Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
6 min — há 3 anos — Atualizado em: 9/19/2021, 2:18:34 PM
No remoto ano de 1846, exatamente há 175 anos, Nossa Senhora revelou o percurso geral da humanidade até chegar ao fim do mundo, atravessando nossa época em crise que daria num abalo purificador universal. Após isso, o mundo conheceria um glorioso período de séculos: o Reino de Maria. No final, advindo nova decadência, o Anticristo se manifestaria e Nosso Senhor Jesus Cristo, em pompa e majestade, viria à Terra para encerrar a História da humanidade com o Juízo Final.
O Segredo de La Salette anunciou que em 1864 os “demônios seriam soltos do inferno” e viriam para a Terra, atacando especialmente a Igreja Católica com o objetivo de extinguir a Fé. A linguagem sugere uma invasão gradual: “Eles abolirão a fé pouco a pouco […] até nas pessoas consagradas a Deus. Eles as cegarão de tal maneira que, salvo uma graça particular, adquirirão o espírito desses maus anjos”. Por causa disso, “durante algum tempo a Igreja será entregue a grandes perseguições. Será o tempo das trevas, e a Igreja passará por uma crise pavorosa”[1]. Isso não parece descrever nossa época?
As profecias particulares que fixam datas pedem cautela na sua interpretação. Não é raro os números anunciados serem desmentidos pelos fatos, sugerindo falta de autenticidade. E o Segredo de La Salette, aprovado pela hierarquia eclesiástica competente, menciona 1864 como o ano do início dessa invasão. Portanto, um fenômeno espiritual — como se sabe, os demônios são puros espíritos — e moral (a posse das almas dos homens em geral e dos eclesiásticos em particular).
Estudiosos bem-intencionados procuraram identificar algum fato material associado a esse espantoso evento. As hipóteses avançadas, entretanto, não convencem inteiramente. Grandes guerras, revoluções, congressos anticatólicos, revoltas teológicas, calamidades etc., se as houve, não atingiram a gravidade proporcionada à invasão infernal anunciada por Nossa Senhora em La Salette.
A visão do Beato Cestac
Entretanto, fatos de natureza espiritual, dos quais pouco se fala, aproximam-se da data mencionada pela Santíssima Virgem e concordam admiravelmente com ela. Um dos mais notáveis aconteceu com o Bem-aventurado sacerdote Pe. Luís Eduardo Cestac[2] (1801 – 1868), fundador das Servas de Maria e do Instituto de Notre-Dame-Du-Refuge, além de muitas instituições para operários e moças pobres. Quando faleceu, deixou mais de 900 Servas de Maria, incluído o ramo contemplativo das penitentes ditas Bernardinas, como também cerca de 150 escolas, orfanatos etc., na diocese de Bayonne, em vários departamentos do sul da França, na Espanha, e hoje em vários continentes.
Foi colega apostólico de São Miguel Garricoïts, fundador dos Padres do Sagrado Coração de Jesus de Bétharram, promotor do santuário de Lourdes, propagandista da Medalha Milagrosa, da devoção ao dogma da Imaculada Conceição e conselheiro de Santa Bernadette Soubirous. O Beato Cestac e São Miguel Garricoïts consagraram suas vidas para apagar os efeitos anticristãos e anticulturais da Revolução Francesa, enfrentando as perseguições anticlericais.
Em carta de 13 de janeiro de 1864, endereçada a seu bispo, Dom François II Lacroix (1838-1878), o Beato Cestac descreveu o acontecido, omitindo de início seu nome, o qual anos depois foi revelado. Ele narrou ter sido atingido como que por um raio de luz divina que lhe mostrou demônios se espalhando pela Terra, causando uma destruição inexprimível.
Ao mesmo tempo, a Virgem Maria lhe desvendou, nos termos de La Salette, que os demônios foram soltos em todo o mundo. Em consequência — concluía o Beato —, tornou-se mais imperioso do que nunca pedir a Nossa Senhora o envio das legiões de santos anjos para enxotar as potências infernais que superavam em muito as forças humanas.
O carmelita Beato Francisco Palau também denunciou a entrada dos poderes infernais na Terra e na Igreja na mesma época, porém sem especificar a data, mas dando a entender que se estenderia durante um longo período. Com toda a sua autoridade, o Papa Leão XIII instituiu em 18 de maio de 1890 o “Exorcismus in Satanam et angelos apostaticos”, no qual manda expulsar “o inimigo antigo e homicida [que] transfigurado em anjo de luz, com toda a caterva de espíritos maus, circundou e invadiu toda a Terra, para que nela destruísse o nome de Deus e de seu Cristo, e roubasse as almas destinadas à coroa da glória eterna, e as prostrasse e as perdesse na morte eterna. […] As hostes astuciosíssimas encheram de amargura a Igreja, […]. Ali onde está constituída a Sede do Beatíssimo Pedro e Cátedra da Verdade para iluminar os povos, aí colocaram o trono de abominação da sua impiedade, para que, ferido o Pastor, se dispersassem as ovelhas”.[3]
Diante da visão da invasão dos demônios, o beato Cestac se voltou para a Rainha dos Anjos e implorou: “Minha Mãe, Vós sois tão bondosa, por que então não enviais Vós mesma estes anjos sem que ninguém Vo-lo peça?”
Nossa Senhora lhe respondeu: “A oração é uma condição estabelecida pelo próprio Deus para obter a graça”.
“Então, Mãe Santíssima — insistiu o sacerdote — ensinai-me como quereis que se Vos peça!”
Foi então que o Beato Cestac recebeu a oração “Augusta Rainha”, aprovada pelo bispo diocesano e da qual distribuiu 500 mil cópias em inúmeros lugares. Aprovaram-na também os bispos de Tarbes, Aire, Tours e Cambrai. Velozmente ela se difundiu pelo mundo, alcançando uma excepcional irradiação. Foi recomendada pelo Papa Pio IX, enriquecida com indulgências por Leão XIII e, no dia 8 de julho de 1908, por São Pio X, que concedeu trezentos dias de indulgência para quem a rezar.
O que pede a oração?
Segue a sua integra, com o acréscimo apenas de umas brevíssimas reflexões prévias, e uma versão abreviada contra as tentações, incluídas pelo Beato Cestac e geralmente omitidas nas traduções. Lembramos também que o Beato recomendava essa poderosa oração fosse memorizada.
Nosso Senhor disse:
EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA.
Satanás responde:
EU SOU O ABISMO, A MENTIRA E A MORTE.
Talvez nunca a ação dos demônios se tenha mostrado mais geral e ameaçadora. Por isso devemos também, mais do que nunca, recorrer ao poder infinito de Deus, e rezar especialmente à Sua Santa Mãe, pedindo que nos proteja das ações malignas.
ORAÇÃO
Augusta Rainha dos Céus, Soberana Senhora dos Anjos, Vós que, desde o princípio, recebestes de Deus o poder e a missão de esmagar a cabeça de satanás, humildemente Vo-lo pedimos: enviai as legiões celestes dos santos Anjos a fim de que, sob as vossas ordens e pelo vosso poder, elas persigam os demônios, os combatam em toda parte, reprimam a sua audácia e os lancem no abismo!
Quem como Deus?
Ó boa e terna Mãe, Vós sereis sempre o nosso amor e a nossa esperança! Ó divina Mãe, enviai os Santos Anjos para nos defender, e repeli para longe de nós o cruel inimigo. Santos Anjos e Arcanjos, defendei-nos, guardai-nos!
Amém.
BREVE ORAÇÃO CONTRA AS TENTAÇÕES
Ó Mãe de Deus, enviai os vossos santos Anjos para nos defender, e repeli o maldito demônio, nosso cruel inimigo!
[1]) Cfr CATOLICISMO, setembro 2006, https://catolicismo.com.br/index1.cfm/mes/Setembro2006.
[2]) Pe. Pierre-Éduard Puyol, “Vie du Serviteur de Marie Louis-Edouard Cestac, fondateur de Notre-Dame-Du-Refuge (Diocèse de Bayonne)”, Bayonne, Imprimerie Lamaignère, Rue Chegaray, N° 39, 1818, 656 págs., com aprovação eclesiástica.
[3]) Acta Sanctæ Sedis, vol. XXIII, págs. 743-747.
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