Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
7 min — há 3 anos — Atualizado em: 1/22/2022, 1:23:06 AM
Esse Capítulo sobre as três profundidades da Revolução ajuda possantemente todos aqueles que lutamos contra o processo revolucionário. Habitualmente se consideram apenas ideias e fatos. O Prof. Plinio introduz a noção de tendência e mostra a sua importância na decadência da Civilização Ocidental.
10 Cfr. Parte I – Cap. III, 3.
11 Op. cit., Librairie Plon, Paris, 1914, vol. II, p. 375.
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“Todo fato passado na França é mais claro do que em outros lugares. Onde entra o gênio luminoso do francês, o mal e o bem tomam uma clareza incomparável. E por causa disso o fenômeno Revolução, como aliás também o da Contra-Revolução, toma uma clareza extraordinária nos fatos da Revolução Francesa. Então, vejamos como nela se põe as três profundidades.
“Quais foram as tendências que antecederam a Revolução Francesa?
“Para não fazermos uma história muito remota, pois seria longo narrar – dado que as tendências da Revolução Francesa derivam da Protestante – vamos dar as tendências mais ou menos próximas que precederam a Revolução Francesa.
“Os senhores têm visto objetos que datam do “Ancien Régime” (Antigo Regime) francês: fachadas de prédios, interiores de salas, carruagens, quadros, esculturas, gravuras representando personagens, etc. Todas essas coisas nos dão uma mesma impressão: de um lado, de grande gosto, de grande finura, de grande esplendor. Mas ao mesmo tempo, de outro lado, de um otimismo invariável.
“Os senhores tomem, por exemplo, o quadro de Luis XVI existente na Sede do Reino de Maria. Não sei quanto dos senhores prestaram atenção nele. Os senhores vêem que se trata de uma gravura feita quando a Revolução Francesa já tinha começado. Luis XVI é apresentado com uma capa magnífica, do tempo antigo ainda, medieval, com uma espada que pertenceu a Carlos Magno, que era um rei triunfador. Ele está de pé, com a perna direita para frente em atitude de dominação, de quem anda e com um ar solene.
“O corpo é de herói, a cara de um bonachão, que não entende grande coisa do que vê, completamente despreocupada, completamente desanuviada.
“A atitude é de um monarca que está reinando sobre um reino pacífico e que não tem nada no que pensar, otimista, mostrando sua grandeza e mais nada.
“Por exemplo, aquelas carruagens todas douradas, com cristais, com plumas: é a idéia otimista da vida, toda orientada no sentido de que ela foi feita para o prazer. O defeito preponderante do Ancien Régime em matéria de tendências é isto. É uma tendência para a vida fácil, despreocupada, uma diversão contínua, para a qual o Ancien Régime tinha, aliás, uma montagem magnífica.
“A tendência para o prazer no “Ancien Régime” gerava uma aversão ao sacrifício e oposição à lei e à autoridade, produzindo as idéias liberais da Revolução Francesa
“Acontece que esta tendência contínua para o prazer tem que trazer necessariamente uma aversão ao sacrifício, porque quem está só querendo divertir-se não pode fazer uma coisa séria que custe esforço. É impossível. Porque não é divertido. Algo que exija previsão, trabalho, reação e luta, uma pessoa que quer viver em meio a diversões não pode absolutamente gostar de fazer isto.
“Ora, uma pessoa que não gosta de fazer aquilo que é difícil não pode gostar de cumprir a lei, porque toda lei manda fazer o que é difícil. Não há lei que mande fazer coisas fáceis. A lei, de si, só manda o que é difícil.
“Resultado: o sujeito que só vive em meio ao prazer fica com birra da lei que manda coisas difíceis, bem como da autoridade que cumpre a lei e impõe – por meio de castigos – que a pessoa faça coisas difíceis que não quer fazer. Essa tendência produz, portanto, uma oposição à lei.
“Se vão analisar as idéias da Revolução Francesa, elas são liberais. O que os agentes da Revolução Francesa queriam era reduzir o poder público e o número de leis o mais possível, permitindo todo mundo fazer absolutamente o que quisesse. Isso está na essência da Revolução Francesa. Suas reformas se inspiram nesta idéia: a lei é um mal necessário e, portanto, é preciso reduzi-la ao máximo. E de tal maneira que para muitas coisas que deveria haver lei, eles as eliminaram. O resultado é que prejudicaram enormemente todo o corpo social.
“Um exemplo: antes da Revolução Francesa havia, proveniente da Idade Média, as corporações, que eram organizações que tinham uma legislação do trabalho muito bem feita, protegendo os trabalhadores em relação aos patrões e estes em relação aos trabalhadores. Era uma lei de harmonia social. Hoje os sociólogos em geral estão de acordo em reconhecer que essas corporações eram excelentes.
“Vem a Revolução Francesa. Para estabelecer a liberdade, ela elimina as corporações e todas as leis de trabalho. Qual é o resultado? De um lado – nós vamos ver isso no século XIX, nascido da Revolução Francesa –, um número enorme de greves. De outro, um número enorme de look out, que é a greve do patrão, quando ele fecha a fábrica e manda os operários irem “plantar batatas”, porque não querem fazer o que deseja. Conseqüência: caem na fome. Então, o século XIX é, em grande parte, prejudicado por isso, até que se fez a legislação do trabalho.
“Houve, portanto, um hiato enorme sem leis do trabalho. Qual é a razão disto? Como eram contra qualquer lei, eles tomaram um campo importante de atividade humana – o trabalho – e dele eliminaram as leis.
“Não sei se os senhores estão notando que da tendência vem uma idéia, que é o princípio: leis, o menos possível. Daí vem um fato: abolição das leis do trabalho, como a abolição de um número enorme de outras leis na França. Leis, por exemplo, de alfândega interna de uma parte para outra da França, que para aquele tempo, com o modo de organizar aquela economia, eram necessárias e hoje não o são mais. Eles suprimiram, deu em ruínas econômicas! O que causou também a abolição da nobreza, porque os nobres tinham uma certa autoridade sobre os plebeus em suas terras. Elimina-se a nobreza e o rei fica reduzido quase a uma figura de proa, como é a Rainha da Inglaterra.
“Então a tendência é fazer o que é gostoso.
“A idéia nascida da tendência é acabar com a autoridade.
“O fato: uma série de reformas que debilitam enormemente a autoridade na França.” (jan. 1976)
Plinio Corrêa de Oliveira
557 artigosHomem de fé, de pensamento, de luta e de ação, Plinio Corrêa de Oliveira (1908-1995) foi o fundador da TFP brasileira. Nele se inspiraram diversas organizações em dezenas de países, nos cinco continentes, principalmente as Associações em Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), que formam hoje a mais vasta rede de associações de inspiração católica dedicadas a combater o processo revolucionário que investe contra a Civilização Cristã. Ao longo de quase todo o século XX, Plinio Corrêa de Oliveira defendeu o Papado, a Igreja e o Ocidente Cristão contra os totalitarismos nazista e comunista, contra a influência deletéria do "american way of life", contra o processo de "autodemolição" da Igreja e tantas outras tentativas de destruição da Civilização Cristã. Considerado um dos maiores pensadores católicos da atualidade, foi descrito pelo renomado professor italiano Roberto de Mattei como o "Cruzado do Século XX".
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