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Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

Clareza de ensinamento da Santa Igreja aplicada à Festa do Ssmo. Sacramento


Estamos na Festa de Corpus Christi. Não é a Festa da Instituição da Eucaristia; Corpus Christi é a afirmação da Presença Real sob as espécies de pão e vinho. E é um dos pontos polêmicos com o protestantismo.

Transcrevemos uma aplicação feita pelo Prof. Plinio em palestra para sócios e colaboradores da TFP:

.”..  a Igreja Católica foi instituída por Jesus Cristo para ensinar a verdade. E Ela não tem o direito de dar um ensinamento confuso porque o ensinamento confuso não é um ensinamento digno desse nome. É indigno o ensinamento que é confuso. Ainda que seja involuntariamente, e que o professor por incompetência, deixe a confusão reinar sobre o conteúdo do que está ensinando, ainda que seja involuntariamente, ele não é digno de ser professor. Porque a clareza é a primeira das qualidades do professor.

O ensino exige, como pressuposto, a clareza

“Quer dizer, o ensino exige, como pressuposto, a clareza. Depois, exige a categoria do conteúdo. Um homem pode ser sábio e não ser claro. Mas um homem não pode ser professor e não ser claro. Um professor confuso não pode ser professor. É mais ou menos como um homem que é fabricante de binóculos, e faz os binóculos com um cristal excelente, com uma montagem muito boa. O mal é que os cristais que ele usa são um pouco embaçados: é uma porcaria! Pode ser o que for, é uma porcaria! Porque o binóculo foi feito para a gente ver à distância com clareza. Se não dá para ver com clareza, é uma porcaria! O resto não interessa para nada.

“Portanto, a primeira exigência do ensino é de ser claro. Se aquele que ensina não ensina com clareza intencionalmente, ele é pior do que um incompetente: ele é um desonesto. Porque é uma desonestidade, é uma fraude, apresentar-se alguém com a segunda intenção de não lhe dar a verdade inteira. Quando ele está na suposição de que a verdade inteira lhe será dada.

(…)

“Se, segundo pensaram aqueles grandes teólogos e Doutores (ao tempo de Lutero), a Igreja fizesse o silêncio a esse respeito, os fiéis ouvindo dEla um ensinamento confuso sobre uma verdade indispensável à salvação, Ela estaria fraudando os fiéis. E Ela estaria faltando com a sua missão.

Silenciar sobre a Eucaristia levaria os católicos a comungarem mal

“Em segundo lugar, se a Igreja, fosse silenciar a respeito da Eucaristia, faria com que os fiéis comungassem mal. Porque não tendo o ensinamento claro sobre o que eles estão recebendo, não podiam receber bem o que eles estavam recebendo. Quem é que pode [fazer] um ato de adoração ao Santíssimo Sacramento se não tem certeza se sim ou não, ali está Nosso Senhor Jesus Cristo? Não é possível! Quer dizer, a Igreja para manter uma unidade pútrida, sacrificaria a vida espiritual de seus fiéis.

Uma instituição leva às últimas consequências seus princípios

“Mas viria, sobretudo, um princípio, – não é o mais forte dos princípios, – mas é o menos realçado e que eu quero realçar mais hoje à noite. A força de toda instituição consiste em levar às últimas conseqüências seus próprios princípios. E a partir do momento em que ela acha que, para sobreviver, ela tem que adoçar os seus princípios, ela reconhece que já morreu.

Eu dou muita importância a este princípio, e por isso pergunto se está claro.

Exemplificando com o estado militar

Os senhores tomem, por exemplo, o estado militar. As Forças Armadas constituem uma instituição do país. O próprio das Forças Armadas, na sua pujança, é deduzir da condição militar todas as suas conseqüências: a disciplina militar, a coragem militar, o estilo de vida militar, o porte militar, o militar levar [esses princípios] tão longe quanto possível. Isto é o próprio de Forças Armadas pujantes.

A partir do momento em que um Ministro da Guerra dissesse: “o Brasil é um país ao qual repugna tanto o estado militar que, ou o militar toma ares de civil, ou não haverá mais militares”, não adiantaria mais o militar tomar ares de civil. Porque então, as Forças Armadas morreram no Brasil. Porque se o estado militar repugna tanto, a coerência do estado militar é inaceitável pelo país, afugenta as vocações, então é preciso reconhecer que o estado militar morreu, de frente. Não vale a pena entrar com voltas, é preciso ver de frente.

Vocações clericais: um padre deve ser como padre, pensar como padre, se vestir como padre, viver como padre e vestir-se como padre, quer dizer, de batina. Se alguém vem e diz: bem, então, não haverá mais padres no Brasil, não adiantará pôr padre de macacão para ver se alguém quer ficar padre. É preciso tomar o problema pela base. Esse país não quer ter mais padres, porque ficou pagão. Vamos tomar a questão de frente.

A instituição da família: alguém dirá: “Dr. Plinio se não se fizer o divórcio, no Brasil muita gente começa a não se casar mais e a viver no amor-livre”. A resposta é: então diga que morreu a instituição da família no Brasil. Não vale a pena fazer uma famélica, moribundinha, caricatura abastardada daquilo que deve ser, mas diga logo de uma vez: morreu a família. Então, vamos logo dizer: morreu o Brasil. Porque um país onde não há compreensão para o estado militar, para o estado eclesiástico e nem apreço pela família, isso é um país morto. Então vamos, a partir disso, ver o que é que se deve fazer.

Eu estou falando do Brasil, porque eu estou no Brasil. Eu poderia, a igual título, falar de qualquer outro país onde me encontrasse. É um exemplo hipotético que eu estou tomando.

Procissão de Corpus Christi, Sevilha – Manuel Cabral y Aguado Bejarano -1857

Então, acontece que esses padres do Concílio de Trento entenderam que era preciso fazer o contrário. E em oposição ao protestantismo, acentuar o culto do Santíssimo Sacramento. Então instituir uma festa para a adoração do Santíssimo Sacramento. Fazer uma procissão em que o Santíssimo Sacramento sai à rua, adorado por todos, para ver que as multidões todas O adoram de joelhos postos em terra, reconhecendo que debaixo das aparências eucarísticas, ali está Nosso Senhor Jesus Cristo. E impulsionar o culto do Santíssimo Sacramento, de todos os jeitos, chegando a essa plenitude que era a adoração perpétua do Santíssimo Sacramento, instituída por São Pedro Julião Eymard.

Era a política de enfrentar, de não conceder, de lutar, de afirmar, de proclamar. Era a política da honestidade, da lealdade, da integridade, da coerência e daí veio para a Igreja uma torrente de graças; exatamente as graças da Contra-Reforma, que representaram uma das maiores chuvas de graça que a Igreja tem recebido.

Proclamação do Dogma da Infalibilidade Papal pelo Beato Pio IX

Acentuar o culto ao Santíssimo Sacramento, a Nossa Senhora, a devoção ao Papa, foi a resposta da Igreja ao protestantismo. Uma longa resposta de 300 anos. Enquanto o protestantismo durou e a Igreja foi católica em todo o seu conteúdo, essas respostas se acentuaram. No século XIX ainda, a proclamação da infalibilidade papal, a proclamação do dogma da Imaculada Conceição, em nossos dias, o dogma da Assunção. Tivemos uma série de afirmações, de instituições, etc. desdobrando e afirmando aquilo que o protestantismo negava. De maneira que quanto mais eles persistiam no seu erro, tanto mais nós íamos proclamando a verdade. Quanto mais eles se esfarelavam, tanto mais a nossa unidade se afirmava. Quanto mais eles morriam, tanto mais a nossa vitalidade se multiplicava.

Até que outros ventos sopraram. E o dogma que estava para ser definido,  o dogma da Mediação Universal de Nossa Senhora, – o dogma não, a verdade de Fé, não é dogma – sobre o qual se assentam todos os princípios ensinadas por São Luís Maria Grignion de Montfort, no Tratado da Verdadeira Devoção, ia ser proclamado. Os senhores estão vendo o que isto significa. Vamos dizer a verdade de frente: é que há incontáveis católicos que já não têm mais a coerência de sua Fé. Não têm mais a pugnacidade, não têm mais aquela integridade que caracteriza a instituição quando está viva.

A Igreja nunca diminui de vitalidade, porque Ela é imortal, Ela é sobrenatural, Ela é divina, mas a correspondência de seus filhos a Ela pode diminuir e pode, portanto, a densidade de fé diminuir no espírito de muitos filhos da Igreja. E vemos aqui, na festa de Corpus Christi, vemos como a coragem de proclamar os dogmas diminuiu e como, portanto, há uma diminuição da Fé, em incontáveis desses que se dizem católicos.

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Nuno Alvares

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