Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
5 min — há 10 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 8:53:01 PM
Segue abaixo a transcrição de um artigo escrito pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, publicado em sua coluna no jornal Folha de São Paulo, por ocasião do atentado contra a Imagem de Nossa Senhora Aparecida, em 1978.
Depois de tantos sinais de proteção ao povo brasileiro que se percebe ao ler a história da Imagem de Nossa Senhora Aparecida, nossa nação aceitou apática a aprovação do divórcio pelo Congresso em 1977.
Quase um ano depois, a imagem se partiu em um brutal atentando. Seria esse um sinal do desagrado de Nossa Senhora pela apatia do povo brasileiro a quem Ela tanto protegeu? Não nos resta dúvida.
Nossa nação hoje é assaltada no Congresso com leis que visam destruir ainda mais a família natural e o divórcio está no início dessa sinistra história da desagregação familiar. Ficaremos novamente apáticos diante dessas novas investidas?
***
Folha de S. Paulo, 29 de maio de 1978
Plinio Corrêa de Oliveira
Em sua brutalidade, o fato é este: o Brasil, há mais de dois séculos, venera Nossa Senhora como sua especial padroeira. E essa veneração se dirige a Ela sob a invocação de Imaculada Conceição Aparecida.
Nossa Senhora Aparecida!
A exclamação acode freqüentemente ao espírito dos brasileiros. E sobretudo nas grandes ocasiões. Pode ser o brado de uma alma aflita que se dirige a Deus pela intercessão da Medianeira que nada recusa aos homens, e à qual Deus, por sua vez, nada recusa. Pode igualmente ser a exclamação de uma alma que não se contém de alegria, e extravasa seu agradecimento aos pés da Mãe, de quem nos vêm todos os benefícios.
A história da pequena imagem de terracota escura, com o seu grande manto azul sobre o qual resplandecem pedras preciosas, e cingindo à fronte a coroa de Rainha do Brasil – essa história encheria livros. Esses livros, se fossem concebidos como eu os imaginaria, deveriam conter não só os insignes fatos históricos que a Ela se prendem, mas também, em opimo apêndice, as legendas que a piedade popular a respeito deles teceu. É do amálgama de uma coisa e outra – história séria e incontestável, e legenda graciosa – que resulta a imagem global da Aparecida como ela existe no coração de todos os brasileiros.
– O escravo que rezava aos pés da Senhora concebida sem pecado original, ao mesmo tempo que dele se acercava o dono inclemente, as algemas que se rompem, o coração do amo que se comove etc.;
– o Príncipe Regente que saudava a imagem no decurso do trajeto que o levava do Rio a São Paulo, onde iria proclamar a independência e fazer-se imperador;
– o ato do novo monarca colocando oficialmente o Brasil sob a proteção da Virgem Imaculada Aparecida;
– a coroação da imagem com a riquíssima coroa de ouro cravejada de brilhantes, oferecida anos antes pela princesa Isabel, coroação feita em 8 de dezembro de 1904 pelos bispos da Província Meridional do Brasil e de outros pontos do País, em razão do decreto do Cabido da Basílica Vaticana, aprovado por São Pio X;
– o velho Venceslau Brás, ex-presidente da República, assistindo, piedoso, no jubileu de prata da coroação da imagem, a missa hieraticamente celebrada por D. Duarte Leopoldo e Silva, reluzente daquela como que majestade episcopal tão caracteristicamente dele;
– a solene proclamação do decreto do papa Pio XI, de 16 de julho de 1930, constituindo e declarando “a Beatíssima Virgem Maria, concebida sem mácula, sob o título de Aparecida, padroeira principal de todo o Brasil, diante de Deus”;
– a apoteótica manifestação do dia 31 de maio de 1931, em que o episcopado nacional, diante da milagrosa imagem levada triunfalmente ao Rio de Janeiro em trem-santuário, na presença das maiores autoridades civis e militares e em união com todo o povo – mais de um milhão de pessoas! Consagrou o país a Nossa Senhora da Conceição Aparecida.
E assim por diante, sem falar das curas, aos milhares. Quantos milhares? Cegos, aleijados, paralíticos, leprosos, cardíacos, que sei eu mais! Multidões e multidões sem conta de devotos, vindas do Brasil inteiro, com as mães contando às criancinhas, ao voltarem para os lares, alguma narração piedosa sobre a Santa, inventada na hora ou ouvida da avó ou da bisavó. Bem entendido, narração enriquecida, de geração a geração, com mais pormenores maravilhosos. Quem conta um conto…
Tudo isso levava o Brasil inteiro a emocionar-se – e com quanta razão – ante a pequena imagem de terracota escura, vendo nela o sinal palpável da proteção de Nossa Senhora.
E o sinal se quebrou.
Por sua vez, essa quebra não será um sinal? Sinal de quê? (…) Amigos meus que conversaram há dias com altíssima personalidade eclesiástica dela ouviram que os sacrilégio teria relação com a aprovação do divórcio no Brasil.
A hipótese faz pensar. Talvez, entristecida a fundo pela promulgação do divórcio. Nossa Senhora, ao permitir o crime, tenha querido fazer ver ao povo brasileiro seu desagrado pelo fato. Seria bem isso? Sem dúvida, a introdução do divórcio foi um gravíssimo pecado coletivo cometido pela nação brasileira.
Mas há dois aspectos pelos quais a aprovação do divórcio pode ser relacionada com o crime sacrílego. De um lado, se o divórcio foi aprovado, é porque a resistência contra o mesmo foi insuficiente.
A Nação dormitava quando o sr. N. Carneiro era aclamado aos brados, pelo plenário do Congresso e por uma minoria que abarrotava as galerias, logo depois da aprovação da lei. Essa soneira em hora tão grave exprime, por sua vez, uma flagrante falta de zelo. Pois não nos basta não fazer uso da lei. Se não a queríamos, por que não a impedimos?
Por sua vez, ainda, como não reconhecer nesse censurável indiferentismo, não um estado de espírito de momento, mas uma atitude de alma resultante de efeitos ainda muito mais profundos? Quando a moralidade das modas decai assustadoramente, quando os costumes sociais se degradam a todo momento e a limitação da natalidade, praticada por meios condenados pela Igreja, vai ganhando proporções assustadoras, prepara-se o caldo de cultura para o comunismo.
Este, embuçado em criptocomunismos, eurocomunismos, socialismos e outros disfarces ideológicos, vai avançando. Como não reconhecer nisto um complexo de circunstâncias nas quais se insere, com toda a naturalidade o divórcio?
Fonte: http://www.pliniocorreadeoliveira.info/FSP%2078-05-29%20A%20Imagem.htm
Plinio Corrêa de Oliveira
557 artigosHomem de fé, de pensamento, de luta e de ação, Plinio Corrêa de Oliveira (1908-1995) foi o fundador da TFP brasileira. Nele se inspiraram diversas organizações em dezenas de países, nos cinco continentes, principalmente as Associações em Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), que formam hoje a mais vasta rede de associações de inspiração católica dedicadas a combater o processo revolucionário que investe contra a Civilização Cristã. Ao longo de quase todo o século XX, Plinio Corrêa de Oliveira defendeu o Papado, a Igreja e o Ocidente Cristão contra os totalitarismos nazista e comunista, contra a influência deletéria do "american way of life", contra o processo de "autodemolição" da Igreja e tantas outras tentativas de destruição da Civilização Cristã. Considerado um dos maiores pensadores católicos da atualidade, foi descrito pelo renomado professor italiano Roberto de Mattei como o "Cruzado do Século XX".
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