Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
5 min — há 7 anos
A chamada “geração smartphone” –– daqueles que nasceram após 1995 –– vem amadurecendo mais lentamente do que as anteriores. É o que revela a Dra. Jean Twenge, professora de Psicologia na Universidade Estadual de San Diego, nos Estados Unidos, em seu recém-publicado livro iGen: Why Today’s Super-Connected Kids Are Growing up Less Rebellious, More Tolerant, Less Happy – and Completely Unprepared for Adulthood (capa abaixo) (iGen: Por que as crianças superconectadas estão crescendo menos rebeldes, mais tolerantes, menos felizes – e completamente despreparadas para a vida adulta, em tradução livre). A obra é o resultado de uma investigação baseada em pesquisas com 11 milhões de jovens americanos e entrevistas em profundidade.[i]
O iGen, ou Geração do Smartphone, é a primeira geração a passar a adolescência inteira na era do smartphone. “Com as mídias sociais e mensagens de texto substituindo outras atividades, iGen gasta menos tempo com seus amigos em pessoa –– talvez por isso eles estão experimentando níveis de ansiedade, depressão e solidão sem precedentes”, comenta a Dra. Jean Twenge em seu site. A taxa de suicídio, por exemplo, triplicou na última década entre meninos de 12 a 14 anos.
O estudo mostrou ainda que quanto mais tempo o jovem passa na frente do computador, maiores os níveis de infelicidade.
“Os de 18 anos agem como se tivessem 15 em gerações anteriores“, comenta a Dra. Twenge. Ela diz que isto tem relação com a superconectividade típica desta geração, que passa em média seis horas por dia conectado à internet, enviando mensagens e jogando jogos online.
O designer norte-americano de produtos, Tristan Harris (foto ao lado), comenta, por sua vez, que os produtos do Vale do Silício são projetados para viciar os usuários.
Harris é morador do Vale do Silício, na Califórnia, e ex-funcionário da Apple. Ele foi fundador da Apture, startup que fornecia serviços para publicações de grandes empresas de mídia, e que, em 2016, acabou sendo adquirida pelo Google. Atualmente ele tem se dedicado a estudar como empresas de produtos e serviços eletrônicos estão empenhadas no desenvolvimento de estratégias voltadas para a captura do tempo do usuário. A denúncia, portanto, é feita por uma pessoa que conhece muito bem o segmento.
Comenta o especialista: “A maioria dos seres humanos crê, ingenuamente, que tem controle total sobre tudo…”
“Quase sempre, a tecnologia nos influencia e nos conduz. Do outro lado da tela, na sede do Google ou da Apple, há profissionais como designers e engenheiros — eu fui um deles — trabalhando para que seus clientes não parem de usar seus produtos. (…) Pesquisamos o funcionamento da mente para fabricar máquinas aptas a manipulá-la.”
“(…) redes sociais, aplicativos e tablets estão controlando o nosso tempo… O sucesso desses produtos é medido pela quantidade de tempo que eles capturam dos usuários. Tropas de milhares de engenheiros e designers desenvolvem tecnologias capazes de persuadir indivíduos a não largar delas.
“Nós, os designers e programadores, que criamos os algoritmos, comparamos esse vício à operação de um caça-níqueis. O ato de virar a alavanca em busca de uma recompensa ativa os mesmo mecanismos neurais do cérebro humano que são ativados quando se percorre sem parar a homepage do Instagram atrás de imagens que apeteçam. (…) é mais fácil chamar a atenção do usuário comum com besteiras fáceis de ser consumidas – como os vídeos de gatos – do que com textos longos e que exigem aprofundamento.
“Bilhões de dólares são investidos para que uma pessoa, ao se conectar a uma rede social, não consiga parar de mover a barra de rolagem para baixo”. Como a procurar uma atenuante, disse: “Não é maldade, nem magia, só parte do negócio.”
E conclui: “Na economia da atenção, não temos tempo ilimitado, então todos querem conquistar cada segundo nosso… (e) passam a competir com o nosso sono, nossos familiares, nosso emprego”.[ii]
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo no dia 13 de setembro de 2016, o Dr. Cristiano Nabuco (foto ao lado), psicólogo do Hospital das Clínicas de São Paulo, afirmou que “estamos criando uma geração de alienados”. O uso excessivo do celular “começa a criar um padrão onde progressivamente o cérebro vai perdendo a capacidade de se aprofundar. A ponto de hoje, muitas vezes, quando nós vamos dar aula para os jovens na universidade e na graduação, eles não conseguem mais se debruçar e se aprofundar sobre textos mais densos. Eles perderam a capacidade de concentração. O manuseio contínuo das redes sociais, das buscas, da música e da fotografia, à ‘caça’ ao Pokemon, tudo isso cria uma poluição que compromete profundamente a lógica e a capacidade de raciocínio (…) Eles não conseguem mais se debruçar e se aprofundar sobre textos mais densos. Eles perderam a capacidade de concentração” (os destaques são nossos).[iii]
O smartphone tem causado uma dependência semelhante à dos viciados em drogas alucinógenas. Declara uma pessoa viciada no uso do celular: “O celular é meu Prozac virtual; cada vez que eu me sinto mal, vou para o smartphone e lá encontro tudo”.
Diante de todos esses problemas causados pelo smartphone, nos perguntamos: seria mesmo esse aparelhinho a principal causa desses males? Evidentemente, não. Temos hoje uma sociedade intemperante –– especialmente a juventude ––, onde todos querem ter tudo, agora e sem o menor esforço. Há também a crise na família. Os jovens se sentem isolados, pois já não há convívio familiar como antes do advento da televisão e do celular. As pessoas estão cada vez mais egoístas, preocupando-se apenas com os prazeres. Por isso, disse Paul Claudel: “A juventude não foi feita para o prazer, mas para o heroísmo!”.
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[i] http://www.bbc.com/portuguese/geral-41080541
[ii] https://consumidorcidadao.wordpress.com/tag/tristan-harris/
[iii] https://ipco.org.br/ipco/60937-2/#.WasV-ciGPIU
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