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Plinio Corrêa de Oliveira
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Neopaganismo comuno-tribal na nova prática missionária


Foto: Ricardo Stuckert / ABr

A denúncia feita há 42 anos no livro Tribalismo Indígena – Idealcomuno-missionário para o Brasil no século XXI,1 de Plinio Corrêa de Oliveira, estáclaramente confirmada pela ecologia indigenista projetada pelo Sínodo Pan-Amazônico.Esse livro constituiu uma barreira à propagação das ideias de missionáriosprogressistas que desfiguram o ideal de civilização cristã.

Autodemolição da Igreja! Expressão forte, mas muito apropriada para qualificar os objetivos do Sínodo Pan-Amazônico que se realiza neste mês em Roma.

Em edições anteriores, Catolicismopublicou importantes comentários sobre as ideias incluídas como temas da assembleiade bispos da região amazônica. São as mesmas ideias impregnadas pelos gasespestíferos da “Teologia da Libertação” com que já trabalhavam muitosmissionários, adquiridas durante a formação comuno-estruturalista em seminários,propugnadas hoje pelos eclesiásticos progressistas que defendem uma igrejamístico-tribal-ecológica com rosto amazônico e indígena.

Em artigo intitulado Amazônia, o rosto ecológico de Deus (“OGlobo”, 31-8-19), Frei Betto mostra os objetivos:

“AIgreja tem consciência de que, se agora defende a causa indígena, pela qual hátantos mártires, por outro lado ainda não se libertou da influência do projetocolonizador que vigorou no passado. O Sínodo [da Amazônia] busca justamenteimplantar uma Igreja pós-colonial e solidária, com rosto amazônico e indígena.Para a Igreja, a região é muito mais do que um lugar geográfico; é também umlugar teológico, no qual transparece a face de Deus criador […]. Os povosindígenas guardam ainda uma sintonia holística com o Cosmo. Seus sentidosaguçados estabelecem um diálogo permanente com a natureza”.

Criar uma nova forma de igreja

Engolfando-se nessas mesmas ideiasdelirantes, outro “teólogo da libertação”, o ex-frade franciscano Leonardo Boff— coautor da encíclica Laudato Si, doPapa Francisco, a respeito de questões ecológicas — afirma em entrevistapublicada no site da “Unisinos” (6-9-19):2

“Eles

[os indígenas]

conhecem o ritmo da floresta, sabem como preservá-la. Eles sãonossos mestres e doutores, não os cientistas que têm uma visão de fora […].Existe o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), que há 30 a 40 anos realizaum trabalho sistemático para a proteção dos povos indígenas. O documento doSínodo Pan-Amazônico faz outro discurso. Não se trata de converter as culturas,mas de fazer a evangelização nas culturas, para que possa surgir uma igreja comrosto indígena. Nesse sentido, pensa-se na ordenação de padres indígenas paracriar essa nova forma de igreja que não seja simplesmente a adaptação dasigrejas europeias […]. O Papa Francisco tem uma imensa liberdade interior ecoragem para abrir novos caminhos. Eu acredito que serão consagrados verdadeirospresbíteros indígenas. Apoio o Bispo Erwin Kräutler, amigo do Papa, que tambémdefende ordenar as mulheres”.

Em ambas as declarações, vemos acontestação à ação missionária da Igreja, que tudo fazia para salvar os índios,proporcionando-lhes bens espirituais e materiais e levando-lhes a boa-nova doEvangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nessas declarações, nota-se também a diferençaem relação à ação colonizadora europeia para estabelecer a Cristandade, pois visavamà civilização e conversão de nossos irmãos indígenas. Catequizando-os, iampouco a pouco, entre outros benefícios, extirpando a barbárie, o canibalismo,as superstições, o paganismo e o infanticídio, prática comum em várias tribos.

Esses dois expoentes da “esquerdacatólica” promovem o contrário do que buscavam os missionários tradicionais,pois “não se trata de converter”, nemde transmitir aos silvícolas o ensinamento católico. Pelo contrário, nós é quedevemos assimilar o que eles, “nossosmestres e doutores”, têm a nos ensinar. Para os missionários “atualizados”,o homem civilizado não é modelo para os selvagens, estes é que devem sermodelos para todo o mundo ocidental e cristão. Ambos apresentam uma visãopanteísta da vida selvagem, como que identificando Deus com a própria naturezaecológica. Em suma, os novos missionários não devem mais catequizar os aborígines,mas assumir seus costumes tribais e seus cultos fetichistas.

Não se esboça nisso a criação de umanova religião? Outro conceito que indica a tendência neste sentido é a propostade ordenação sacerdotal de índios casados e de mulheres.

Nãomenos importantes que essas declarações são as de um dos principais organizadoresdo Sínodo da Amazônia, D. Pedro Ricardo Barreto Jimeno, SJ, arcebispo deHuancayo (Peru), cuja recente ascensão ao cardinalato e ao cargo device-presidente da REPAM (Rede Eclesial Pan-Amazônica) revela a extensão dosobjetivos do atual Sínodo e o açodamento em realizá-los:

 “Os índios vivem o dia e não fazem planos nempara a próxima semana. Outro ponto é o seu tratamento igualitário. Não hádiferenças. Eu aprendo muito com eles e continuo a aprender. Sua cultura, suasabedoria mostrou uma transcendência que para mim era Deus.” Invertendo acondição dos missionários, sustenta que a Igreja não deveria evangelizar osíndios, mas sim aprender com eles: “Sãoos índios que devem nos ensinar tantas coisas.” As lições aprendidas com osindígenas da Amazônia representarão um impulso para uma profunda reforma naIgreja: “Devemos definitivamente apoiar areforma da Igreja. Agora ou nunca!”.

Dom Tomás Balduíno, falecido Bispo de Goiás Velho, ostentandoum cocar, prega os “valores evangélicos” que, segundo ele, inspirama cultura dos índios.

O pseudo-evangelho de D. Balduíno

“Só temos a aprender com os índios” – diz o Pe. Egydio Schwade,assessor do CIMI. Os Jíbaros eram temidos porque matavam todos aquelesque ousassem entrar em seus domínios. E depois, com uma técnica especial,reduziam a proporções diminutas as cabeças de suas vítimas.

         Os neomissionários progressistas, comovemos, estão requentando os erros doutrinários defendidos há décadas por algunspróceres da “esquerda católica” e do indigenismo tribalista, como o antigobispo de Goiás, D. Tomás Balduíno (1922-2014), um dos fundadores do CIMI(Conselho Indigenista Missionário) e da CPT (Comissão Pastoral da Terra). Entrenumerosas apologias da vida tribal e de críticas aos missionários tradicionais,ele declarou:

“Hojea atividade missionária descobre na cultura indígena valores evangélicos, detal forma que o índio não só é evangelizado, mas também é capaz de nosevangelizar […]. A evangelização é capaz de descobrir a presença de Cristo nogrupo tribal, o qual vive de maneira mais cristã do que nós, com o nossobatismo e com a nossa prática religiosa. Sem professar o nome de Cristo, osaborígines vivem muito mais na plenitude de vivência anunciada pelo Cristo”.3

A descoberta da América – um crime

“Só temos a aprender com os índios” – diz o Pe. Egydio Schwade,assessor do CIMI. Os Jíbaros eram temidos porque matavam todos aquelesque ousassem entrar em seus domínios. E depois, com uma técnica especial,reduziam a proporções diminutas as cabeças de suas vítimas.

         Ideias extravagantes como essas,renegando o Evangelho, também foram defendidas pelo hoje nonagenário D. PedroCasaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia (MT), um dos criadores das CEBs(Comunidades Eclesiais de Base) e propulsor do MST. Ele ficou conhecido por nãousar os trajes próprios de prelado: em vez da mitra, chapéu de palha; no lugardo báculo, um remo. Não usa anel de ouro, mas de tucum. Assim se chama uma árvorenativa da Amazônia, com cuja semente se faz o “anel de tucum” — símbolo dospropagadores do Sínodo da Amazônia. Em sua autobiografia, D. Casaldáligaescreveu:

“Acabei,por fim, de entender, e até de sentir, toda a ganga de superioridade racista,de domínio endeusado e de exploração inumana com que foram descobertos,colonizados, e, muitas vezes, evangelizados os novos mundos. ‘Colonizar’ e‘civilizar’ já deixaram de ser para mim verbos humanos. Como não o são, aquionde vivo e sofro, as novas fórmulas colonizadoras de ‘pacificar’ e ‘integrar’os índios. Imperialismo, colonialismo e capitalismo merecem, no meu ‘credo’, omesmo anátema. Repugnam-me os monumentos aos descobridores e aos bandeirantes”.4

Na declaração acima, D. Casaldáliga deixaentender que no seu “credo” não há anátema ao comunismo. Além da crítica aosheróicos descobridores e bandeirantes, ele censura severamente a admirável obraevangelizadora de santos e missionários; como, por exemplo, a de São José deAnchieta, Apóstolo do Brasil:

“Anchietafoi até certo ponto um transmissor de um evangelho colonizador. A Igreja devese penitenciar […]. É evidente que a descoberta da América foi em muitosaspectos um crime colonialista. E que a evangelização tem sido excessivamentevinculada a uma cultura e, por isto mesmo, a um domínio”.5

Sínodo Pan-Amazônico: recauchutagem de ideiasretrógadas

D. Balduíno já faleceu; D. Casaldáligaestá muito idoso e doente; mas em pleno século XXI outros adeptos da “Teologiada Libertação” continuam com os mesmos delírios da missiologia comunista. Hojealguns dos motivadores do Sínodo Pan-Amazônico estão recauchutando o velhoprojeto de imobilizar o índio na vida tribal, panteísta, comunistoide,igualitária e sem propriedade privada, como o faz o arcebispo peruano D. PedroBarreto. E apresentam tal “estilo de vida” como modelo para a sociedade, etambém para macular o glorioso passado missionário da Igreja.

Esse projeto foi denunciado por PlinioCorrêa de Oliveira há quatro décadas. O Sínodo ora em andamento pretende reanimá-lo,não somente com vistas a manter os silvícolas estagnados no tribalismo primitivistae pagão, mas também para apresentar tal estilo de vida como ideal para asociedade dita “civilizada”. Exatamente o que o Prof. Plinio refutou cabalmenteem 1977, em seu livro Tribalismo Indígena – Idealcomuno-missionário para o Brasil no século XXI. O documento de trabalho (Instrumentum laboris) do Sínodo Pan-Amazônico confirma taisobjetivos.

Esse livro foi classificadopor alguns como profético e irrefutável. Profético, pois há 42 anosprognosticou precisamente o que hoje está acontecendo; irrefutável porque,seriamente documentado, não deixa margem para réplica. A íntegra dessa excelente obra  encontra-se disponível no seguinte link:  

Sínodo Pan-Amazônico – os “Estados Gerais” de umarevolução

No livro Tribalismo Indígena, os novos missionários progressistas sãoclassificados por Plinio Corrêa de Oliveira como “missionários aggiornati” (do italiano giorno, dia), no sentido do missionário modernista da Igreja-Nova,pós-conciliar. Os textos das próximas páginas podem ser aplicados inteiramenteaos atuais propugnadores do Sínodo da Amazônia, que se utilizam da questãoindígena como pretexto para contestar uma sociedade “austera e hierárquica, fundamentalmente sacral, anti-igualitária eantiliberal”,6 solidamentefundamentada no magistério tradicional da Santa Igreja Católica.

NaFrança de 1789, a convocação da Assembleia dos Estados Gerais (clero, nobreza epovo) pelo Rei Luís XVI precedeu a Revolução Francesa, que derrubou a monarquiae deu início a um estado de coisas caótico, o qual foi se acentuando até osnossos dias. Da mesma forma, deve-se temer que a atual Assembleia Pan-Amazônica— devido às suas gravíssimas consequências para todo o mundo católico — setransforme nos Estados Gerais da Igreja, com vistas a derrubar a suaestrutura monárquica. É o que se poderia deduzir das seguintes palavras do PapaFrancisco: “O Vaticano como forma de governo, a Cúria, o que seja, é aúltima corte europeia de uma monarquia absoluta. A última. As demais já sãomonarquias constitucionais, a corte se dilui, mas aqui há estruturas de corteque têm que cair”.7

______________

Notas:

Fonte:Revista Catolicismo, Nº 826, Outubro/2019.

1.Em janeiro de 1978, sócios e cooperadores da TFP saíram em caravanas depropaganda do livro Tribalismo Indígena –Ideal Comuno-Missionário para o Brasil no Século XXI. Percorreram 2.963cidades em todos os quadrantes do Brasil. Em nove edições sucessivas, a tiragemalcançou 82 mil exemplares, sem incluir a publicação em Catolicismo (edição denovembro/dezembro de 1977). A mais recente reedição da obra, em 2008, contém oacréscimo de uma segunda parte, na qual os jornalistas Paulo Henrique Chaves eNelson Ramos Barretto narram visita que fizeram à reserva Raposa-Serra do Sol(Roraima), e o que pesquisaram em Mato Grosso e em Santa Catarina sobre aquestão indígena no Brasil. Este acréscimo comemorativo tem por título: 30 anos depois – Ofensiva radical para levarà fragmentação social e política da nação. Confirma inteiramente as tesessustentadas pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 1977.

2.http://www.ihu.unisinos.br/592363-o-futuro-da-humanidade-e-da-terra-esta-ligado-ao-futuro-da-amazonia-entrevista-com-leonardo-boff

3.Índio ensina ao branco os valorescristãos – entrevista de D. Tomás Balduíno ao semanário “Opinião”, apud“CIC – Centro Informativo Católico”, Vozes, Petrópolis, ano XXV, nº 1279, 22 defevereiro de 1977.

4. Yo creo en la justicia y en la esperanza! – Desclée de Brouwer,Bilbao, Espanha, 1976, p. 176.

5.“De Fato”, Belo Horizonte, ano I, nº 6, setembro de 1976.

6. Revolução e Contra-Revolução, Artpress, S. Paulo, 4ª edição em português, 1998, Parte II, Cap. II, 1. 7.https://www.vaticannews.va/es/papa/news/2019-05/papa-francisco-entrevista-televisa-mexico-migrantes-feminicidio.html

7.https://www.vaticannews.va/es/papa/news/2019-05/papa-francisco-entrevista-televisa-mexico-migrantes-feminicidio.html

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Autor

Paulo Roberto Campos

Paulo Roberto Campos

217 artigos

Jornalista (MTB 83.371/SP), colabora voluntariamente com a Revista "CATOLICISMO" (mensário de Cultura e Atualidades) e com a "ABIM" (Agência Boa Imprensa).

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