Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
Jeremias Christiansen, ex-mórmon, mergulha em estudo e reflexão, questionando sua fé. Após descobertas, ele e sua família se convertem ao catolicismo em 2021.
7 min — há 1 ano — Atualizado em: 8/31/2023, 8:16:07 AM
Ao lado de um sacerdote, Jeremias Christiansen, sua esposa e filhos
Agraça de Deus age de modo inesperado, onde e quando menos se pensa. Para mudar determinada situação por outra aparentemente o seu contrário, não são necessárias à Providência Divina condições consideradas favoráveis.
Uma das “religiões” mais opostas ao Catolicismo é o mormonismo. Fundado nos Estados Unidos pelo auto proclamado “profeta” Joseph Smith, ele é o produto de suas supostas e confusas “visões” e elocubrações, cujas doutrinas diferem muito das verdades evangélicas.
Entretanto, foi no meio dessa seita e tendo por objeto um dos seus mais dedicados e radicais membros que a Providência suscitou um católico convicto, coerente e piedoso.
Jeremias Christiansen nasceu em uma pequena cidade do estado de Utah, centro dos mórmons nos Estados Unidos, numa família profundamente radicada nessa seita. Como Joseph Smith, que ao fundá-la disse ter tido em 1829 uma aparição dos Santos Pedro, Tiago e João junto ao rio Susquehanna, na Pensilvânia, os quais lhe fizeram revelações sobre sua nova religião, parafraseando esse fundador, Jeremias relatou o itinerário de sua conversão no livro Do Susquehanna ao Tibre: Memória da conversão do mormonismo à Igreja Católica Romana.
Ao relatar sua infância e adolescência, ele afirma que:
Nossa fé era central em nossas vidas […] nós fazíamos as orações da manhã e da noite em família, líamos o Livro do Mórmon, íamos todos os domingos ao culto, e participávamos das atividades para jovens durante a semana.
Assim, não se podia estar mais engajado na seita.
Segundo o mormonismo, todo jovem deve procurar ter uma experiência espiritual que chamam de “ganhar um testemunho”, a qual deve marcar toda a sua vida.
Jeremias diz ter tido essa experiência ao terminar o ginásio. Com efeito, no Livro do Mórmon está dito que ao ler esse livro e rezar a Deus pelo poder do Espírito Santo, o próprio Deus lhe manifestará o que é verdadeiro. Jeremias explica que isso é uma experiência subjetiva e emocional que muitos mórmons afirmam ter tido, a qual dá base às suas crenças. Ele não descreve em que ela consistiu, só afirma que ela o confirmou na seita.
Por isso foi com muita satisfação que, como todo jovem mórmon, foi passar seus dois anos de formação para missionário no exterior. Tocou-lhe a Argentina. Diz ele dessa época: “Eu passava cada dia, o dia inteiro, parando as pessoas na rua, batendo nas portas, tentando convencer as pessoas da verdade de minha fé”. Embora encontrasse muita rejeição, sobretudo num povo muito católico como o argentino, quando tinha algum sucesso, sentia-se ainda mais confirmado em sua fé.
Voltando aos Estados Unidos, casou-se em 2008 com Carly, jovem também mórmon, tão devota quanto ele. Enquanto trabalhavam fora, Jeremias cursava Direito. E os filhos começaram a vir, até o número de sete.
Como membro proeminente da seita, Jeremias foi chamado um dia por seu chefe para assumir determinada liderança. Na cerimônia em que lhe impôs as mãos, o chefe lhe fez, “da parte de Deus”, promessas específicas de êxitos futuro sem sua carreira como advogado, o que o confortou muito. Entretanto, como com o passar do tempo as promessas não se realizavam, o jovem começou a ficar desapontado e provado em sua fé no mormonismo.
Ao mesmo tempo, ele soube que vários mórmons proeminentes se desligaram da seita, alegando discordância com sua base histórica e doutrinária. Isso o abalou ainda mais, dando-lhe o desejo de ler a vida do seu fundador para constatar a veracidade do que alegavam por si mesmos.
Na Wikipedia em inglês, lemos que Smith, nascido em dezembro de 1805 em Vermont, mudou-se para o oeste de Nova York, onde afirmou ter tido em 1820 uma série de visões e revelações, inclusive de Deus Pai e de Jesus Cristo. Três anos depois teve outra, na qual um anjo o levou a um lugar onde havia um livro enterrado, escrito em placas de ouro, com a história da antiga civilização americana. Como só ele via essas placas, em 1830 publicou um livro que seria uma tradução delas para o inglês, chamando-o de Livro do Mórmon, que passará a ser a bíblia da seita.
No mesmo ano fundou a “Igreja de Cristo” como sendo a restauração da Igreja primitiva. Seus membros passaram a ser depois chamados de Santos dos Últimos Dias ou Mórmons. Em 1838 passou a chamar sua seita de Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
Em suas muitas supostas revelações, Smith discute, entre outras coisas, a natureza de Deus, a cosmologia, estruturas familiares, organização política e coletivismo religioso, e nega o Pecado Original. Para seus seguidores, ele passou a ser um profeta comprarável a Moisés e Elias.
Ao analisar tudo isso e ler sobre a participação de Smith em magias populares e na “procura de tesouros”, mas sobretudo considerando seu estilo de vida extremamente polígamo, Jeremias ficou abalado em suas antigas crenças e cheio de perplexidade. Via também que as biografias acadêmicas que lia sobre o mormonismo pintavam-no de maneira mais verossímil, diferente da formação que ele recebera quando adolescente.
Foi por isso que em 2015 ele disse à esposa que já não acreditava mais no mormonismo. Entretanto, indeciso sobre o que fazer, continuou a levar os filhos e a esposa ao culto mórmon, embora sofresse muito internamente. Escreveu:
Tu te sentes enganado e tonto por ter crido. Entretanto, estás casado com uma mulher devota que educa nossos filhos nesse credo.
E aguardava os acontecimentos.
Mas situação se complicava, pois “à medida que meus filhos cresciam, tornava-se cada vez mais difícil ouvi-los ansiar por coisas que eu sabia não serem verdadeiras”. E completou: “É um momento realmente desagradável de se pensar, porque todo o meu universo foi arrancado de mim”.
Apesar de não se considerar mais mórmon, Jeremias julgava-se ainda cristão, ao contrário dos membros de sua antiga seita, que não creem que Jesus Cristo seja realmente Deus, nem em um Deus Uno e Trino, Padre, Filho e Espírito Santo, nem tampouco nos outros dogmas católicos.
Isso o levou ao desejo de se aprofundar no estudo do cristianismo. Assim, leu durante um ano livros sobre a Igreja primitiva, sobretudo sobre os Padres da Igreja. E o fez com tal afinco, que se esquecia inclusive dos deveres domésticos.
Eu pensava que seria interessante ver no quê os primeiros cristãos criam, e pegar alguma coisa deles para construir minha própria crença. Mas fiquei estarrecido quando vi que todos eles eram católicos. Confesso que não era isso o que esperava encontrar [por causa do seu preconceito contra a Igreja]. Uma coisa que me tocava, entretanto, era a Presença Real. Pareceu-me realmente óbvio que, cresse eu ou não, aquelas pessoas criam.
Como consequência, mergulhou-se nas investigações sobre o catolicismo, cujos dogmas e doutrinas foi ao pouco aceitando.
Coerente consigo mesmo, quando se mudou para Norte Virgínia, decidiu fazer uma incursão na igreja de Santa Rita, em Alexandria, a fim de ver como era uma Missa.
Foi algo tão poderoso e tocante para mim, que era realmente como se eu estivesse sendo transportado a outro universo. E muito diferente da espécie de emocionalismo do mormonismo, pois era algo muito enraizado na liturgia católica.
Desse modo, abjurando a seita mórmon, Jeremias Christiansen foi batizado na igreja de Santa Rita em 2018.
É preciso dizer que, para a Igreja, são considerados válidos os batismos de algumas seitas protestantes e ortodoxas realizados “em nome do Padre, do Filho, e do Espírito Santo”. Entretanto, tal não se dá com todas as seitas, sobretudo com a das Testemunhas de Jeová e a dos mórmons. Pelo que, quando membros dessa seita se convertem, devem ser batizados.
Para sua mulher, o batismo de Jeremias “não era o ideal”. Mas pelo menos o via mais centrado e atento em casa. Pelo que exclamou: “Eu sinto como se tivesse recebido meu marido de volta”.
Quando começou a epidemia de coronavírus em 2020, sua esposa Carly começou a assistir à Missa online com ele, indo aos poucos se familiarizando com a religião católica. Matriculou seus filhos na escola da paróquia de Santa Rita e, gradualmente, ela e os filhos decidiram se tornar católicos, sendo batizados nesse mesmo ano de 2021.
Considerando seu passado e contemplando sua grande família, agora católica, Jeremias Christiansen afirmou:
Eu não poderia pensar [há alguns anos] em nada mais louco. Algumas vezes Deus age em nossas vidas de modo inteiramente inesperado, de maneira que é difícil de se compreender no momento.
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Fontes:
Edivam Silva
30 de junho de 202430/06/2024 às 20:40
Joao Nicolau
16 de julho de 202416/07/2024 às 18:23