Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
5 min — há 10 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 8:54:09 PM
Desde o século XV, centenas de milhares de peregrinos vão todos os anos a este santuário implorar a proteção da Virgem Padroeira da Croácia
Foi como se Nossa Senhora arranjasse tudo para que eu fosse até o Santuário de Marija Bistrica. Com efeito, tendo surgido uma dificuldade de último momento a um membro de TFP da Polônia que deveria entrevistar-se com uma personalidade na Croácia, ele não pôde ir. Pediu-me então que o substituísse. Como eu nunca havia estado ali e desejava conhecer o país, aceitei o convite, tendo recebido do amigo polonês a passagem e a reserva de hotel.
Tão logo cheguei à localidade, comprei um mapa para saber onde se encontrava o Santuário Nacional de Marija Bistrica, cuja história eu já havia abordado em matéria publicada em Catolicismo (abril/1999). Ele ficava a poucos quilômetros do hotel e as estradas eram extremamente pitorescas. Como a personalidade objeto de minha visita dissera que só poderia receber-me à tarde, aquela ida ao Santuário mariano pareceu-me oportuna.
Marija Bistrica é uma cidadezinha com cerca de mil habitantes. O Santuário situa-se no topo de uma colina, dominando o ambiente. Ele não só é imponente e colorido, mas ocupa o centro de tudo. A primeira impressão de limpeza agrada enormemente, pois esta é uma característica da alma ordenada. A sujeira, pelo contrário, reflete o pecado. A segunda impressão — típica de muitos santuários católicos — é que, mesmo sendo grande o número de peregrinos, quase não existe polícia no entorno. Pela simples razão de reinar a ordem, as pessoas se comportam retamente, com paciência e calma, bastando uma corda para que ninguém avance para a zona interditada. Bem ao contrário dos locais de concertos de rock pesado, onde não há barreira capaz de controlar a intemperança dos assistentes.
A entrada do Santuário situa-se na praça principal do vilarejo situa-se a entrada do santuário. Nesta há um busto do heróico cardeal Aloisi Stepinac, hoje beatificado, vítima do regime comunista do ditador Josip Broz Tito — aliás, bastante celebrado pela mídia pseudo-conservadora do Ocidente nos anos 70. Do cardeal, existem retratos por toda parte; do segundo, de sinistra memória, ninguém quer se lembrar…
Logo à esquerda da entrada encontra-se a denominada Galeria dos milagres. Trata-se de um corredor com belos arcos e colunas, ostentando na parede esquerda numerosas placas [FOTO ABAIXO] com agradecimentos de graças materiais e espirituais concedidas por Nossa Senhora. Na parte superior da galeria são lembrados vários dos milagres mais conhecidos operados por intercessão da Virgem de Bistrica. Há pinturas alusivas ao incêndio de 1880, quando o interior da igreja ficou totalmente queimado, exceto o altar-mor, onde se encontra a imagem de Nossa Senhora. Os soldados foram especialmente beneficiados por vários milagres, pois a liberdade do povo croata esteve bastante ameaçada. Ele teve de lutar incessantemente durante vários séculos contra os inimigos da fé católica, tanto os turcos muçulmanos quanto os greco-cismáticos, ou ainda os liberais anticatólicos do século XIX. Em face disso, compreende-se que a placa situada logo à entrada recorde a segunda vez em que a imagem foi encontrada de forma milagrosa.
Com efeito, em meio às guerras contra os turcos, eram frequentes as cavalgadas inimigas chegarem de repente a um local, destruindo ou profanando tudo. Para preservar a imagem, em 1545 o pároco escondeu-a pela primeira vez. Por algum motivo, não chegou revelar a ninguém o local onde a deixara. Por isso, só em 1588, graças a uma luminosidade milagrosa, ela foi descoberta. Em 1650, foi preciso escondê-la por uma segunda vez, tendo sido novamente recuperada graças a um milagre ainda mais impressionante, conforme o relato publicado na edição de Catolicismo (abril/1999).
Encontro-me na entrada da igreja. Sua fachada é imponente, ornada com várias imagens. Acima de todas elas existe uma de Nossa Senhora como Rainha da Criação, ladeada pelos Apóstolos São Pedro e São Paulo; num nicho central está colocada uma imagem do Sagrado Coração de Jesus.
Ao entrar na igreja, tem-se uma primeira surpresa. O templo é bem menor do que sua fachada faz supor. No entanto, milhares de peregrinos acorrem ao Santuário a cada ano. Há sempre um sacerdote para quem deseja se confessar. O altar é ornamentado com bonitos arranjos de flores colocados por uma religiosa. E algumas freiras se esforçam por manter a ordem no ambiente de forma impecável. Vestidas com hábitos tradicionais de cor marrom, elas podem ser vistas rezando nas proximidades do altar.
A imagem miraculosa é negra e tem mais ou menos um metro de altura. Análises recentes revelaram que o negro não é sua cor original. Ela é piedosa sem ser artística, não podendo, sob este ponto de vista, ser comparada com as imagens sevilhanas ou francesas, por exemplo, que constituem verdadeiras obras de arte. O artista era alguma pessoa do local, cujo nome não se conservou. Mas Deus o conhece. E o premiou, pois ele teve o reto desejo de honrar Nossa Senhora empregando o melhor de seu talento para esculpi-la. E é justamente isso que a torna atraente. Ela representa a mãe por excelência — a Mãe de Deus e nossa. Embora a beleza de Nossa Senhora seja natural e sobrenaturalmente insondável, o que importa acima de tudo para um filho é que sua mãe tenha beleza espiritual. A imagem representa bem essa mãe — uma senhora virtuosíssima e solícita em relação a seus filhos. Já a coroa e as vestes da imagem são artísticas, o que ajuda a atrair os devotos, pois é natural que todo filho deseje para sua mãe o que há de melhor.
Percebi em Marija Bistrica, como também em outros santuários marianos, uma nota típica: mescla de melancolia e de esperança. Basta, para isso, analisar as fisionomias dos que entram e dos que saem do santuário. Por vezes entram aflitos, com passos rápidos, mas saem distendidos, caminhando lentamente… A boa Mãe apaziguou a alma de seus filhos provados com as cruzes deste Vale de Lágrimas…
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