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Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

Como formar um jovem católico face ao mundo moderno


       Com áudio e texto. Como reagir contra a onda revolucionária?

Com áudio e texto.

Dr Plinio mostra, com exemplos, sua luta contra a Revolução nos primeiros anos de colégio.

Foi durante esse período que ele formou a ideia de Revolução, suas molas propulsoras, o orgulho e a sensualidade. Os meninos igualitários eram ao mesmo tempo impuros, brutos, linguagem vulgar.


Colégio São Luiz, 1920. Notei desde logo um choque entre a mentalidade dominante e a minha formação em família

Extraímos o trecho de uma conferência para amigos e simpatizantes da TFP, 1989. Acompanhemos passo a passo essa luta pela perserverança na virtude.

***

“Palavras de ânimo, entusiasmo e convicção para levar a luta, até durante o Reino de Maria

      Estas palavras são, então, palavras de ânimo, de entusiasmo, de convicção. Vamos cada vez mais para a frente nesta luta, trabalhando na tarefa específica da TFP, o da opinião pública, para que se realize aquilo que aqui se simbolizou: coortes de pessoas dedicadas que não se incomodam com as risotas, com o desprezo, com a campanha de silêncio, com as máfias nem as calúnias, mas, debaixo da saraivada e do granizo de tudo isso, vão para a frente, marcham até que no seu caminho encontrem Nossa Senhora, e ali [Palmas] onde o Reino de Maria despontar, terá despontado a nossa vitória.

      Terá cessado a nossa luta? Não! Porque mesmo no Reino de Maria será dado ao demônio tentar os homens. Ali, também, nos caberá ser argutos, ser perspicazes; nos caberá reclamar medidas urgentes aos moles que não querem ver, porque nunca mais se repita a desgraça debaixo da qual nós hoje gememos. Esta é a nossa vida. De maneira que, nos momentos, desiguais no tempo, quando a Providência nos chamar para dar contas de nossa vida, e para – assim apraza a Nossa Senhora – ser apresentados por Ela a Deus, até o momento extremo de nossa vida, a nossa preocupação seja a preocupação firme e constante de saber se está tudo direito, tudo em ordem como Nossa Senhora quer.

* Últimos instantes de Felipe II, de São Francisco de Sales

      Eu li na biografia do rei Filipe II da Espanha – esse rei que eu tanto admiro – eu li esse fato extraordinário:

      Segundo a medicina daquele tempo, quando o doente – aqui há médicos, eu duvido muito da eficácia que a medicina daquele tempo ensinava, mas quem sabe tenha sido bom – vai agonizando assim naquele torpor, o modo de evitar a agonia, diziam eles, era produzir uma coisa que sobressaltasse o doente. E este levado pelo sobressalto, a vida voltava ele, pelo menos um pouquinho… Com Filipe II, o modo de o reacender um pouco era este: Diziam-lhe coisas agradáveis e o grande rei agonizava, num letargo e mantinha indiferente a tudo… Mas tinha uma caixa com relíquias, à sua cabeceira, que ele osculava. Era só mexer nessa caixa, de modo a fazer algum barulho que ele voltava a cabeça e olhava… Com aqueles olhos grandes e investigadores com os quais entrou para a História, para ver: “Será que alguém está mexendo com falta de respeito nas relíquias?” Aí ele se levantava inteiro. [Palmas]

      Eu não posso escapar à tentação de contar mais um fato análogo… Antes de Filipe II, agonizava em algum lugar da Sabóia, provavelmente em Annécy, o grande São Francisco de Sales, Doutor da Igreja e Bispo-Príncipe de Genebra. Ele agonizava lentamente, docemente, como o fora a vida dele e como o foram os seus escritos. O confessor jesuíta recebeu do médico esta recomendação: Diga-lhe uma coisa que o sobressalte. O confessor chegou-se ao doente, que já ouvia mal e disse-lhe alto: “Monsenhor, será que Vossa Excelência, no segredo de seu coração não professa as doutrinas de Calvino?” – Ele [imediatamente]: “Não!”

* O que eu desejo para todos que pertencem à família de almas da TFP

      Eu quero que, quanto tiver chegado o extremo momento de todos aqueles que pertencem à família de almas da TFP ou ainda lhe vierem a pertencer, alguém, ao lhes perguntar: “Há alguma no seu espírito da jaça revolucionária?”, logo se sobressalte e diga: “Não!” [Palmas]

      Já que nosso trabalho é de luta contra a opinião pública, falemos um pouco dela, para que não se demore por demais esta reunião, que, segundo o relógio indica implacavelmente, vai chegando ao seu fim.

      O que vem a ser essa opinião pública dentro da qual, ou, por outra, dentro da qual devemos lutar – sempre dentro dela e, às vezes, contra ela; tantas vezes em nossos dias contra ela?

* Uma reminiscência, para se entender o que é a opinião pública: os alunos do colégio São Luiz

      Permitam-me dar uma reminiscência… Eu era menino, ainda muito menino, tinha dez anos, quando entrei para o colégio São Luis. Notei desde logo um choque entre a mentalidade dominante entre os meus jovens companheiros de estudos e a mentalidade do ambiente onde eu fora formado. Era um choque tão frontal, de todos os modos e de todas as modas, que me causou uma estranheza, que me tomou por inteiro. Eu compreendi que aquele era um caminho, e o que eu tinha aprendido em minha casa era outro, diferente.

      A diferença era: aqueles todos estavam dispostos a me combater, a caçoar do mim, para me obrigar a seguir o caminho deles. E que eu, de meu lado, se tivesse meios, obrigá-los-ia pela persuasão, pela convicção, pela raciocínio, a seguir o meu caminho. Havia duas forças em sentidos opostos: uma era a deles; outra, a minha.

      Eu representava uma série de coisas; eles representavam o mundo moderno como no ano de mil novecentos e… não sei: dezessete, dezoito, dezenove, mais ou menos, vinha emergindo da tragédia da primeira guerra mundial e penetrando nas alegrias, que duraram tão pouco, e que, em francês, se chama entre-deux-guerres (entre as duas guerras), as duas catástrofes: a Primeira e Segunda guerras mundiais. Era uma alegria, uma esperança, uma euforia…

      Era também uma ignorância de Deus, um mero colocar a sua esperança nas coisas da Terra. Uma certeza otimista infundada de que o mundo seria uma grande gargalhada, uma grande alegria. Não se pensava no fim dessa gargalhada, que tinha que ser para todo o mundo, no fundo, a morte. Não se falava da morte, não se pensava na morte! Era uma espécie de vida eterna na Terra que as pessoas desejavam, sem ousar esperar. Era o mundo do jazz band que ia intercorrendo com suas primeiras cacofonias, precursoras das músicas pós-Sorbonne.

      Eu percebi que, embora – e este é o ponto delicado, para se entender bem o que é opinião pública – não fosse nada combinado, e ainda não houvesse nada articulado, quem opinasse num sentido diferente do meio ambiente, seria objeto de uma caçada comum da parte de uma boa parte das pessoas. A presença de um que estivesse em desacordo, provocava um mal-estar tem todos, uma oposição em todos, uma perseguição da parte de todos.

* Incompatibilidade temperamental com o jogo de futebol

      Essa perseguição sentia-a muito bem, quando uma vez, em pé, no pátio do colégio – imaginem o que fazia; se alguém estiver em desacordo comigo eu lamento-o, mas não mudarei nem um pouco o meu modo de pensar – eu tinha uma incompatibilidade temperamental e fundamental com o futebol.

      Todos os meus colegas o jogavam no meio do intervalo das aulas. Eu não podia compreender – eu que gostava de jogar xadrez – que se fizesse dos pés o principal elemento de diversão do homem. Era uma coisa que…

      Há aqui [na cabeça] uma coisa que não é pé e que serve para divertir e interessar mais o homem do que a chanca do futebol e o pezão do futebolista: Que negócio é esse? Não jogava futebol. E ficava andando no recreio, de um lado para outro, sem provocar ninguém, sem criticar ninguém, mas sem participar de nada. Era como se as bolas se tornassem mais pesadas; as chancas mais pesadas; o chão mais poeirento e a partida de futebol atropelada. Por quê? Porque um não estava de acordo! [Palmas]

* O revide da pedrada na têmpora…

      Acontecia que nos intervalos de aula eu não tinha companheiros, porque ninguém queria estar à margem do jogo, andando de um lado para outro, filosofando comigo. Filosofando, como pode filosofar um menino de dez anos… Andava de um lado para outro, e pensando mais ou menos coisas destas… De repente, sinto uma pedra que voa de um dos lados do recreio e vai direto bater aqui na minha têmpora, fazendo um ferimento sério.

      Naquele tempo se achava – não sei se é o mesmo o que a medicina diz hoje – que uma pedrada forte na têmpora podia ocasionar facilmente a morte. Portanto, a pontaria fora bem feita: o intuito era matar. O agressor era um menino, e sabendo eu quem era – não foi um assassino depois.

      Os senhores compreendem o vigor de uma oposição geral de todos contra a minha atitude, porque estava em desacordo com um modo de ser e de pensar, que eles defendiam e que era esta espécie de contra Credo. Defendiam-no como eu nunca vira alguém defender o Credo.

* Solidaridade dos maus contra os bons

      Compreendi isto e pensei: Não tenho diante de mim apenas uma soma de pessoas, mas tenho uma coligação de pessoas. Ligadas, no sentido etimológico da palavra: co-ligadas – ligadas umas com as outras por um reflexo; ligadas umas com as outras por uma solidariedade, profunda, e que vinha da semelhança delas entre si e da dissemelhança comigo. O que eu deveria fazer era estudar o modo de eu, sozinho, desarticular aquilo. Isso, eu o faria. [Palmas]

      Anos e anos depois… Tinha talvez uns trinta anos, caiu-me nas mãos um escrito do grande São João Bosco, que era a confirmação das minhas débeis e fracas percepções de menino de colégio. Ele dizia o seguinte: a solidariedade dos alunos maus, uns com os outros, era uma coisa incrível. Bastava um aluno ruim entrar no colégio que, em poucos dias, ficava conhecendo quais eram os todos os outros alunos ruins do colégio e ficavam solidários entre si, para fazer oposição aos padres, aos diretores do colégio, aos vigilantes, enfim, aos que representavam a ordem dentro do colégio, coligados por uma união de sentimentos, que era a união que sentira entre os meus colegas.

* Futricando com o meu canivete na rocha da opinião pública

      Eu pensei: não podendo desarticular essas moles de pedras enormes, vou meter o meu canivete pelo menos entre dois pedregulhos… E vou ver no que dará. Vou – desculpem-me a palavra – futricar nesse negócio para ver o que sai.

      Eu percebo que tal colega meu não tem apenas como ídolo as chancas do futebol, mas que é um menino inteligente e que lê. Percebo que aquele outro presta atenção e conversa com este que lê. Percebo que aquele outro também lê. Quem lê, tem alguma coisa na alma que não é apenas a torcida de futebol. Eu vou ver se me ponho a conversar com um, depois com outro, outro e outro, durante o recreio, desviando as atenções do futebol. Assim, faremos uma roda de discutidores entre nós, iniciando uma espécie de batebola do espírito, que faça fronda ao batebola dos pés.

* Logo que respirei, parece que me senti monarquista!

      Aproximando-me de um, outro e outro, formamos uma rodinha, sem que os amantes do futebol percebessem que eu estava formando tal rodinha.

      Desde logo, se verificou que não pensavam como eu, porque era uma época em que o problema monarquia e república se discutia muito ainda, e eu provinha de uma família que um bom número de membros era monarquista, e eu, desde tenra idade – D. Bertrand sabe disso, embora quem fosse pequeno naquele tempo era o pai dele – me sentia monarquia. Logo que respirei, parece que me senti monarquista. [Palmas]

      Bom, muito mais do que isso, infelizmente já no tempo de menino, no meu tempo, era moda ser ateu. E vários daqueles colegas com quem eu discutia eram ateus militantes. Antes mesmo de me sentir monarquista, eu me sentira católico. [Palmas] Eles eram ateus. Não faz mal. Isso dava em discussões aos berros.

      Criança não sabe argumentar bem, berra. Vai e fala mais alto.. Graças a Deus, eu tinha voz bem alta. O berreiro obedecia à minha intenção: prendia atenção dos jogavam futebol. E abria um outro pólo, um outro estilo, um outro lugar dentro do espaço mental das pessoas do colégio São Luis. O futebol continuou a ser jogado, ninguém derruba o ídolo facilmente.

* A corrente dos que gostavam de ideias

      Em breve, uma corrente de não footballers começou a assistir às nossas discussões, começou a interessar-se por nossas pelejas. A maior parte estava em desacordo comigo, mas ia-me ver brigar comos outros. Com isso, eu tinha conseguido uma fissura e um tanto de alheamento e de afastamento da posição inicial, rumo a um estilo e a um nível mais alto, a alguma coisa, onde a palavra cultura tivesse sua significação. Cultura, que eu só concebia enquanto católica, e que eu afirmava e proclamava que havia uma verdadeira: a Católica Apostólica Romana. [Palmas]

* Dez anos de solidão; uma esperança me dizia: “Tu encontrarás!”

      A condição para este resultado ser alcançado, era o primeiro passo numa longa vida com batalhas assim, foi que eu não me incomodasse nem de ser apedrejado, nem que se berrasse comigo, nem que se risse de mim, mas que fosse para a frente, não restituindo uma pedra com outra pedra, mas restituindo à pedra com um argumento. Interpelando: se tiver coragem responda, eu argumento é este. Vamos ver!

      Essa experiência durou o resto de minha vida.

      Eu passei dos dez ao vinte anos, procurando entre as pessoas de meu tempo quem pensasse como eu. Entre os meus parentes tinha bons amigos, com os quais eu tinha convívio muito agradável, muito interessante, pois eram muito espirituosos. Enfim, eu tinha cem afinidades de família com eles, como era natural… Mas, não pensavam como eu.

      Eu queria quem pensasse como eu para abrir a cruzada dos que pensavam como eu, ou seja, dos que fossem católicos até o fim do caminho. Passei dez anos!

      Dez anos, quando se está entre os dez e os vinte, [parece uma eternidade] eu passei-os sem encontrar ninguém. Mas, não deixei de procurar. A cada momento de uma procura: uma decepção. Nunca, depois, um desânimo. Uma esperança estava em mim, que me dizia: “Tu encontrarás!”

      A cidade de São Paulo era pequena naquele tempo: estava-se nos anos entre vinte e trinta [deste século]. Talvez a cidade tivesse ums trezentos mil habitantes… Comparem este moloque com treze a quinze milhões de habitantes, e compreendam como as circunstâncias se modificaram. No meu tempo de mocinho, de adolescente, podia-se imaginar que se conhecida São Paulo inteiro. Mais ou menos, grosso modo era verdade. Não aparecia ninguém! E se havia uma coisa que era censurada por todos e desprezada por todos era o moço católico. O moço católico era o símbolo da vergonha e do ridículo. Dizia-se que era um maricas, um efeminado, que era um homem sem pulso nem impulso de força, de varonilidade, de capacidade de realizar; um anacrônico, mofado nas poeiras do passado. Entretanto, eu ia para a frente…

Encontrei jovens do Congresso da Mocidade Católica

      Até que um dia, eu passando de bonde – ele chegava até lá nesse tempo – na Praça do Patriarca, passei em frente da igreja de Santo Antônio, e vi um cartaz de pano grande, que cobria em toda a sua extensão a fachada da igreja: “Do dia tanto a tanto de setembro – 1º Congresso da Mocidade Católica – Inscrições em tal endereço”. Mas é uma coisa tão boa, que nem posso acreditar. Será isso mesmo?

      Tomei nota do endereço, no dia seguinte compareci: era isso mesmo. Era uma tentativa da Arquidiocese de São Paulo, por meio dos vários párocos de São Paulo, de convocar uma reunião de moços católicos. A reunião deveria realizar-se na igreja de São Bento, a do Mosteiro, transformado para esse efeito em salão, onde havia conferências etc. Um véu encobria o presbitério com o altar-mor, onde se realiza o Santo Sacrifício da Missa, onde houvesse, talvez, naquele tempo o Santíssimo Sacramento. Não me lembro… E quem se inscrevia, recebia uma fitazinha azul, tendo pendente uma medalha de Nossa Senhora. Bonita medalha, cunhada em Roma.

      Eu fui ao Congresso da Mocidade Católica. Mas com tanta ânsia, com tanta esperança de encontrar outros congêneres comigo, com quem iniciar essa cruzada, que eu de sobressalto juvenil, já pus a fita ao pescoço ao tomar o bonde que ia para o São Bento. Para todos verem, para verificar se algum também lá não ia…

      Cheguei ao São Bento e encontrei, com pasmo para mim, a igreja cheia de moços. Eram coletados pelos vigários nas várias paróquias de São Paulo. Estava começado o Movimento das Congregações Marianas.

* O jogo da opinião pública: começa a ser bonito ser católico

      Aí eu presenciei uma coisa como nunca tinha imaginado: o fenômeno de opinião pública. E aqui nós voltamos a ele… Até aquele momento era ridículo, isto, aquilo e aquele outro um indivíduo ser católico; ser congregado mariano, nem se fala! Nem se sabia bem o que era ser congregado mariano: era o carola multiplicado pelo carola. Era a idéia que faziam.

* Carola dando pontapé em primo ateu

      Eu lembro-me de um fato que não vai edificar os senhores e menos ainda as senhoras. Eu tinha um primo que era amigo meu, muito chegado, e que tinha as idéias opostas à minha. Vivia muito em [minha] casa.

      Numa ocasião eu estava, era já noite, antes de jantar, numa espécie de sofá, deitado. E lendo a vida de um dos tzares Romanoff ou alguma coisa assim. Ele entrou no meu quarto, sem bater, e sentou diante de uma cadeira giratória, diante de mim. Olhou-me, perguntado: “Como vai você?” Eu respondi-lhe: “Bem, e você como está?” Ele olhou para o meu criado mudo e viu uma imagem de Nossa Senhora que eu tinha comprado há pouco, pois eu tinha entrado para a Congregação Mariana. E logo perguntou [em tom de debique]: “O que é isso?”. “Você não está vendo? É uma imagem de Nossa Senhora!” Porque, com essa gente, é preciso pular-lhe no pescoço. Como verão, eu levei o pulo longe demais… Ele atacou: “Isto é ridículo… E esse rosarinho, o que é esse rosarinho azul aqui?” – “É um rosário de carola que eu comprei, para dizer para gente como você que eu sou carola!” Eu sabia que essas coisas só se enfrentam assim: metendo o peito!  Ainda mais… [Palmas] de moço para moço. E de moço daquele tempo para moço daquele tempo.

      Ele disse-me um desaforo qualquer de que não me lembro o que foi… Ele estava sentado de tal modo que estava ao alcance preciso do meu pé. Eu estava calçado… Eu virei-me ligeiramente e meti-lhe um pontapé no peito, tão profundo, que a cadeira giratória em que ele estava voltou-se para trás, e bateu numa mesa, rachando-se o encosto. [Palmas]

      Ele saiu sem poder falar e arfando… Fumando e arfando – o fumar, dava a entender que os pulmões estavam em ordem e que não havia grande perigo –, ele saiu arfando e eu continuei nos meus Romanoff.

      Daí a pouco, vieram chamar-me para jantar. E eu fui jantar. Durante este, ele apareceu. Como ele era da família, puxou de uma cadeira, sentou-se e começou a jantar também. Todos conversamos e ele pelo meio também… Em certo momento, eu terminei de jantar e estava querendo ir para a Congregação. Levantei-me. Ele levantou-se também. E quando estávamos os dois sozinhos no corredor contíguo à sala de jantar, ele disse-me: “Olha, o pontapé que você me deu não foi nada em comparação com o sorriso de superioridade que você me deu, quando me viu entrar na sala”. Não era verdade, pois não tinha dado esse sorriso. Era a desconfiança dele: ainda era a cicatriz do pontapé. Eu aí procurei aquietá-lo: “Não, não foi. Eu não sorri, não é verdade”. E não tinha sorrido mesmo, nem me tinha passado a idéia de superioridade pela cabeça.

      Ele despediu-se. E eu fui a pé para a Congregação, pensando: “Eu vejo afinal que um que sustenta a boa doutrina toma uma atitude que até põe nessa posição de inferioridade quem sustenta a doutrina má. A batalha de opinião pública está sendo ganha. [Palmas]

* A “avis rarissima” tornou-se moda: moço católico

      Quando em todas as paróquias de São Paulo, talvez por ordem desse Arcebispo – que eu admirei profundamente, e que foi D. Duarte Leopoldo e Silva, Arcebispo de São Paulo – todos os padres começaram a aglutinar moços, chegava-se à Missa das oito ou das nove, conforme a paróquia – em geral era uma Missa muito freqüentada – se via entrar uma fila de cinco, de dez, depois de vinte, depois de cinqüenta, às vezes até duzentos moços cantando hinos marianos, e com a fita ao peito – ela mudou depois de forma e tal – em torno do pescoço, entoando “o Averno ruge enfurecido, Altar e Trono quer destruído. De mil soldados não teme a espada, quem pugna à sombra da Imaculada”, eu, que estava na fila, na minha congregação de Santa Cecília, olhava para o público, e sobretudo para os homens, que julgava tão feio ser-se católico…

      Para abreviar essa história, uns cinco ou sete anos depois, nesta cidade, onde o homem católico era uma avis rarissima tornou tão freqüente e tão prestigioso ser congregado mariano, que até pessoas não congregadas usavam ou queriam usar o distintivo da Congregação. E houve fabricantes que faziam sem licença o distintivos, pondo-os no comércio, para não-congregados fingirem de congregados. Estes, às vezes, tinham vontade de fingir que não eram. No fim, os não congregados fingiam que eram. Por quê? Porque ficou provado que não era uma minoria insignificante, era uma minoria grande, forte grande e aguerrida; minoria em franca expansão. E, com isso, a gargalhada cessou e a desarticulação caiu.

      Em São Paulo, pôde-se ser moço católico à vontade, sem atrair a caçoada. Isto foi mais ou menos em todas as grandes cidades do Brasil. E em muitas cidades médias e pequenas do Brasil.

* Princípio: se uma minoria aguerrida caminha para frente, cresce

      Estava ensinado o princípio: se uma minoria é aguerrida, forte, ufana de seus ideais e caminha para a frente, ela cresce, porque há sempre muita gente que não tem a coragem de dar o primeiro passo, mas que no fundo de sua fraqueza admira aqueles. E quando estes passam, vai-os acompanhando. É preciso que alguém rompa o gelo. Rompa o silêncio. Rompido este, o número começa a crescer. Crescendo o número, os outros começam a se calar. Em pouco tempo, o jogo está invertido: é a batalha de opinião pública que foi ganha. Não sei se isto está bem expresso?

* A missão dos correspondentes

      Os nossos correspondentes têm a missão de batalhar nesta grande luta da opinião pública, pelo seu exemplo, pela sua conduta, por tudo aquilo em que poreja de um verdadeiro católico que ele assim o é. E que é um verdadeiro contra-revolucionário, quer dizer, contra a esta onda de perdição que vai arrastando o mundo moderno.

      Nós estamos fazendo isto. Devemos repetir cada vez mais o bom exemplo, repetir cada vez mais a boa palavra, saber cada vez mais proclamar alto os nossos ideais e levantar alto os nossos estandartes. Aconteça o que acontecer, e ainda que o comunismo tenha todas as audácias, se ficarmos de estandarte de pé e proclamarmos a mesma coisa que os congregados marianos daquelas épocas heróicas: “O Averno ruge enfurecido Altar e Trono quer destruído. De mil soldados não teme a espada quem pugna à sombra da Imaculada”. No fim nós é que teremos quando a batalha da opinião pública. [Palmas]

* Os primeiros passos de uma grande batalha já foram dados

      É bem verdade, é bem verdade que essa batalha a ser ganha, já deu passos, senão não seríamos tão numerosos. Os senhores sabem onde é que se deu a primeira reunião geral da pré-TFP? Deu-se numa sala que talvez fosse um pouco maior do que este palco, em que estamos agora aqui. Alguns dos veteranos desse tempo estão aqui presentes. Era uma reunião de estudos com gente vinda de todo o Brasil, reunida em torno do então jornal mensário Catolicismo. Convidada por gente nossa. Mandávamos emissários visitar os assinantes de Catolicismo em torno o Brasil, para reunir gente para esses estudos. E, ao cabo de muitos anos, muitas décadas e muitas lutas, temos aqui enchendo esta sala uma parte apenas de nossos correspondentes de nosso território de tamanho continental. Esta é a realidade.

* Ideias gloriosas para um futuro próximo

      Não posso esquecer-me da primeira campanha, por ocasião de um de nossos encontros, em que senhores e senhoras tomaram parte, o espanto do público. Eu fui ver isso de uma janela do Hotel Oton, para medir as reações de opinião pública. Eu acompanhei com atenção.

      Não podiam caber em si que no nosso modo de agir e no nosso modo de lutar, as senhoras tivessem uma ação de presença tão significativa. E que a reunião de senhoras simpáticas e entusiasmadas, interessadas, em torno dos nossos que faziam propaganda pública houvesse de produzir aquele efeito. Foi tão magnífico que, para um grande encontro global e plenário dos correspondentes, que se dará no momento “X”, quando houver um impresso “Y” para fazer uma propaganda “Z”, pretenderemos reunir os correspondentes, as senhoras correspondentes, para inundar esta cidade. Se as circunstâncias econômicas permitirem, não a cidade de São Paulo, mas alguma outra cidade, para não ser sempre São Paulo, São Paulo, São Paulo. A questão é que fica mais econômico fazer, porque temos todos o embasamento, mas poderia ser o Rio e Belo Horizonte, poderia ser Porto Alegre, Recife e quanta outra cidade existe pelo Brasil…

      Quem sabe se se poderia sonhar com uma grande itinerância, em que pudéssemos percorrer as cinco grandes capitais do Brasil [Palmas] num encontro conjunto? Pois bem, quem sabe se nesta ocasião meteremos uma cunha mais funda nesse rochedo? Quem sabe se daqui a algum tempo a nossa preocupação será a de evitar que se fabrique este distintivo? Porque gente haverá que quererá bancar que é da TFP, porque está ficando moda ser da TFP. Este distintivo, o dos senhores correspondentes e o das senhoras correspondentes.

* Eu ponho ênfase no combater

      O passo para isto é o que eu já recomendei em anteriores ocasiões: cada um dos senhores e das senhoras, no meio em que está, fazer apostolado; falar, não deixar passar uma idéia errada, sem dizer: olhe, isto também se pode ver de tal outra maneira assim, e de tal outra… ; não deixar passar uma idéia certa, sem dizer: estou de acordo, muito bem, isso mesmo, é assim que se deve pensar; apoiar tudo o que deve ser apoiado; combater tudo o que deve ser combatido.

      Eu ponho ênfase no combater, porque, nós, brasileiros, somos campeões para apoiar, mas a questão é combater. Não somos um povo combativo. Nossos maiores o eram. Os heróis das guerras contra os holandeses, os heróis das lutas contra os índios, os heróis de todas as lutas que houve pela História do Brasil, esses eram combativos. Essa fibra heróica diminuiu em nós. É preciso que era ressuscite. É preciso que ela ressuscite nos lábios dos homens de Fé, das senhoras de Fé, a favor da Fé, para que o Brasil seja verdadeiramente a Terra de Nossa Senhora Aparecida, a Terra de Santa Cruz! [Palmas]

   ***

O exemplo do Prof. Plinio sirva de alento a tantos jovens de hoje que procuram um ideal católico em oposição à sociedade permissiva, impura e igualitária de nossos dias que pretende igualar os sexos, igualar as religiões, forjar uma Nova Ordem Mundial socialista e anticatólica.

Nossa Senhora Aparecida os guarde, preserve e os leve à luta pela Santa Igreja, pelo Brasil.

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Autor

Plinio Corrêa de Oliveira

Plinio Corrêa de Oliveira

551 artigos

Homem de fé, de pensamento, de luta e de ação, Plinio Corrêa de Oliveira (1908-1995) foi o fundador da TFP brasileira. Nele se inspiraram diversas organizações em dezenas de países, nos cinco continentes, principalmente as Associações em Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), que formam hoje a mais vasta rede de associações de inspiração católica dedicadas a combater o processo revolucionário que investe contra a Civilização Cristã. Ao longo de quase todo o século XX, Plinio Corrêa de Oliveira defendeu o Papado, a Igreja e o Ocidente Cristão contra os totalitarismos nazista e comunista, contra a influência deletéria do "american way of life", contra o processo de "autodemolição" da Igreja e tantas outras tentativas de destruição da Civilização Cristã. Considerado um dos maiores pensadores católicos da atualidade, foi descrito pelo renomado professor italiano Roberto de Mattei como o "Cruzado do Século XX".

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