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Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo

Há precisamente 80 anos

Por José Carlos Sepúlveda da Fonseca

8 minhá 7 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 8:47:02 PM


A confusão é a nota predominante na presente situação nacional, delicada e incerta.

Os desvãos corruptos e sujos do projeto de poder lulo-petista estão hoje escancarados diante da Nação.

Cifras bilionárias foram desviadas do erário público, em sofisticados esquemas, com a colaboração de empresários inescrupulosos, que viram seus negócios florescerem numa relação espúria e umbilical com o poder político.

Em nome da “defesa dos pobres”, essas somas irrigaram, aqui e no exterior, os mecanismos de imposição e consolidação do chamado “socialismo do século XXI”, além de terem comprado consciências e subvencionado oportunistas de todos os calibres.

Cumplicidades e complacências
Mas o lulo-petismo contou para seus intentos malignos com a complacência e até a cumplicidade de boa parte do mundo político(inclusive com elementos destacados da chamada “oposição”); não foram apenas parlamentares comprados, mas partidos inteiros “adquiridos”; parte substantiva da imprensa deu seu contributo também ao projeto de poder lulista; inúmeros eclesiásticos (por vezes na surdina) o inspiraram e sustentaram; e a manipulação inescrupulosa da propaganda conquistou muitos desavisados.

As instituições, inclusive a Justiça em seus mais altos órgãos, foram vilipendiadas; foi prostituída a representatividade do regime dito democrático; e a legítima prosperidade econômica, prejudicada.

Abalo sísmico salutar
Um sobressalto salutar, de dimensões imprevistas, levou às ruas de todo o País, por mais de uma vez, milhões de brasileiros. Em manifestações multitudinárias e pacíficas, eles pediam seu País de volta e proclamavam que sua bandeira jamais seria vermelha.

Esse lento mas convicto despertar causou um abalo sísmico e derrubou parte considerável do edifício político-institucional, com destaque para o lulo-petismo, inclusive com o impeachment. Mas a derrocada prossegue.

Nessa derrocada todas as forças parecem querer amparar-se e preocupam-se apenas com o “salve-se quem puder”.

Qual o rumo das presentes encenações?

No momento em que os acontecimentos parecem encaminhar o País para uma eleição indireta para um mandato presidencial tampão — mais um fator complicador da crise — os conchavos são públicos e desavergonhados: forças opostas se conluiam; nos tribunais superiores a aplicação das leis é anunciada à medida do freguês (do réu); os cálculos políticos parecem só visar o livramento dos malfeitores; os que mataram a democracia representativa, como Lula, são chamados por gurus, como FHC, para “salvar” a política; os diversos nomes que circulam para um novo governo parecem ter como única credencial ser inimigos da Lava-Jato; e os “movimentos sociais”, gozando de estranha impunidade, alimentados por clérigos de esquerda, milícias sindicais e políticos inescrupulosos, parecem estar dispostos a “incendiar o País”.

Com estas encenações, para que novos rumos pretendem levar o Brasil os atores da tragicomédia oficial?

E os espectadores? Estes parecem estar com um profundo asco diante de tudo o que se passa e se trama. Desconfiados, eles procuram meios de reagir a tanta incoerência.

Ontem, hoje e sempre

Nos dias que correm, alguns jactam-se de ter antevisto uma situação complexa com uma ou duas semanas de antecedência; outros, com um dois meses; e alguns outros, com um ou dois anos.

E o que dizer de um artigo escrito, há precisamente 80 anos, que parece descrever na sua essência a crise presente? (*)

Quem é capaz de discernir as sinuosidades da alma humana, dissecar as entranhas do jogo político, perscrutar os bastidores do mundo dirigente, este sabe guiar-se na confusão, ontem, hoje e sempre

Convido-os, pois, a ler um artigo publicado por Plinio Corrêa de Oliveira, no jornal O Legionário, precisamente em 30 de Maio de 1937, sob o título A solução Mariana. Exceto por algumas pequenas referências circunstanciais da época, parece ele uma descrição dos dias que correm:

  • Não é nossa intenção tratar, neste artigo, da sucessão presidencial, estabelecendo um cotejo, sob o ponto de vista católico, entre os candidatos que se apresentam para disputar a suprema magistratura da República. Queremos tão somente, à margem dos acontecimentos e sem tomar posição neles, fazer um comentário que se relaciona com os mais altos interesses da vida política do Brasil.

    Há duas espécies de atitudes perante a política: a de ator e a de espectador. Atores são todos os que, direta ou indiretamente, cooperam na preparação dos acontecimentos políticos de que o Brasil está sendo teatro. Uns desempenham o papel de figuras centrais da tragédia – ou da comédia, se quiserem – representando os papéis mais importantes. Outros, são meros comparsas que passam rapidamente pelo palco, para desempenhar uma missão pequena e obscura. Finalmente outros nem aparecem no palco. São os inúmeros empregados que, nos bastidores, levantam o pano, acendem as luzes e cooperam para a manutenção da ordem nas coulisses. Na vida política, esta categoria de gente é representada pelos políticos de 3ª importância, que querem furiosamente algum emprego ou alguma pequena suserania municipal e que, sem aparecer no cenário da política, não deixam de ter certa influência, nos bastidores, sobre o curso da representação.

    Espectadores são os que não têm interesses pessoais relacionados com a política e que, portanto, não cooperam com a representação da tragicomédia.Assistem de longe e do alto. Não lhes preocupa, de maneira nenhuma, o formigar das rivalidades e o choque das vaidades nos bastidores. Só o que lhes desperta interesse é a representação correta da peça e a fiel interpretação dos papéis de cada ator.

    Não nos interessam, neste artigo, os primeiros. Estão com as vistas deslumbradas pela claridade do palco, e com a atenção monopolizada pelos acontecimentos da cena. São incapazes de vislumbrar o que sente o público distante que, na meia obscuridade, os contempla… e os julga.

    O que nos interessa sobremaneira são os espectadores. Porque eles, afinal de contas, são o Brasil. E os atores do palco não são em geral senão inofensivas marionetes que oscilam do centro para a direita ou para a esquerda, não ao sabor de convicções que lhes faltam, mas ao impulso dos dedos que os manejam, e vão desenvolvendo gradualmente um jogo que pode parecer moderno, mas que na realidade é muito velho.

    Que atitude vem tomando este público em matéria de sucessão presidencial? A dizer com franqueza, a primeira impressão que se nota, em todos os brasileiros imparciais, é de asco. Não asco pela pessoa dos candidatos, a quem não queremos negar qualidades. Mas de asco profundo pela instabilidade das atitudes políticas, pela incoerência flagrante e despudorada entre atitudes da maior parte de seus sequazes, hoje, ontem e anteontem. A bem dizer, serão pouquíssimas as correntes políticas que não se encontram, agora, em uma situação que condenariam formalmente há dois ou há três anos atrás. Se um profeta tivesse descrito de antemão as variações que sofreriam as alianças e as hostilidades que existiam, todo o mundo se teria rido dele, acoimando-o de louco. Porque absolutamente não pareceria possível a ninguém que os políticos brasileiros – sobre os quais já não havia, entretanto, grandes ilusões – dessem a seus ressentimentos e a suas simpatias a inconsistência, a mutabilidade, a futilidade de brigas de meninas de colégio; que fossem tão pequeninos na vaidade e tão imensos na ambição, tão corajosos na ganância e tão tímidos no cumprimento do dever.

    Esta nota dolorosa não é privativa de uma das correntes políticas. Encontra-se, pelo contrário, em quase todas. Porque a política brasileira é feita de incoerências.

    * * *

    Qual é o resultado de tudo isto? Não é difícil percebê-lo: agonizam nossas instituições, desprestigiam-se os princípios que até ontem eram convicção política unânime (boa ou má, não vem ao caso discuti-lo) dos brasileiros, e decaem irremediavelmente no conceito público quase todos os homens da geração passada, que o Brasil vinha, se não admirando, ao menos tolerando na administração do País.

    Como conseqüência deste formidável desgaste de homens, de instituições e de idéias, uma grande transformação se prepara. O Brasil aí está, como matéria amorfa, para ser plasmada pela corrente de homens que tenha maior sucesso na tarefa de conquistar o poder em nome de idéias novas.

    Significa isto, em outros termos, que o Brasil está no momento em que deverá tomar nova forma. Se esta forma obedecer à concepção da esquerda, o Brasil será não mais o Reino de Nossa Senhora Aparecida, mas uma China ou um México qualquer. Se a forma for plasmada por mãos direitinhas, erguer-se-á ante nós o receio do estado totalitário, com o qual a Igreja é incompatível.

    Pobre Brasil! Navegando por um mar revolto, parece que está fadado a naufragar de encontro a um destes dois escolhos extremistas: Berlim ou Moscou. Isto, se não se quiser submergir inteiramente no lodaçal do liberalismo.

    Muita gente dirá: entre dois escolhos, convém optar pelo menos mau.

    Mas nós perguntamos: não será a mocidade mariana o braço forte com que Nossa Senhora dotou seu Reino na hora do perigo, para derrubar um e outro escolho, e realizar no Brasil uma política tendo por ideal o Catolicismo, como norma de agir o Catolicismo, e como solução para todos os problemas o Catolicismo? (O Legionário, n.º 246)

(*) Artigo escrito durante a campanha para as eleições presidenciais de 1937. No dia 10 de novembro desse ano Getúlio Vargas anula as eleições, derroga a Constituição de 1934, impõe a “polaca” e proclama a ditadura presidencialista do Estado Novo.

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José Carlos Sepúlveda da Fonseca

José Carlos Sepúlveda da Fonseca

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Editor do blog Radar da Mídia.

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