Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
4 min — há 8 anos — Atualizado em: 8/3/2016, 4:56:27 PM
Conhecido conto medieval apresenta-nos um cavaleiro passando junto ao local onde três operários afincadamente trabalhavam com grandes pedras — hoje se diria um canteiro de obras. Chamou-lhe a atenção aquele esforço pelo qual tais homens pareciam lançar os fundamentos de algum futuro edifício.
Espicaçado pela curiosidade, ao mais próximo perguntou o que fazia. Este prontamente lhe respondeu: “Estou cortando pedras”. Não satisfeito com a resposta, tocou um pouco o cavalo, e aproximando-se do segundo, repetiu-lhe a pergunta. “Estou preparando os fundamentos de um muro” –– foi a resposta. Por fim, indagado o terceiro sobre sua atividade, este respondeu: “Estou construindo uma catedral!”
Ora, os três faziam exatamente o mesmo trabalho, se considerado o aspecto material de sua atividade. Mas cada um deles se dedicava ao labor com um estado de alma peculiar. O primeiro só era capaz de enxergar as pedras que tinha diante de si; o segundo elevava mais as vistas, e já via o muro que iria subir; o terceiro, por fim, alçava-se ainda mais, e dali contemplava a bela catedral que surgiria. Não é descabido supor que antevisse os maravilhosos vitrais a iluminá-la, o incenso a impregnar-lhe as paredes, o cântico do Kyrie a ecoar nas abóbadas, a glória a Deus manifestada nos santos ritos ali celebrados.
* * *
Trata-se evidentemente de uma alegoria sobre a condição humana. Todos nós vivemos juntos nessas cidades modernas, nos encontramos nas mesmas ruas e praças, vamos aos mesmos locais de trabalho, aos mesmos supermercados, vemos as mesmas cenas da vida. No entanto, se sondarmos as almas, quantas diferenças no modo de julgar cada coisa…
Fica aqui um convite ao leitor para julgar o mundo que nos cerca de um patamar muito elevado, do alto da torre de uma catedral. Não se trata de perder o contato com a realidade. Longe disso. Nada pior do que sonhos quiméricos que só servem para transviar os espíritos que correm atrás deles. Trata-se de ver a realidade de um patamar mais alto, que ilumina e condiciona o cotidiano, como também a História. O homem que construía a catedral não estava fora da realidade, ele a contemplava de seu pico mais alto. Por assim dizer, é olhando como que através dos olhos de Deus que se alcança o suco da realidade.
Estamos nos aproximando do centenário das aparições de Nossa Senhora em Fátima, em 1917. A Mensagem então comunicada aos pastorinhos pela Virgem Santíssima nos mostra o mundo contemporâneo sob uma luz mais elevada e mais reveladora.
De fato, a realidade presente pode ser visualizada de patamares sucessivamente mais altos. Primeiramente, podemos ver as dificuldades que a sociedade atual, permissiva e igualitária, acarreta para cada indivíduo (para os interessados, seus problemas pessoais parecem enormes, mas vistos sob a ótica do conjunto da humanidade são pequenos). Numa visão mais ampla, topamos com o processo em curso de dissolução das famílias e do esgarçamento do princípio da propriedade. Podemos ver, em escala regional, os terremotos, os maremotos, as guerras e revoluções, os desvarios dos movimentos pacifistas.
A Mensagem de Fátima, sem negar a autenticidade da visão obtida a partir de cada um desses patamares, mostra-nos, entretanto, como Deus vê o mundo atual no seu conjunto: carregado de pecados, partícipe de um processo revolucionário que leva tudo de roldão –– simbolizado pelos erros da Rússia, ou seja, os princípios socialo-comunistas em suas várias formas e diluições –– provocando a ira de Deus, cuja manifestação acarretará guerras e revoluções, perseguições à Igreja e tudo o mais.
Manifestação grandiosa, ao mesmo tempo justiceira e misericordiosa, porquanto pune o mal mas repõe as coisas no seu lugar, criando novamente condições para a prática da virtude e do amor de Deus.
Assim, a alegoria medieval a que nos referimos no início, ajuda-nos a compreender quão elevado é o patamar em que se situa a Mensagem de Nossa Senhora de Fátima, ao mesmo tempo justiceira e misericordiosa, ao analisar o mundo atual.
Gregorio Vivanco Lopes
173 artigosAdvogado, formado na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Autor dos livros "Pastoral da Terra e MST incendeiam o Brasil" e, em colaboração, "A Pretexto do Combate Á Globalização Renasce a Luta de Classes".
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