Tendo o novo Pontífice escolhido seu nome na sequência do de Leão XIII (reinado de 1878 – 1903), a mídia esquerdista destacou a Encíclica Rerum Novarum (“Das coisas novas”), publicada em 15-5-1891. Mas tal mídia, em sua focalização, forçou a nota para dar ao público certa noção de que esse documento pontifício, ao tratar da condição dos operários — como de seus direitos, salários justos etc. —, defende teses marxistas, como reivindicações igualitárias da classe operária revoltada contra os patrões.
Com o objetivo de evitar esse desvirtuamento midiático da Encíclica e marcar com veracidade o seu conteúdo anti-socialista, segue um comentário feito por Plinio Corrêa de Oliveira em carta de 30-11-1931 a Tristão de Athayde (pseudônimo de Alceu Amoroso Lima).

Reivindicações, sim, mas feitas com reverência às classes superiores
O documento pontifício é ótimo [Dr. Plinio está se referindo à Encíclica Quadragesimo anno de Pio XI (15 de maio de 1931)]. Completa a orientação genialmente católica que presidiu à elaboração da Rerum Novarum [de Leão XIII – foto]. Esta, efetivamente, ao mesmo tempo que repeliu a indecorosa mistificação do ‘socialismo católico’, caminhou, no entanto, resolutamente, na senda das reivindicações operárias.
Mas reivindicações destituídas de todo em todo de qualquer cunho sedicioso e desrespeitoso. Reivindicações feitas de chapéu na mão, com uma firmeza cheia de reverência às classes que, exercendo qualquer função de mando na sociedade, participam ipso facto da autoridade divina.
Nada me irrita mais do que ver alguns escritores católicos (Georges Goyau et comitente caterva) procurando sempre dar umas infusões de leninismo ao Catolicismo. No fundo, eles são vítimas da grande ilusão igualitária da Revolução Francesa.
Não! Por mais que a Igreja pleiteie os justos direitos dos operários, nunca Ela misturará sua voz respeitável ao alarido insólito das arruaças, e aos discursos insolentes dos demagogos!
A renovação social se fará. Deus nos livre, porém, que ela se faça com o menor desrespeito que seja às autoridades legitimamente constituídas. Pelo contrário, quanto mais a Santa Sé insiste a respeito da necessidade de nos constituirmos e arrogarmos com toda a justiça o título de defensores natos das classes pobres, tanto mais devemos também lutar pela manutenção do conceito de autoridade. É como o porão de um tombadilho. Quanto mais se deposita carga em um de seus compartimentos, tanto mais é necessário encher também o compartimento do lado oposto. Do contrário, o navio perde o equilíbrio.
A Igreja tem a glória imortal de ter suprimido a escravidão. E foi necessária a Renascença para que a escravidão “renascesse” na América.
No entanto, como aboliu a Igreja a escravidão?
É de se notar que nunca Ela desceu a pactuar com os Spartacos1 de qualquer espécie. Nunca um ato violento, nunca um ato revolucionário.
São Paulo, em suas epístolas, aconselha aos católicos que obedeçam a seus senhores, ainda que estes sejam díscolos. E note-se que o Apóstolo trata de escravos, que estão, portanto, sujeitos às ordens dos senhores por um vínculo ilegítimo, e flagrantemente contrário ao Direito Natural!!
Por isto é que disse que a Encíclica Rerum Novarum foi essencialmente católica. Foi católica, porque foi ousada, mas dessa “ousadia prudente” que caracteriza sempre tudo quanto a Igreja faz.
Pediu pelos operários tudo quanto poderia pedir. Proclamou-se mais uma vez sua Mãe extremosíssima, e orgulhou-se mais uma vez deste seu título. No entanto, afastou, ao mesmo tempo, toda e qualquer esperança de fusão com o socialismo equívoco e suspeito, que provém diretamente do “Non serviam”2 de Satanás, e não da caridade cristã.
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Notas:
- Espártaco (em latim: Spartacus; ca. 109 a.C. – ca. 71 a.C.) foi um gladiador de origem trácia. Viveu na República romana e foi o líder da mais célebre revolta de escravos na Roma Antiga, conhecida como “Terceira Guerra Servil”, “Guerra dos Escravos” ou “Guerra dos Gladiadores”. liderou, durante a revolta, um exército rebelde que contou com quase 40 mil ex-escravos. Acabou por perder a guerra contra as legiões de Crasso, membro do primeiro triunvirato.
- Non serviam, em latim, quer dizer “eu não servirei”. Conceito geralmente atribuído a Lúcifer, que assim teria expressado sua rebelião contra Deus quando ainda estava no Reino dos Céus. Atualmente, a expressão latina “non serviam” também é usada como lema por vários grupos políticos, culturais e religiosos como expressão de rebeldia, de dissidência, de revolta contra a autoridade.
- Fonte: https://www.pliniocorreadeoliveira.info/MAN_311130_PCO_a_AAL.htm