Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
7 min — há 10 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 8:51:32 PM
Por falta de um entendimento adequado sobre a verdade inquestionável da assistência do Espírito Santo à Igreja, muitos católicos ficam confusos e inseguros.
Não querendo ir contra essa verdade, eles procuram, muitas vezes, negar a realidade de certos fatos ou o sentido evidente de certas afirmações que parecem contrariar essa divina assistência.
Ficam assim enredados num dilema aparentemente sem saída: ou negar os fatos ou negar a assistência do Espírito Santo à Igreja.
Trata-se de um falso dilema que resulta de uma concepção um tanto simplista da atuação do Espírito Santo na Igreja. Confunde-se “assistência” do Paráclito, efeito da providência especial de Deus sobre sua Igreja, com um governo direto que substitui os homens ou elimina seu livre arbítrio.(1)
Não é assim. Embora Jesus Cristo tenha prometido a ajuda do Consolador, Ele desejou que a Igreja fosse governada por homens, que têm a ajuda especial do Espírito Santo, mas que não são impecáveis, não estão isentos das tentações do demônio, do mundo e da carne.
Dessa forma, embora o Paráclito assista com graças especiais os membros da Hierarquia, tal assistência não elimina o livre-arbítrio nem a tendência para o mal herdada do pecado original.
Por outro lado, é preciso ter em conta que essa ação especial da Divina Providência não apenas favorece o bem, mas, para provação nossa e castigo dos pecados, muitas vezes permite a ocorrência do mal no elemento humano da Igreja.(2)
Portanto, não se pode invocar a assistência do Espírito Santo à Igreja como justificativa para qualquer desvio, imprudência ou escândalo, como se, em vez de ser uma mera permissão, se tratasse de um ato da vontade divina.
É bem evidente que Deus não pode aceitar que se deturpe fatos evidentes ou suficientemente documentados, como recurso para “salvar” a santidade da Igreja.
Tal atitude seria ir contra a verdade e, portanto, contra a santidade da Igreja. Ela foi seriamente condenada pelo Papa Leão XIII (1878-1903) que utilizou as próprias palavras inspiradas do livro de Jó (13:7): “Deus não tem necessidade de nossas mentiras.”
Pelo contrário, acentuou o Pontífice, “O historiador da Igreja estará melhor preparado para ressaltar sua divina origem […] quanto mais ele for leal em não mitigar as crises pelas quais, por falta de seus filhos e, por vezes de seus ministros, passou a Esposa de Cristo durante o decurso dos séculos. Estudada dessa maneira, a História da Igreja constitui, por si mesma, uma magnífica e concludente demonstração da verdade e divindade do Cristianismo.”(3)
Ao abrir os Arquivos Secretos do Vaticano aos historiadores, o mesmo Papa insistiu: “Não diga nada falso, não cale nada verdadeiro.”(4)
Ninguém que tenha um conhecimento suficiente da História da Igreja pode negar as crises pelas quais ela tem passado e a fraqueza ou atitude escandalosa de muitos Papas.
Assim, o Papa Pio XII (1939-1958) em sua Encíclica Mystici Corporis Christi, explica que “se às vezes na Igreja se vê algo em que se manifesta a fraqueza humana, isso não deve atribuir-se a sua constituição jurídica, mas àquela lamentável inclinação do homem para o mal, que seu divino Fundador às vezes permite até nos membros mais altos do seu corpo místico para provar a virtude das ovelhas e dos pastores e para que em todos cresçam os méritos da fé cristã.”(5)
É por essa razão que historiadores católicos, — como Ludwig von Pastor, cuja monumental História dos Papas recebeu elogios do Papa Leão XIII —, não hesitaram em apresentar de modo claro e documentado os desmandos e escândalos de Papas.
Ninguém pode supor, por exemplo, que o Espírito Santo, que assiste aos Conclaves, tenha querido ou favorecido a escolha do Cardeal Rodrigo de Borja, para se tornar o Papa Alexandre VI (1492-1503), embora ele fosse publicamente conhecido como pai de quatro filhos de sua concubina Vannoza dei Cattanei e outros de outras mulheres.(6)
É evidente que aí se tratou de uma permissão, para castigo da humanidade, inebriada com o paganismo renascentista.
Do mesmo modo, não se pode atribuir à vontade divina a elevação ao papado de Bento IX (1032-1044) sobre o qual escreve o historiador Fr. Joseph Brusher S.J.: “Um jovem, provavelmente de vinte anos de idade, ele era um clérigo. Essa era talvez a sua única qualificação para o papado. Desqualificado por sua juventude, por sua educação, por sua depravação, Bento IX foi um dos poucos Papas desonrados.”(7)
O verbete da The Catholic Encyclopedia é mais incisivo: “Ele foi uma desgraça para a Cátedra de Pedro.”(8)
Tendo bem clara a distinção entre a manifestação da vontade efetiva de Deus e a sua mera permissão, fica patente que a assistência do Divino Espírito Santo à Igreja não impede que haja infidelidades e crises.
Por outro lado, como vimos acima pelos textos dos Papas Leão XIII e Pio XII, tais infidelidades e crises, longe de contrariarem a santidade da Igreja, ressaltam como somente uma instituição de origem divina poderia perdurar pelos séculos, apesar da fraqueza humana e da tendência para o mal que é a herança do pecado original.
Mas mesmo nas épocas das piores crises pelas quais passou a Igreja, graças à assistência do Espírito Santo, ela nunca deixou de santificar através dos sacramentos, de apresentar a verdade, ainda que, muitas vezes, seja requerido grande esforço dos católicos para se manterem fiéis a ela — como na crise do Arianismo, por exemplo.
A crise atual — que é uma extensão, um prolongamento da crise da heresia modernista denunciada por São Pio X — está chegando a um tal auge que desencoraja a muitos.
Nas mais altas esferas de direção da Igreja se discute a possibilidade de ministrar a Sagrada Comunhão a pessoas em estado objetivo de pecado mortal e se chega a ver “dons” úteis ao cristianismo nas relações homossexuais.
Uma compreensão melhor da assistência do Espírito Santo, entendendo que esta assistência não é somente positiva, no sentido de impulsionar o zelo pela doutrina e pela salvação das almas — o que, de uma maneira ou outra Ele sempre promove — mas existe também a sua permissão para que o mal ocorra, para nos provar e em castigo dos pecados da humanidade.(9)
Assim como os fiéis, seguindo o exemplo de bispos como Santo Atanásio e Santo Hilário de Poitiers, resistiram à tremenda crise do Arianismo, nós devemos também, com a certeza do auxílio da divina Providência, resistir “fortes na fé” (1Peter 5:9).
Mais do que nunca, neste período de trevas e confusão, devemos recorrer sempre à intercessão de Maria Santíssima, a qual “sozinha derrotou todas as heresias.”(10)
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Notas:
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