Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
5 min — há 9 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 8:48:32 PM
A descida aos infernos da miséria cubana parece inevitável na Venezuela. O governo socialista vem atribuindo a culpa a inimigos fantasmagóricos em discursos histéricos e irreais: o “império”, a “guerra econômica” promovida por não se sabe bem quem, os emigrantes; a falta de alimentos como se fosse um ente que age por si mesmo; a ausência de medicamentos provocada por todos esses fantasmas.
Mas a aguda carência de quase tudo é uma experiência cotidiana dolorosa, humilhante e muito real. O vírus Zika passou a ser mais um pretexto pelos abusos do regime. Mas os mosquitos se multiplicam assustadoramente e a população não encontra repelentes para evitar o contágio nem antivirais e/ou analgésicos para cortar a febre de qualquer doente, segundo “La Nación”.
Em Acarigua, estado Portuguesa, uma avalanche de desesperados derrubou os obstáculos que lhe impediam ingressar num supermercado atingido pelo racionamento.
A desordem e a violência foram filmadas: um drama em que os envolvidos arriscavam tudo para conseguir um pouco de comida e algum produto básico indispensável para sobreviver no dia-a-dia.
A ocorrência é simbólica do que está vivendo a Venezuela na vida real. Na mídia praticamente toda confiscada pelo governo, o realejo dos fantasmas culpados da falta de tudo toca sem parar.
A todo o momento o presidente Maduro ou algum de seus acólitos tripudia contra o “império” e manifesta solidariedade aos “amigos” do mundo, como o camarada Lula. Mas isso não interessa ao povo que padece fome e doença.
Parlamento dominado pela oposição declarou a crise humanitária no país pela derrocada do sistema de saúde: hospitais e postos de saúde estão despojados do básico, sem equipamentos, remédios e caindo aos pedaços, como em Havana.
Maduro reincide uma e outra vez contra os empresários privados a quem atribui todos os males maquiavelicamente.
Eles agiriam conluiados com o “império”, confabulando uma delirante “inflação induzida”, a “estocagem dos produtos” e o contrabando que, esse sim vai mar alto, enriquecendo os sequazes do chavismo.
O mausoléu de Hugo Chávez acolhe alguns turistas para um tour guiado. Mais de 100 pessoas fazem fila num supermercado estatal para comprar alimentos pela tabela oficial de preços.
A fila começa a ser formar às três da madrugada. “Às vezes a gente consegue comprar alguma coisa, às vezes não”, diz uma pessoa na fila, segundo reportagem de “O Estado de S. Paulo”.
A cena é de Science-fiction, mas atrozmente veraz. A Venezuela boia literalmente sobre as maiores reservas mundiais de petróleo, mas a produção vem decaindo a cada dia em razão da ineficiência socialista.
É a “revolução bolivariana” rumo ao “socialismo do século XXI”, ou algo muito parecido com a velha URSS. O governo admitiu que a economia de 2015 contraiu-se em 7,1% e a inflação atingiu 141,5%. Ninguém acredita, pois foi algo muito pior.
Segundo o Fundo Monetário Internacional, porta-voz do “império” segundo a megalomania socialista oficial, a inflação atingirá 720% este ano e a economia encolherá mais 8%.
O Banco Central venezuelano emite moeda quando tem papel, mas mesmo aumentando o valor de face, as notas significam pouco o nada.
As reservas internacionais em dólar beiram apenas US$ 1,5 bilhão. Os salários reais encolheram 35% em 2015, segundo o consultor Asdrúbal Oliveros. A gasolina aumentou por volta de 6.000%, mas seu preço era até então tão ridículo.
Da penúria só se salvam as autoridades privilegiadas e os parasitas que vivem em seu redor. Segundo um grupo de universidades, 76% dos venezuelanos vivem em situação de pobreza.
A criminalidade está fora de controle, ou está bem ancorada na administração pública. O presidente da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup, ameaça destituir o presidente constitucionalmente.
Mas Maduro escravizou o Judiciário que anula as decisões incômodas do Legislativo. Não há governo, prevalece a força das intimidações, e Maduro controla milícias armadas e talvez boa parte do Exército.
“El Mundo” de Madri destaca a “total improvisação”, mas um símbolo tem um efeito que diz tudo: as padarias de Caracas, muitas delas de propriedade de imigrantes portugueses, exibem o cartaz assustador feito à mão: “NO HAY PAN”.
“Não há pão”: prateleiras vazias, padeiros que já embarcaram a família e recolhem os últimos bens. O mais básico alimento, esse também falta.
Não há trigo, menos ainda farinha. Cinco moinhos do país pararam por falta de matéria prima. Essa era importada após os efeitos inevitáveis da reforma agrária dos anos 70 em diante. Até nas fábricas de bolachas as máquinas não funcionam.
Maduro ataca a corrupção que ele só vê na oposição. “Hoje demos início com novos brios, com novas forças a operação Ataque ao gorgulho [inseto que devora o arroz] e já há mais de 55 culpáveis detidos”, obviamente produtores e comerciantes.
“Ali estão eles por trás das grades para ser processados, eles que escarneceram da confiança pública, eles não há desculpa”, enfatizou Maduro com tons que evocam Fidel Castro ou Mão Tsé Tung antes das chacinas de “burgueses”.
“Gorgulho aqui, gorgulho lá, onde quer que estejam é preciso cair encima deles” insistiu o presidente. O Serviço de Inteligência Bolivariano é o encarregado da operação que não tem data para terminar.
E os defensores internacionais dos pobres, onde estão eles? Nos palácios – ou hotéis – episcopais, nas paróquias, nos púlpitos, nas assembleias da ONU e dependências, eles não sabem de nada. Mas tripudiam sobre os ricos e seu egoísmo…
Quem são eles?
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