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Plinio Corrêa de Oliveira
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Lições da “democracia” de Putin: eleições sob ditadura


Alexeï Navalny
Alexeï Navalny

Na sede do comitê eleitoral do advogado Alexeï Navalny, um dos novos líderes da oposição russa, jovens voluntários que trabalham intensamente para a campanha eleitoral de setembro pululam.

Porém, em Moscou ninguém duvida da reeleição do prefeito Sergueï Sobianine, segundo reportagem do jornal francês “Le Monde”.

Sob a sombra do todo-poderoso Vladimir Putin, os clãs políticos locais a ele submissos têm a vitória garantida. No que é que se diferencia a situação atual da era soviética, onde mesmo sem urnas eletrônicas os candidatos do Partido Comunista venciam com quase 100% dos votos e o resultado já era conhecido meses antes da eleição?

Há algumas diferenças “para inglês ver”. Entre elas a fachada de uma eleição livre onde alguns oposicionistas gozam de uma liberdade restringida. Eles recrutam simpatizantes para animar listas a cujo respeito já foi decidido com antecipação em algum escritório do governo que nunca vencerão. E ai daqueles que vierem a vencer!

O oposicionista Alexeï Navalny está sendo processado no tribunal de Kirov, a 900 km da capital, por um suposto desvio de fundos.

Todo o mundo diz e sabe: os fatos do caso são minúsculos e velhos demais. Mas a intenção política entra pelos olhos: ninguém pode desafiar impunemente um candidato querido por Putin.

Embora seja razoável supor que Alexeï Navalny será inocentado pelo juiz, ele já preparou com sua esposa Iulia a lista dos objetos que levará para a prisão: pratos de plástico, tênis, açúcar e produtos de higiene, entre outros. A lista já foi difundida pelo Twitter.

Mas Alexeï Navalny não dá sinais de resignação. Ele denuncia a fortuna de seu chefe e “patrão” das linhas ferroviárias russas, Vladimir Iakunin, e a corrupção dos apaniguados do sistema Putin.

O maior crime do eleitor é não votar em Putin
O maior crime do eleitor é não votar em Putin

Redes de sociedades “por fora” prosperam sob a proteção do “boss mafioso” máximo, Vladimir Putin, que “autoriza a pilhar tudo o que há em volta dele”, escreve Alexeï Navalny.

Alexeï Navalny é um fenômeno inédito na oposição russa, pois suas denúncias, com linguagem por vezes brutal e/ou familiar, têm eco na população.

Há também opositores liberais clássicos, porém usam uma linguagem abstrata que nunca chega até a população. Esses não ameaçam o poder absoluto.

Cresce o vazio e o desânimo em volta do governo Putin, mas o dono do Kremlin aprendeu de seus mestres soviéticos a arte de governar sem se interessar pelo que o povo quer.

A promotoria russa também acusou a Alexei Navalny de ter recebido financiamento estrangeiro para a campanha à prefeitura de Moscou.

Isto é proibido pela lei e a acusação foi desmentida pela equipe de Navalny.

De acordo com a promotoria, mais de 300 pessoas físicas e jurídicas estrangeiras, assim como doadores anônimos de 46 países (incluindo EUA), repassaram dinheiro a Navalny e a membros de sua equipe através de um sistema de pagamento pela internet.

A acusação visa obstaculizar ainda mais a campanha do dissidente para a prefeitura de Moscou.

Por sua vez, os entusiasmados cooperadores na campanha de Alexeï Navalny já se preparam para um eventual encarceramento de seu líder por ordem judicial.

As chancelarias ocidentais não dão sinal de se interessar pelas irregularidades do governo que deturpam os processos eleitorais russos.

Para a politóloga do Centro Carnegie, Lilia Shevtsova, voz eminente dos meios liberais pró-ocidentais, Alexeï Navalny será condenado “sem dúvida alguma” para dar um “exemplo” a quem queira se opor ao chefe supremo e sua banda.

Manobras dissuasivas semelhantes já aconteceram contra uma dezena de manifestantes que ousaram denunciar o regime em maio de 2012, na praça Bolotnaïa. O protesto, normal num sistema onde há liberdade, desfechou na prisão dos manifestantes pelo crime de “perturbações massivas da ordem pública”.

Acosso policial e judicial para reprimir o dissidente
Acosso policial e judicial para reprimir o dissidente

Lilia Shevtsova explica que o regime exige uma fidelidade absoluta como na época soviética, informa “Le Monde”. “O Ocidente não pode esperar nada do regime”, acrescenta ela.

Até há pouco ainda se tolerava uma zona cinzenta de oposição que incluía o jornal Novaïa Gazeta, a radio Ekho Moskvy e o próprio Navalny.

A especialista explica que hoje tudo isso está sendo extinto por um regime pretoriano – outrora se diria policial – como no tempo dos velhos ditadores comunistas.

Na Rússia, não foi o obsoleto PCUS, mas os antigos serviços secretos – leia-se KGB – que assumiram o poder.

O que é isto senão uma metamorfose do velho sistema que usa outra máscara e cerca-se de uma constelação de funcionários corruptos para defender uma ideologia que não ousa confessar de público?

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Luis Dufaur

Luis Dufaur

1042 artigos

Escritor, jornalista, conferencista de política internacional no Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, webmaster de diversos blogs.

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