Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
7 min — há 5 anos — Atualizado em: 1/29/2020, 5:20:21 PM
Nosso mundo hedonista e gozador da vida de nada tem maior temor do que da morte. Só o pensar nela aterroriza-o, estraga todos seus prazeres. Entretanto, dela ninguém escapa.
Este é o tema que Peter Kwasniewski — escritor católico, autor, palestrante, editor, publicista e compositor — desenvolveem seu interessante artigo publicado no LifeSite News sob o sugestivo título: Monges católicos revelam como se preparam para a morte em um mosteiro.
Kwasniewski [foto ao lado] começa falando com muita propriedade de uma das pragas de nosso tempo, a tão propalada eutanásia: “Uma prática antes considerada abominável — na verdade, simplesmente uma forma de assassinato a sangue frio daqueles que são mais vulneráveis e mais merecedores de nossa atenção e carinho amorosos — está sendo promovida como a melhor maneira de ‘tirar alguém de sua miséria’, assim como um cavalo manco ou um animal de estimação frágil é ‘abatido’ pelo veterinário […]. Em vez de enfrentarmos a morte como sendo uma passagem purificadora para a vida eterna, tentamos mercantilizá-la como uma forma final de paliativo”.
Ele concorda que o medo da morte é natural, pois o próprio Filhode Deus o teve. Entretanto, escondê-la ou ignorá-la não adianta, além de ircontra o que diz a Sagrada Escritura: “Pensanos teus novíssimos e não pecaráseternamente” (Ecl. 7, 40). Sabemosque os “novíssimos” são as últimascoisas que irremediavelmente nos acontecerão: a morte, à qual sucederão o juízoparticular e — conforme nós tivermos vivido — o inferno ou o paraísopara sempre.
Mesmo quando é irremediável encarar a morte, procura-setirar dela todo o aspecto religioso. A eutanásia, por exemplo, é baseada emconsiderações puramente materialistas e ateias. A explicação para isso no-la dáo ilustre escritor: “Sem Deus, a morte não pode ter sentido; semCristo, a morte não pode terbenefício; sem o Espírito Santo, amorte não pode ser encarada com amor e esperança. Torna-se o grande absurdo, enão a passagem da vida mortal para a imortal”.
Kwasniewski passa então a falar de um livro que foi publicado há pouco nos Estados Unidos, escrito pelo jornalista francês Nicolas Diat e intitulado Hora de morrer: monges no limiar da vida eterna [capa ao lado], no qual o autor relata sua experiência nas visitas que fez a oito mosteiros na França com o objetivo de conversar com os monges sobre seus pontos de vista sobre a morte, como eles se preparam para ela e como os afeta verem seus irmãos de hábito passar desta vida para a eterna.
Entre os monges entrevistados, Dom David, da Abadia deEn-Calcat, considerou que o homem construiu um mundo tão tecnológico, que essemesmo mundo agora o humilha e o faz sentir vergonha, numa espécie de complexode inferioridade. Aduziu que para a antropologia clássicao homem era o rei e o cumedo reino animal, mas que nos últimos 50 anos ele se tornou insignificante nummundo dominado por ídolos tecnológicos. Afirma o jornalista: “Dom David diz que a nossa tecnologia médicase desenvolveu a tal ponto, que prolonga a nossa agonia e nos deixa emfrangalhos. Podemos acabar vendo a nós mesmos e uns aos outros de uma maneiradespersonalizada, como se fôssemos máquinas com partes funcionais ou nãofuncionais, em vez de ver a imagem de Deus, que é infinitamente mais preciosaque a própria vida corporal e qualquer tecnologia que possamos reunir”. ComentaDiat: “Os leitores podem se surpreenderao saber (embora seja lógico) que os mosteiros enfrentam os mesmos desafios queos leigos enfrentam no mundo: cuidados com o fim da vida, remédios para dor,quando levar alguém do hospital para casa a fim de morrer em sua própria cama”etc.
Como a morte é o momento mais importante de nossa vida porquesela o nosso destino eterno, ela o é sobretudo na vida de um monge. Assim, oenfermeiro da conhecida Abadia de Solesmes disse que aprendeu a “desacelerar”para prestar atenção nos detalhes no cuidado dos doentes: “Existe o risco de mercantilização do doente. Devo rezar para manteracordada a força do meu desejo de servir. [O irmão doente] é Cristo. Quandochegarmos diante de Deus, seremos responsáveis por nossa caridade para com osmais fracos. Preciso saber como ‘perder meu tempo’ com os doentes. Na vida, darlivremente é essencial. Cristo disse que o homem que perde a vida a ganha”.
Por sua vez, comenta o Irmão Teofano, da Abadia de Sept-Fons[foto]: “Nunca estou tão consciente da presença de Deus como no momento damorte de meus irmãos. Há uma pausa, um antes e depois. Estamos no ponto da maisperfeita intersecção entre Deus e os vivos”.
Dom Olivier,monge da Abadia de Cîteaux, fala filosoficamente sobre a preparação diária paraa morte: “A morte mais difícil é apequena morte diária, quando estamos perfeitamente saudáveis. Na vida, passamosde uma morte para outra; elas nos preparam para o fim último. Poucas mortes do egose tornam grandes e permitem uma boa morte”.
Diatcomenta que na abadia de Mondayes e conta a história de um velho soldado daSegunda Guerra Mundial que se tornou monge ali. Quando ele estava muito doente nohospital, o abade de seu mosteiro foi ministrar-lhe os últimos ritos a fim deprepará-lo para a morte. Quando terminou a cerimônia, o Superior inusitadamenteabriu uma garrafa de champanhe, e ambos beberam um brinde à morte. Dois diasdepois, o veterano soldado e monge, trazido de volta ao seu mosteiro, entregavaem paz sua alma a Deus. Conclui Diat: “Umacomunidade completa se compõe de vivos e mortos”.
Um monge da Abadia de Fontgombault, mosteiro beneditino deobservância totalmente tradicional, afirmou o que se pode aplicar a todo mundo,e não só aos religiosos: “Quanto maisforte a vida sobrenatural, maior a familiaridade com a vida após a morte, emais simples a morte”. “A tradição católica enfatizou há muito esse mesmoponto: se desejamos ter uma morte santa, devemos construir os hábitos em nossasvidas que entrarão em jogo em nossa hora de maior necessidade. A morte, nessesentido, não passa de um momento final de um processo que a antecede e seprepara por muito tempo. Aqueles que acham ‘injusto’ que o destino eterno de umapessoa dependa unicamente do estado da alma no momento da morte, não estãopensando corretamente: não veem a verdade de que ‘como um homem vive, elemorre’”.
Também monge de Fontgombault, Dom Pateau, afirma que “a tecnologia nos domina até os momentosfinais”. “Deus deve nos forçar aaproveitar esse tempo: Ele diz: ‘Basta’, quando o homem moderno responderiaprontamente: ‘Não tenho tempo’. Estaríamos prontos para perder o ponto altodesta vida. O homem se tornou escravo. Do mesmo modo, ele não tem mais tempopara si e para Deus. A falta é cruel. Ele não tem tempo para morrer porque nãotem tempo para viver. Por sua parte, o monge concorda em perder todo o seutempo para Deus. A vida monástica é feliz; a morte monástica também é”.
O autor conclui considerando como a morte é vista peloscartuxos, os mais austeros e inacessíveis de todos os religiosos. Um deles lhediz: “Passo metade da minha vida pensandona vida eterna. Ela é o pano de fundo constante que reveste toda a minhaexistência […]. Devemos amar esta porta que nos permitirá conhecer o Pai”.Depois acrescenta: “Não é a porta que euestou esperando, mas o que está do outro lado dela. Não estou esperando pelamorte, mas pela Vida”.
Diat comentaque se diz correntemente dos cartuxos que eles “fazem santos”, “mas não promovem suas causas”, porque todos devemtender à santidade. E narra o caso de um irmão leigo cartuxo que em meados doséculo XVII começou a praticar muitos milagres em sua sepultura, ameaçandotornar o mosteiro um lugar de peregrinação, com todos os inconvenientes inerentesa isso. O prior então, para cortar o mal pela raiz, dirigiu-se ao falecidomonge e lhe disse: “Em nome da santaobediência, eu vos proíbo de fazer milagres”. A partir de então osfenômenos extraordinários cessaram.
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Fonte: https://www.lifesitenews.com/blogs/catholic-monks-reveal-how-they-prepare-for-death-in-a-monastery
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