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Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

A mais bela festa de Natal que já houve


Menino Jesus
A todos os visitantes e participantes deste site, um Santo e Feliz Natal, e um Ano Novo repleto das bênçãos da Sagrada Família!

Aos 7 anos de idade, Juninho era um menino tão inocente quanto inteligente. Olhar vivo e atento, sempre amável, sem egoísmos, fazendo tudo com a perfeição que a idade comporta, embora nem sempre compreendido por outros meninos, mais afeitos à molecagem e à velhacaria. Não gostava de ver televisão, mas aprendera facilmente as primeiras letras e lia com desenvoltura.

O livro

Certo dia, percorrendo com os olhos a biblioteca do velho avô, um livro lhe chamou especialmente a atenção. Estava colocado entre a estante de arte e a de história, com as páginas ligeiramente amareladas, algumas um tanto desbeiçadas, que indicavam um manuseio que fora freqüente. O Menino Jesus na capa. Cobrindo o livro, ligeira camada de pó atestava que há algum tempo ninguém o consultava. Seu título: “Natais de Antigamente”. Gravuras em abundância e de boa qualidade, quase a cada página de texto, tornava-o particularmente atraente. Letras grandes e parágrafos espaçados, próprios para a leitura de crianças.

Folheando-o rapidamente, Juninho agradou-se com o que pôde ver. Levou-o para seu quarto e começou a lê-lo com vagar. O livro se dividia em três partes, seguindo uma ordem histórica-cronológica inversa.

Na primeira parte, a mais extensa, encantou-se com a descrição das comemorações do Natal nos primeiros anos do século XX, período abordado pelo livro. Festa eminentemente familiar. Nos lares, o Presépio singelo, a árvore de Natal luminosa, a Missa do Galo religiosamente assistida à meia-noite, os presentes para as crianças. O almoço do dia 25, com peru recheado e sangria, congregava toda a família, em geral numerosa, com muitas crianças, o que consolou um tanto Juninho da solidão que sentia por ser filho único. Ele padecia de uma secreta tristeza por não ter outros irmãozinhos com quem brincar.Festa de natal início do séc. XX

A segunda parte abordava a razão de ser da comemoração natalina. O nascimento do Menino Jesus em Belém, colocado numa manjedoura; a alegria virginal de Nossa Senhora; a seriedade casta de São José, profundamente compenetrado de seus deveres para com o Divino Infante; o deslumbramento dos pastores alertados pelo anjo para o grande acontecimento ocorrido na vizinha gruta; a adoração dos Reis Magos, chegando com seus cortejos admiráveis, suas riquezas e sua pompa, guiados por uma estrela brilhante e misteriosa. A cruel perseguição de Herodes e a matança dos santos inocentes. Ao ler aquelas páginas, Juninho não cabia em si de admiração; tomou corpo nele um desejo imenso de ver o Menino Jesus.

Numa terceira parte, à maneira de apêndice, relatavam-se algumas passagens do Antigo Testamento em que a vinda do Messias era profetizada ou prefigurada. Trechos de Isaías, de Daniel, dos Salmos, a história de Tobias, de Jó e assim por diante.

A proposta

Estávamos em dezembro, o Natal se aproximava, Juninho tentou então uma cartada ousada. Aproximou-se timidamente de sua mãe e lhe propôs:

— Mamãe, que tal comemorarmos este ano aqui em casa o Santo Natal? Compramos um peru, uma garrafa de vinho, convidamos o filho da vizinha, eu trago um coleguinha da escola, a senhora telefona para a tia Joana e pede para ela vir. Eu vi, aqui perto, exposta numa vitrine para vender, uma pequena árvore de Natal. Não é cara. A gente põe umas velinhas, uns lacinhos, talvez consigamos algumas daquelas bolas douradas e prateadas. Fica muito bonito. Eu tenho uma imagenzinha do Menino Jesus, junto com Nossa Senhora e São José, que ganhei de minha madrinha no ano passado, poderíamos montar um Presépio! Vamos fazer, mamãe!? Assim agradamos ao Menino Jesus, ele vai ficar contente.

— Que idéia Juninho! Quem pôs isso na sua cabeça? O Natal deste ano cai num sábado, já na sexta-feira ninguém trabalha, vai ser um feriadão. Vamos para a praia curtir o sol.

— Mas mamãe…

— Não, não insista. Está decidido. Eu já telefonei para uma amiga minha que mora no litoral e vamos nos hospedar na casa dela. É a um passo da praia. Saímos daqui na sexta-feira à tarde e só voltamos na segunda. Não quero choro nem vela.
Juninho não insistiu mais. Para quê?

O novo amiguinho

Estava na hora de ir para a escola, pois haveria a última aula do ano, em reposição de dias anteriormente perdidos, conforme determinado pela diretora. Juninho saiu. Enquanto percorria maquinalmente o caminho, já tão conhecido, ia com a mente povoada de pensamentos tristes por não poder comemorar o nascimento daquele Menino adorável. Tão absorto estava que não notou um outro menino, mais ou menos de sua idade, que se aproximava dele, o fitava e acabou por interpelá-lo:

— Ei, você, no que está pensando? Parece que está com a cabeça no mundo da lua.
— Ah! Estou pensando no Menino Jesus, em Nossa Senhora, nas festas de Natal de outrora… Mas… você quem é?
— Eu me chamo Rafael e estou procurando um amiguinho para poder conversar um pouco, me distrair. Você não quer conversar um pouco comigo?
— Olha Rafael, eu me chamo Juninho, mas eu só gostaria de conversar se fosse sobre o Natal.
— Combinado! Eu tenho muitas coisas a lhe contar sobre isso. Inclusive eu vou participar de uma festa de Natal maravilhosa no dia 24.
— Éééé… Vai ter presépio?
— Claro, indispensável, e dos mais autênticos!
— E árvore de Natal?
— Também, uma cheia de luzes, maravilhosa!
— Nooooossa!
— Você não quer vir a essa festa? Vai ter manjares dos mais deliciosos.
— Mas… eu posso?
— Claro, é só você querer.
— Eu quero e quero muito, mas não tenho dinheiro para pagar.
— Deixe de bobagens, ninguém vai lhe cobrar nada.
— Mas minha mãe não vai me deixar. Ela quer que eu vá com ela para a praia.
— Olha Juninho, vamos combinar uma coisa. No dia 24 eu passo na sua casa e levo você comigo para a festa.
— E minha mãe?
— Deixe sua mãe por minha conta, eu sei como agir e ela não vai impedir você de ir. Só não diga nada a ela antes da hora.

O segredo

— Eu nem sei como lhe agradecer, Rafael, mas você acha que vai dar certo?
— É claro! Mas você quer mesmo ir? Quer?
— Quero de todo coração.
— Está bem, então vou lhe contar um segredo. Promete não contar a ninguém antes da festa?
— Prometo. E depois da festa, posso contar?
— Depois pode contar a quem quiser, mas antes não.
— Qual é o segredo?
— Se as pessoas que vão a essa festa rezarem muito a Nossa Senhora, com muito fervor, muito desejo, pode ser que Ela traga o próprio Menino Jesus para a gente adorar.
— Mas isso é possível?
— A Deus nada é impossível! E a oração confiante atrai os favores de Deus.
Assim conversando, chegaram à escola. Despediram-se amigavelmente e Juninho entrou para a aula. Só que, naquele dia, não conseguiu prestar atenção em nada do que a professora dizia. Pensava na festa, no Menino Jesus, em Nossa Senhora.

A negativa da mãe

Ao chegar de volta à casa, sua mãe logo estranhou.
— Juninho, o que há com você?
— Nada mamãe, por que pergunta?
Ele não sabia, mas aquela nota de tristeza, que sempre marcava seu semblante, havia desaparecido, seu rosto parecia mais brilhante, seu olhar mais profundo. E as mães têm um senso psicológico especial para perceber o estado de espírito dos filhos.
— Você está diferente. Conte-me o que houve.
— Olha a única coisa que tenho para contar é que encontrei um amiguinho novo e gostei muito dele. Acho que ele também gostou de mim, pois disse que vinha me visitar aqui no dia 24.
— Na véspera de Natal… Mas você não o avisou de que nesse dia nós vamos sair para a praia, e que é melhor ele não vir?
— Eu disse mamãe, mas ele quer vir assim mesmo.
— Ora, o importuno! Se ele aparecer nesse dia não vou deixá-lo entrar. Se quiser, que volte na outra semana.
Os olhos de Juninho se encheram de lágrimas. Ele procurou disfarçar e subiu para seu quarto, no andar superior. Ali, ajoelhou-se junto a sua cama e começou a rezar. Pedia fervorosamente a Nossa Senhora para que Ela o ajudasse e ele pudesse ir à festa de Natal. E acrescentou:
— Minha Mãe querida, dai também um jeito de levar o Menino Jesus para a festa. Eu não sei como isso é possível, mas o Rafael me disse que Vós podeis tudo junto ao Coração de Jesus. Eu gostaria tanto de ver o Menino Jesus, mas tanto…

Visita inesperada
Chegou afinal a véspera de Natal. A mãe de Juninho se afanava nos preparativos para a viagem. Ele a ajudava fazendo o que ela mandava, mas seu coração e seu pensamento estavam longe. Em certo momento, ela lhe disse:
— Juninho vá agora para seu quarto, descanse um pouco e depois prepare-se para a viagem. Ponha aquela roupa esporte que está no armário, a camisa estampada e o tênis. Depois prepare sua mala, com roupa de banho, toalha e tudo o mais que é necessário para a praia. Você já está grandinho e precisa aprender a fazer essas coisas sozinho. Quando estiver tudo pronto, desça, pois vamos pegar um taxi até a Estação Rodoviária. Já estou com as passagens compradas.
Juninho subiu as escadas, entrou em seu quarto e deitou-se na cama. Os pensamentos atropelavam-se em sua mente infantil, sem que ele soubesse como coordená-los. Seu coração palpitava de modo pouco comum. Perdeu a noção do tempo. Só voltou à realidade quando percebeu um ligeiro ranger da porta, indicando que ela estava sendo aberta.
— É a senhora, mamãe? Já está na hora?
Olhou então naquela direção e, surpresa!
— Rafael, você aqui! Como entrou? Como chegou até aqui?
— Depois lhe conto Juninho, agora não temos tempo. Precisamos sair logo para ir à festa de Natal.
— Mas mamãe não vai deixar…
— Não se preocupe, está tudo resolvido. Ela não vai levantar nenhuma objeção.
— Você conseguiu Rafael! Oh muito obrigado. Mas me diga uma coisa, o Menino Jesus vai aparecer?
— Você rezou a Nossa Senhora nesse sentido?
— Ah sim, rezei muito.
— Então… Mas vamos rápido para não chegarmos atrasados.
Todo esse diálogo se passou com Juninho ainda deitado. Quando ele fez menção de levantar, Rafael lhe disse:
— Espere. A partir de agora eu preciso conduzi-lo com cuidado. Dê-me a sua mão.

A festa

Enquanto tal cena se desenrolava no quarto de Juninho, no andar de baixo a mãe do menino começava a preocupar-se.
— Esse menino não desce. Vou lá em cima buscá-lo.

Subiu rapidamente os degraus da escada, dirigiu-se ao quarto do filho e abriu a porta. Imediatamente viu-se envolvida por um perfume de lírio, que embalsamava todo o ambiente. Instintivamente procurou de onde vinha tão agradável aroma, e viu sobre a cama, o pequeno Juninho que, com um sorriso nos lábios, jazia sem vida. Sua fisionomia demonstrava uma alegria angélica. Chamava a atenção seu gesto muito elegante: o braço direito, um pouco esticado, com os dedos da mão semi-cerrados, como se estivesse segurando a mão de alguém invisível. Sobre um pequeno móvel, ao lado da cabeceira da cama, o livro que Juninho retirara da biblioteca do avô estava aberto, deixando ver claramente uma gravura de página inteira: o anjo Rafael conduzindo pela mão o jovem Tobias, em meio aos perigos deste mundo.

Uma inspiração interior fez então a mãe de Juninho compreender que, naquele momento, seu filho participava da mais bela de todas as festas de Natal, aquela que se celebra eternamente no Céu, com a presença dos anjos e dos santos, em torno de Nossa Senhora e do Menino Jesus.

Aos prantos ela se ajoelhou diante da cama e disse: Meu filho, reze por mim.

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Daniel Martins

Daniel Martins

320 artigos

Voluntario do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira. Articulista na Revista Catolicismo e na Agencia Boa Imprensa. Coordenador do Canal dos Santos Anjos no YouTube: https://www.youtube.com/c/CanaldosSantosAnjos/

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