Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
6 min — há 2 anos — Atualizado em: 2/27/2023, 7:17:20 PM
O apóstolo deve preocupar-se em omitir as verdades severas? Ou deve antes primar pela verdade? Reflexões úteis para aqueles sedentos de apoio midiático.
Prosseguimos a transcrição do capítulo A CONFIRMAÇÃO PELO NOVO TESTAMENTO do livro escrito pelo Prof. Plinio (1943) Em Defesa da Ação Católica. Lembramos, essa obra foi prefaciada pele então núncio apostólico no Brasil, D. Aloisi Masella. Os Santos Evangelhos recomendam misericórdia e justiça. Não se pode adotar o silêncio e ocultar sempre ao pecador seu estado de transgressão da Lei de Deus.
Os textos do Novo Testamento em que se patenteia a divina misericórdia de nosso dulcíssimo Salvador são todos eles bastante conhecidos entre os fiéis. Demos mil graças a Deus, por isto.
Infelizmente, porém, os que dão exemplos de severidade, argúcia e santa intransigência o são muito menos. Citamos alguns destes textos nas páginas anteriores. Para que se veja, porém, que não são só estes, e que o Novo Testamento nos dá com extraordinária frequência exemplos de intrepidez, perspicácia, fortaleza, examinemos agora um grande número de textos que inculcam estas virtudes, e que não tivemos ocasião de citar. Ver-se-á assim o papel relevantíssimo que três virtudes tem na Boa Nova do Filho de Deus e devem ter, portanto, no caráter de todo católico bem formado.
Pretendemos mostrar mais particularmente neste Capítulo, as numerosas passagens do Novo Testamento em que se apostrofam os pecadores, ou se flagelam os vícios da antiguidade pagã, ou do mundo judeu, com uma linguagem que pareceria inteiramente falha de caridade aos espíritos de nosso tempo.
Note-se, a este propósito, que o Santo Padre Pio XI, como já temos dito insistentemente, fez de nossa época uma descrição tão claramente severa, que chegou a dizer que estamos em tempos parecidos com os últimos, ou seja com uma época de iniqüidades verdadeiramente sem precedentes. Assim, não se pense que faltem hoje pecados e pecadores dignos de linguagem idêntica. Qual é, pois, esta caridade errônea, que faz desbotar-se em nossos lábios a palavra de Deus, transformando o flagelo regenerador dos povos em arma inócua, cuja falta de gume exprime melhor nossa timidez do que a indignação de nosso zelo?
Ainda aí – insistimos – devemos imitar o Salvador que soube alternar a severidade de linguagem com as provas de um amor infinito, de uma tal doçura e de uma tal mansidão que chegava a comover todos os corações retos. Nunca nos esqueçamos do papel supremo do amor, na economia do apostolado. Mas não caiamos daí para um unilateralismo estreito. Nem todos os corações se abrem à ação da graça. Dí-lo S. Pedro:
“Por isso se lê na Escritura: eis que eu ponho em Sião uma pedra principal, angular, escolhida, preciosa; e o que crer nela não será confundido. Ela é, pois, honra para vós que credes, mas, para os incrédulos, a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se cabeça no ângulo e pedra de tropeço, e pedra de escândalo para os que tropeçam na palavra e não crêem; é a isso que eles estão destinados” (I, S. Pedro 2, 6-8).
E para os que são refratários à doce linguagem do amor só há um processo, que é o desta linguagem:
“Adúlteros, não sabeis que a amizade deste mundo é inimiga de Deus? Portanto, todo aquele que quiser ser amigo deste século, constitui-se inimigo de Deus. Porventura imaginais que a Escritura diz em vão: o Espírito que habita em vós ama-vos com ciúme” (S. Tg. 4, 4-5)?
Incitemos francamente as almas à penitência:
“Senti a vossa miséria, e lamentai e chorai; converta-se o vosso riso em luto e a vossa alegria em tristeza” (S. Tg. 4, 9).
E não procuremos um modo de fazer apostolado, em que omitamos o lado terrível das dulcíssimas verdades que pregamos:
“Porque Cristo não me enviou a batizar, mas a pregar o Evangelho, não com a sabedoria das palavras, para que não se torne inútil a cruz de Cristo. Porque a palavra da cruz é uma loucura para os que se perdem, mas, para os que se salvam, isto é, para nós, é a virtude de Deus. Porque está escrito: “Destruirei a sabedoria dos sábios, e reprovarei a prudência dos prudentes. Onde está o sábio? Onde o doutor? Onde o indagador deste século? Porventura não convenceu Deus de loucura a sabedoria deste mundo? Porque, como ante a sabedoria de Deus não conheceu o mundo a Deus pela sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes por meio da loucura da pregação. Porque os judeus exigem milagres, e os gregos procuram a sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, porque é escândalo para os judeus, e loucura para os gentios, mas, para os que são chamados (à salvação) quer dos judeus, quer dos gregos, é Cristo virtude de Deus, e sabedoria de Deus” (1 Cor. 1, 17-24).
“Eu pois quando fui ter convosco, irmãos, anunciar-vos o testemunho de Cristo, não fui com sublimidades de estilo ou de sabedoria. Porque julguei (que) não (devia) saber coisa alguma entre vós senão a Jesus Cristo, e este crucificado. E eu estive entre vós com fraqueza e temor e grande temor; e a minha conversação e a minha pregação não (consistiram) em palavras persuasivas da humana sabedoria, mas na manifestação do espírito e da virtude (de Deus); para que a vossa fé se não baseie sobre a sabedoria dos homens mas sobre o poder de Deus” (1 Cor. 2, 1-5).
Não procuremos uma linguagem que não crie descontentes, porque o apostolado reto os suscita em grande número.
“Ora nós não recebemos o espírito deste mundo, mas o espírito que vem de Deus, para conhecermos as coisas, que por Deus nos foram dadas; as quais também anunciamos, não com palavras doutas de humana sabedoria, mas com a doutrina do Espírito, adaptando o espiritual ao espiritual. Mas o homem animal não percebe aquelas coisas que são do Espírito de Deus, porque elas se ponderam espiritualmente. Mas o espiritual julga todas as coisas; e ele não é julgado por ninguém” (1 Cor. 2, 12-15).
Passaremos às vezes por loucos, mas pouco importa:
“Ninguém se engane a si mesmo; se alguém dentre vós se tem por sábio segundo este mundo, faça-se insensato para ser sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus. Pois está escrito: Eu apanharei os sábios na sua própria astúcia”. (1 Cor. 3, 18-19).
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Fica aí a lição dos Evangelhos a todos nós: a doçura e a severidade são empregadas por Nosso Senhor em seu Divino Apostolado. Imitemos o Divino Mestre e não ocultemos as verdades difíceis quando o dever nos chama. Nossa missão é proclamar a verdade e não sermos mendigos de popularidade.
Fonte: https://www.pliniocorreadeoliveira.info/ED_0501confirmacaonovotestamento.htm
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