, às dores e ao amor de seu próximo, porque nisto mesmo encontrará sua consolação.
Bem-aventurado este povo varonil e forte, intrépido e corajoso, faminto e sedento das virtudes heroicas e totais, porque será saciado em seu apetite de santidade e grandeza sobrenatural.
Bem-aventurado este povo misericordioso, porque ele alcançará misericórdia.
Bem-aventurado este povo casto e limpo de coração, bem aventurada a inviolável pureza de suas famílias cristãs, porque verá a Deus.
Bem-aventurado este povo pacífico, de idealismo limpo de jacobismos e racismos, porque será chamado filho de Deus.
Bem-aventurado este povo que leva seu amor à Igreja a ponto de lutar e sofrer por ela, porque dele é o reino dos Céus”.
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(*) Transcrito de “O Legionário” de 7-9-1942 (Órgão oficioso da Arquidiocese de São Paulo). A íntegra encontra-se disponível no link: http://www.pliniocorreadeoliveira.info/Disc_Congr_Eucar_42.htm