Na Irlanda, uma medida recente do governo reacendeu o debate sobre os limites da educação estatal e os direitos das famílias. O Ministério da Educação introduziu, no currículo escolar — dentro do programa de Educação Social, Pessoal e para a Saúde (SPHE) — conteúdos relacionados à “identidade de gênero” e “orientação sexual” para crianças de apenas 10 e 11 anos.
A decisão gerou forte reação entre pais, educadores e analistas católicos, que veem na mudança uma tentativa de impor ideologias às novas gerações.

Especialistas alertam para riscos psicológicos
A psicoterapeuta Stella O’Malley, referência no debate sobre saúde mental infantil, foi categórica: o currículo sequer define o que é “gênero”, deixando o tema aberto a interpretações subjetivas e à possível manipulação ideológica.
Segundo ela, crianças nessa faixa etária não têm maturidade emocional nem desenvolvimento cognitivo para lidar com conceitos complexos como identidade sexual, preferências sexuais ou, pior, discussões que podem incluir pornografia e práticas extremas. “Estamos colocando um peso desnecessário nos ombros das crianças. Elas ainda estão formando sua personalidade e precisam de estabilidade, não de confusão”, alertou.
Críticas no Parlamento
O senador Roman Muller também se manifestou, acusando o governo de ignorar os direitos dos pais. Para Muller, qualquer voz discordante é imediatamente taxada de “desinformação” ou “extremismo”. Ele ressaltou que as escolas católicas “não apenas têm o direito, mas o dever de resistir à imposição de valores contrários à sua missão educativa”.
O Magistério da Igreja e o direito dos pais
A posição da Igreja Católica sobre a educação é clara. O Concílio Vaticano II, no documento Gravissimum Educationis (1965), ensina que “os pais, porque deram a vida aos filhos, têm a gravíssima obrigação de educar a prole, e devem ser reconhecidos como os primeiros e principais educadores” (GE, 3).
Da mesma forma, a Carta aos Bispos sobre a Colaboração do Homem e da Mulher na Igreja e no Mundo (2004), publicada pela Congregação para a Doutrina da Fé, alerta para “teorias que anulam a diferença sexual e a complementaridade natural do homem e da mulher”, advertindo que essas propostas “desestabilizam a família como instituição natural”.
Essas referências reforçam o argumento de que pais e escolas não são apenas livres para rejeitar tais conteúdos, mas moralmente obrigados a proteger as crianças contra doutrinas que contradizem a moral cristã.
A disputa pela autoridade sobre as crianças
A polêmica expõe um embate maior: quem tem a palavra final sobre a formação moral das crianças — o Estado ou os pais? Para críticos da medida, a iniciativa representa uma clara tentativa de substituir a autoridade familiar por agendas ideológicas promovidas por organismos internacionais e ONGs alinhadas a pautas progressistas.
Além do aspecto religioso, há também uma preocupação cultural: a Irlanda, outrora um dos países mais católicos da Europa, vem passando por um rápido processo de secularização, e muitos veem nesse tipo de currículo um passo a mais rumo à erosão de valores tradicionais.
Um chamado à resistência
Para educadores, pais e líderes religiosos, o momento exige vigilância e ação coordenada. A defesa do direito de educar os filhos de acordo com as próprias convicções é um princípio consagrado também na Declaração Universal dos Direitos Humanos, que, em seu artigo 26 §3, afirma: “Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.”
A introdução da ideologia de gênero nas escolas primárias da Irlanda, portanto, não é apenas um debate pedagógico — é um campo de batalha sobre o futuro moral do país. A reação popular e o posicionamento firme de vozes como Stella O’Malley e Roman Muller mostram que ainda há resistência, mas a pressão para normalizar tais conteúdos só tende a aumentar