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Plinio Corrêa de Oliveira

Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo

Cochilando, às vezes se ouve e se aprende…

Por Revista Catolicismo

8 minhá 5 anos — Atualizado em: 10/11/2019, 4:28:58 PM


Qual é o tipo de conglomerado que deve servir de modelo para o habitat humano: a taba ou a cidade?

Transcrevemos a seguira introdução da obra “Tribalismo Indígena– Ideal comuno-missionário para o Brasil no século XXI” (1977), na qual Plinio Corrêa de Oliveira denunciaprofeticamente o que se está pretendendo aprovar no Sínodo Pan-Amazônico que setranscorre nestes dias no Vaticano.

  • Plinio Corrêa de Oliveira

Aproveitando o mês de férias, um turista recostado em cômoda poltrona de hotel cerra os olhos para uma sesta, no esparramado far-niente de uma estação de repouso. Suavemente, deixa ele rolar a memória àprocura de recordações que distendam e convidem ao sono.

         Masa imaginação é quase sempre caprichosa. E todo capricho, por natureza, éteimoso. As imagens que se lhe apresentam — lá sabe o turista por quê, talvezem razão da bela mata que se vê ao longe — são fotos, audiovisuais, filmes queviu em diversas ocasiões, sobre os índios, seus costumes, suas moradias, seusritos de festa, de luto e de guerra.

         Ocandidato à sesta consegue escapar, por fim, à perseguição indígena, poucopropícia à distensão. E de pálpebras baixadas, na insistente procura do sono,vai fazendo emergir da memória, mansa e suavemente, a lembrança de algumagrande cidade do Ocidente: Paris, Veneza, Roma, Londres ou Nova York. Se não,São Paulo, Rio ou Buenos Aires.

         Nossoturista se distende, sente que o sono se vai acercando. Mas, por seus ouvidos adentro penetra o que dizem pessoas próximas, instaladas em um grupo de cadeirasno mesmo salão do hotel. São duas as vozes que conversam.

Por rara coincidência — telepatia? — otema da prosa parece um comentário aos primeiros quadros selváticos que haviamimportunado o infeliz caça-sesta. Uma voz indaga:

         —Qual é, então, o tipo de conglomerado que deve servir de modelo para o habitat humano: a taba ou a grandecidade?

         Entresurpreso e indolente, o turista se pergunta, ainda de olhos cerrados, qual apessoa que levanta uma questão cuja inevitável resposta é banal, à força de tãoóbvia.

Com isto não perde ele a esperança dasesta. A banalidade é soporífera por natureza, quem sabe se o ajudará aadormecer…

         Mas,logo em seguida, ouve outra voz, que responde enfática à primeira:

         —A tribo é o modelo do futuro! Elarepresenta para o homem um estilo de ser, pensar, querer e agir, que devemodelar as sociedades em fase de esboroamento do século XX, e sobretudo associedades que se formarão ao longo de muitos outros séculos vindouros.

As grandes aglomerações urbanas dacivilização de consumo, que ainda hoje encantam ou empolgam tanta gente,representam, pelo contrário, o passado, a decrepitude e a morte. Enfim, tudoquanto deve desaparecer.

         Oturista desta vez não aguentou. Abriu os olhos à procura do “louco”, e nãoconseguiu mais dormir.

Entrementes, a voz enfática continuava:

         —Não sou só eu que penso assim. No Brasil, o que há de mais moderno na atividademissionária pensa precisamente do mesmo modo. Já ouviu falar nos missionários aggiornati?

         —Não. O que vem a ser isso?

         —Pois é bom que vá sabendo. Aggiornatovem de giorno, que em italiano querdizer dia. Aggiornato é, portanto, o missionário que se proclama em dia,atualizado com a Igreja-Nova pós-conciliar.

         —E então?

         —Os missionários aggiornati queremproteger as populações indígenas, que ainda vivem felizes nas suas tabas disseminadasaqui e acolá no fundo das selvas, contra o risco de serem anexadas pela“civilização” atual. Restos de um imemorial passado, é certo. Mas sobretudolições vivas para um sapientíssimo futuro…

Na tribo dita selvagem não há mandõesnem chefões. O cacique é só um líder-conselheiro. Tudo se resolve com oconsenso de todos. Não há, entre os índios, fazendeiros nem colonos, patrõesnem empregados, proprietários nem marginalizados, ricos nem pobres. Não háleis, regulamentos, repartições, taxas, impostos, toda essa inferneira que vocêconhece. Em suma, nada há do que divide, hierarquiza e jugula. A espontâneanudez de ambos os sexos é completa, ou quase tanto. Todos andam inteiramente àvontade pela selva, procurando petiscos para comer: peixe, ave, besouro oufruta. De volta, repartem com as famílias tudo que pegaram. Ninguém quer sermais do que ninguém, nem pensa muito no dia de amanhã. É, enfim, o paraíso naterra.

         Semestranhar o inesperado ditirambo, o interlocutor pergunta:

         —E nós? Continuaremos atados a esta vida que levamos?

         —Você não percebeu? Também no mundo dos brancos é preciso acabar com esta maniade dinheiro, capital, lucro, luxo, statuse desigualdades. O futuro está em dividir tudo por igual, acabar com ascompetições, as “carreiras”, liquidar as imensas estruturas econômicas,políticas, administrativas e sociais. Dissolver as megalópoles e os países, demodo que venham a formar galáxias de pequenos grupos autônomos, espontâneos,livres, iguais e irmãos. Resumindo, o índio é muito mais um modelo para nós, doque o somos nós para ele.

         —É então um desmantelamento geral que você prega?

         —Sim. Mas um desmantelamento construtivo, porque dele nascerá um mundo novo.

         —E como fazer esse desmantelamento?

         —Sei que muita gente já quer isto. E gente grossa. Sábios, pensadores eescritores de renome internacional. Você já ouviu falar em Lévi-Strauss, porexemplo? É um etnólogo famoso, atualmente catedrático da cadeira deantropologia no Collège de France, deParis. É o líder do pensamento estruturalista em nossos dias. Para ele asociedade indígena, por ter “resistido à História” e haver fixado a forma deviver do período pré-neolítico, é a que mais se aproxima do ideal humano. E épara esse tipo de sociedade que devemos retornar.

Quando for majoritário o número dos quequiserem isso, será irreversível que vençam. Aliás, nem é preciso tanto.Bastará que, em determinado momento, fique moda querer isto. Quantas revoluçõesatingiram o topo da vitória porque se fizeram carregar pelos ventos da moda!…

         —Mas, afinal, além da sumidade de que você falou, quem o apoia desde já?

         —Olhe, eu conheço mais especialmente o que se passa na Igreja, porque sou Padremissionário.

         Cruzandoas pernas metidas em bermudas, tão curtas que fazem pensar em tanga, o jovemenfático puxa do cigarro uma longa baforada, e continua em tom mais baixo:

         —São Padres e Freiras, alguns leigos também, que a gente vai convencendo. SãoBispos, muito notadamente. Mas não me pergunte seus nomes.

         —Sim, percebo. Vocês são comunistas e não querem encrenca com a polícia.

         —Que bobagem! Comunismo é velheira! Ditadura do proletariado, capitalismo deEstado, redes administrativas de dimensões elefantisíacas, tudo isso também temque acabar. Em certo sentido, somos comunistas, é claro. Mas não paramos aí.Veja, por exemplo, o capitalismo de Estado: coisa ultrapassada, já que nãoqueremos capitalismo nem Estado. Vamos além dessas velheiras.

         Definitivamente,o pobre caça-sesta não consegue mais dormir. Quer fugir do pesado noticiárioque já lhe dói nos ouvidos, mas a curiosidade o acorrenta. Muitas perguntas lheassaltam o espírito. É fácil imaginar quais sejam…

 Projeto promovido pelo Vaticano da primeira catedral indigenista da Amazônia brasileira [Imagem: Creatos Arquitetura/Divulgação].
Projeto promovido pelo Vaticano da primeira catedral indigenista da Amazônia brasileira [Imagem: Creatos Arquitetura/Divulgação].

         Para responder a tais perguntas, nadamelhor do que ouvir vozes eclesiásticas, e especialmente vozes missionárias,das mais às menos graduadas.

         Afim de facilitar ao leitor o trabalho, ao mesmo tempo atraente e complexo, deanalisar o que dizem essas vozes, apresenta-se a seguir primeiramente aconcepção tradicional da Missão católica; e depois a condensação do que pensamos missionários “atualizados”.

         Detenha-seo leitor diante de cada item, e meça com precisão os abismos para os quaisconvidam. Ouça-os, que pregam o desmantelamento da família e da sociedadecontemporânea, a extinção do pudor e a morte de toda a tradição cristã.Ouça-os, que acusam de tirano, opressor, sanguinário e ladrão o branco que aquiveio ter. Que destratam os bandeirantes e missionários dos séculos idos. Quenem sequer poupam com suas críticas a obra sagrada do grande Anchieta, cujoperfil moral quase sobre-humano alcançou junto aos indígenas tão magníficoêxito missionário. Ouça-os, conclamando a juventude dos seminários, dosconventos, do País inteiro, para esse “neocomunismo” tribal, que se ufana demais comunista do que o próprio comunismo.

Considere essa coorte de demolidoresutopistas, e em sua linha de vanguarda dois Bispos: D. Pedro Casaldáliga e D.Tomás Balduíno.

E compreenda, por fim, que este é umperigo real para os índios, mas menos para eles do que para os civilizados. É,em última análise, uma investida de eclesiásticos contra a Igreja. E decivilizados contra a civilização.

O que é o pobre índio em tudo isso? Maisuma vez, um pomo de discórdia, de lutas entre civilizados. Civilizados quequerem conservar a civilização, alguns recristianizando-a, outros afundando-anos erros que a agitam. E outros, ainda, tentando arrasá-la.

*   *   *

         Lido isto, o que fazer?

         Resista,brasileiro, a menos que tenha morrido em sua alma a fibra do cristão e dodesbravador dos outros tempos.

Se essa fibra tiver morrido, não hámesmo remédio: os demolidores brancos chegarão, num ato de suicídio, a arrasara obra de seus maiores. Com vantagem, bem entendido, de novas formas de propagandado imperialismo vermelho.

Será esta uma consequência inevitável detal situação, uma vez que, mesmo os melhores, não tenham tido mais nem a Fé nema fibra de antigamente.

Cumpre esperar que até este ponto nãohajam caído as coisas. Pois muitas e alentadoras razões há de esperança.

         Leitor,interesse-se. Divulgue de todos os modos, em torno de si, o conhecimento dainvestida “neocomunista”. E lhe caberá a glória de ter contribuído, com suavoz, para o grande brado de alerta que pode salvar o Brasil.

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Catolicismo é uma revista mensal de cultura que, desde sua fundação, há mais de meio século, defende os valores da Civilização Cristã no Brasil. A publicação apresenta a seus leitores temas de caráter cultural, em seus mais diversos aspectos, e de atualidade, sob o prisma da doutrina católica. Teve ela inicio em janeiro de 1951, por inspiração do insigne líder católico Plinio Corrêa de Oliveira. Assine já a revista e também ajude as atividades do IPCO! Acesse: ipco.org.br/revistacatolicismo

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