No momento, você está visualizando Incêndio na COP-30: um gigante com pés de barro

No penúltimo dia da COP-30, em Belém (PA), um incidente grave marcou profundamente a cúpula climática: um dos pavilhões da Blue Zone — setor reservado às delegações internacionais, onde ocorrem as negociações formais — foi tomado pelo fogo, obrigando à evacuação urgente de parte do recinto.

Segundo a imprensa brasileira e estrangeira, as chamas tiveram início por volta das 14h, atingindo estruturas provisórias cobertas por lona ou tecido, que rapidamente alimentaram o incêndio. Relatos iniciais mencionam a possibilidade de curto-circuito ou falha em geradores alimentados a diesel — ironicamente, o mesmo tipo de equipamento que a conferência critica nos discursos oficiais.

Vídeos registrados no local mostram fumaça intensa, correria e equipes de segurança tentando conter o fogo com extintores. A energia precisou ser desligada em parte do complexo para evitar novos riscos, e o pavilhão só foi considerado seguro após cerca de meia hora. Felizmente, não houve feridos.

Mas o significado do evento ultrapassa a literalidade das chamas. O incêndio atingiu o centro simbólico da COP-30: o espaço físico em que se concentram as negociações que pretendem remodelar a economia, a matriz energética e, em última análise, a soberania dos Estados.

A imagem é eloquente: um evento global que pretende redesenhar o mundo sob o signo da “governança climática” revela fragilidades estruturais básicas, desde fiação exposta e improvisações até o uso de tecidos inflamáveis em áreas críticas — aspectos apontados inclusive por órgãos internacionais como preocupantes.

Trata-se menos de um “acidente brasileiro” e mais de um fracasso interno da própria lógica organizacional da COP, que desde o início desta edição convive com incongruências:
— geradores a diesel alimentando uma conferência contra combustíveis fósseis;
— climatização precária em plena Amazônia;
— logística dispendiosa;
— protestos e invasões;
— tensões com delegações estrangeiras;
— e uma crescente sensação de que se exige dos países aquilo que o próprio evento não consegue realizar em escala mínima.

A contradição que o episódio revela não é apenas operacional. Ela toca o cerne de uma estrutura que se pretende normativa para todas as nações. O incêndio expôs, de forma quase didática, a fragilidade de uma engenharia institucional que, embora se apresente como árbitro moral do planeta, não demonstra a solidez técnica exigida para tal papel. A imagem evoca, inevitavelmente, a célebre visão bíblica do gigante com pés de barro: colosso na aparência, mas sustentado por uma base instável, incapaz de suportar o peso das próprias pretensões.

No plano simbólico, este fato convida a uma reflexão mais profunda sobre o arcabouço ideológico que orienta a COP-30. Propõe-se ali, com intensidade crescente, um modelo de reorganização global que ultrapassa o campo ambiental e toca pontos vitais da soberania — modelo que, não raras vezes, colide com a lei natural, com a ordem orgânica das nações e com os ritmos próprios de sua civilização. Não surpreende que estruturas edificadas sobre pressupostos abstratos encontrem dificuldades para se firmar na prática: quanto mais se afastam da realidade concreta, mais vulneráveis se tornam às tensões internas que elas próprias geram.

Essa dissociação entre teoria e realidade torna-se ainda mais evidente quando o discurso internacional trata o Brasil como país ambientalmente irresponsável — narrativa desmentida de maneira contundente pelos dados. Conforme amplamente demonstrado pelo Prof. Evaristo de Miranda, o Brasil conserva cerca de 66% de seu território com cobertura vegetal nativa, índice sem paralelo entre os grandes produtores agrícolas. No uso do solo, somos uma exceção mundial: menos de 30% do território é destinado à agropecuária, e ainda assim o País figura entre os maiores produtores de alimentos, fibras e energia do planeta. A soma de produtividade elevada com preservação extensiva constitui um modelo que deveria ser estudado, não constrangido.

Se não houve vítimas no incêndio, permanece um sinal que não deve ser ignorado. Antes de propor reformas de alcance planetário — capazes de influir na economia, na cultura e até na autonomia política das nações —, a conferência precisaria demonstrar domínio pleno sobre seus próprios espaços, estruturas e processos. É um requisito elementar, mas indispensável: nenhuma política internacional poderá reivindicar legitimidade enquanto sua base for tão frágil quanto os pés de barro que sustentavam aquele antigo gigante. O contraste entre o real e o ideológico está lançado, e sua análise será inevitável para todos os que desejam construir um futuro fiel à ordem natural, à soberania e ao bem comum das nações.

Fontes que noticiaram o incêndio:
AP News – Fire prompts evacuations at UN climate talks in Brazil
El País – Un incendio obliga a suspender y desalojar la cumbre del clima de Brasil
Bild – Feuer auf der UN-Klimakonferenz

Diário do Nordeste – FOTO DE CAPA

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