Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
6 min — há 4 anos — Atualizado em: 2/4/2021, 4:38:26 AM
A violência no Capitólio, com a invasão ocorrida no dia 6 de janeiro, entrou na História como um evento de caráter dramático e emocional. O debate sobre os detalhes e as questões envolvidas ainda persiste. No entanto, no tribunal da opinião pública a narrativa final reflete negativamente sobre o presidente Trump e seus apoiadores.
Independentemente do mérito das questões que estão sendo discutidas, algumas lições sobre a esquerda podem ser aprendidas com esse incidente. Lições úteis para reger as ações futuras, pois as regras do jogo no próximo governo exigirão dos conservadores agir com sabedoria e discernimento. A maneira como a esquerda capitalizou esse incidente no Congresso dos Estados Unidos deve servir para aguçar a sagacidade da direita.
Relativismo moral da esquerda
A primeira lição a ser aprendida é que o modo de operação da esquerda e da direita são diferentes. O relativismo moral da esquerda permite que ela seja seletiva, quando qualifica algo como errado. A esquerda radical sempre considerou que os fins justificam os meios. Para os seus seguidores não existem o certo e o errado objetivos. Pelo contrário, é louvável e está de acordo com a moral qualquer coisa que avance a sua revolução. Qualquer coisa que a impeça ou prejudique deve ser desprezada e difamada.
A invasão do Congresso estadunidense foi um ato censurável, que precisa ser censurado. Mas não se espere da esquerda que sua censura seja aplicada a todos os atos censuráveis. Por exemplo, comparemos suas recentes diatribes contra o incidente no Capitólio com a sua aprovação às centenas de distúrbios durante o verão do ano passado, cujos danos são estimados em dois bilhões de dólares. Será em vão os conservadores congestionarem a mídia com milhares de vídeos inflamados, mostrando políticos esquerdistas justificando e validando a agitação civil durante 2020. Não faz diferença para eles, já que essas ações favorecem a sua revolução.
Esse é o modo de agir da esquerda. Não é justo, mas assim são as coisas.
Não se espere também coerência dos esquerdistas, pois seu relativismo moral lhes permite escolher aquilo que apoiam ou condenam. Não se espere deles compaixão pelos ferimentos e a morte de vítimas conservadoras, pois, em sua narrativa revolucionária, essas pessoas pobres não têm valor
Diante disso os conservadores devem agir cônscios de que seus atos serão injustamente examinados, e que a esquerda quebrará impunemente as regras.
Responsabilizar a pessoa certa
A segunda lição é que o relativismo moral da esquerda desaparece, quando julga as ações da direita. Para efeitos práticos, ela considera a direita obrigada a manter-se dentro dos mais altos padrões da moralidade cristã, nos quais não acredita nem os tem como suas referências. Seu nível de indignação moral com os erros da direita será sempre na proporção inversa ao de sua indiferença em relação aos erros da própria esquerda. Não apenas notará e condenará qualquer erro da direita, como também não desperdiçará nenhuma oportunidade para armar em cima deles uma boa crise.
Quando a direita faz algo de errado ou ilegal, a mídia e a esquerda cínica caem sobre ela com fúria e ‘rasga as vestes’. Nenhuma desculpa será suficiente para redimir qualquer pessoa, e suavidades em relação à mídia não bastarão para ela os esquecer.
Os esquerdistas sabem que os direitistas não são relativistas morais, portanto são capazes de reconhecer os próprios erros. O padrão de julgamento será duplo, e por ele serão julgados. Se incidirem em erro, os conservadores devem admiti-lo calmamente, mas nunca permitir que isso emoldure ou domine o debate.
Não responder com a mesma moeda
Outra lição é que a direita nunca pode adotar a tática e o modus operandi da esquerda. São ações contrárias às suas convicções morais, portanto destinadas ao fracasso. Qualquer declínio no relativismo moral priva os conservadores da força de sua causa, que se fortalece pela adesão estrita à lei moral.
Se a esquerda recorre a mentiras, vulgaridades e insultos para difamar indivíduos ou suas causas, não pode a direita responder com a mesma moeda. Tais meios trabalham contrariamente aos fins que devem nortear suas ações. Não recorrer a motins e violência é uma decisão impositiva, pelo simples fato de a esquerda praticar habitualmente esses crimes.
Deve ser observado sempre um discurso civilizado e cortês. Sem excluir respostas firmes, enérgicas e apaixonadas, mas norteado sempre pela razão. Adotando atitude forte, nobre e coerente, o debate elevado atrai a opinião pública.
Os mais altos padrões de comportamento
Em quarto lugar, a melhor maneira de os conservadores vencerem o debate é manterem-se dentro dos mais altos padrões de comportamento. Não devem dar ao outro lado nenhum pretexto para ataques pessoais. A melhor maneira de promover a causa é apelando racionalmente para fortes princípios morais. Uma reação nobre sempre impressionará mais favoravelmente o público do que uma ralé desgrenhada.
Por isso, quanto mais clara a mensagem, melhor o resultado. Quanto mais fundamentada a posição, maior a chance de sucesso. Quanto menos pessoal o ataque, maior o impacto. Não incentivar o ‘politicamente correto’ e as políticas de identidade.
A esquerda avança ocultando seus objetivos, disfarçando sua mensagem nefasta, e perde quando são denunciados ao público (por exemplo, privar de verba a polícia ou promover o socialismo), por isso o melhor caminho da direita para a vitória é persistir na mensagem. Os conservadores devem sempre insistir lealmente nos seus objetivos e condenar os objetivos ocultos da esquerda. Evitar debates que degeneram em sequências de ataques pessoais ou insultos.
Atitude ponderada e ação deliberada
Uma atitude ponderada, deliberada, exige um tom como o de George Washington. O futuro pertence aos que não temem afirmar (e praticar) a moralidade cristã, denunciar esquemas socialistas e desafiar o ‘politicamente correto’.
O establishment liberal e a mídia afirmam que essas posições são atrasadas e pouco atraentes. No entanto, quando apresentadas energicamente e sem demagogia, elas têm um apelo imenso, pois se baseiam na natureza humana e na lei moral. A condição humana é atraída para o comportamento moral, é adequada a ele, tendo em vista que ele conduz à unidade e harmonia. O pecado e o vício trabalham contra a natureza, levando à desarmonia e à autodestruição.
Em meio à crise por que passam os Estados Unidos, importa mais do que nunca confiar em Deus. Como o pecado domina a sociedade, as soluções humanas falharão. Apelar a Deus e à sua Mãe Santíssima, além de colaborar com a graça divina em tudo o que estiver ao nosso alcance, eis a única maneira de sair do caminho do desastre. Qualquer outra estratégia política que exclua esse apelo estará fadada ao fracasso.
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* John Horvat é vice-presidente da TFP norte-americana, autor do best-seller Return to Order (Retorno à Ordem), no qual mostra como se pode escapar das garras de uma sociedade baseada apenas no materialismo produtivista e na intemperança frenética, opostas aos altos ideais medievais.
Fonte: Revista Catolicismo, Nº 842, fevereiro/2021.
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