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O “computador de Arquimedes”: lição para a ufania da modernidade

Por Luis Dufaur

8 minhá 10 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 8:50:53 PM


Computador de Arquimedes: réplica científica do século XX
Computador de Arquimedes: réplica científica do século XX.

No ano de 1900, um mergulhador resgatou do fundo do Mediterrâneo um aparelho estranho que se encontrava entre muitas obras de arte gregas dos séculos I e II antes de Cristo.

O achado ocorreu na Ilha de Anticitera, na Grécia, tendo sido feito por um simples coletor de esponjas marítimas de nome Elias Stadiatos. Ele desceu sem equipamento algum, como era costume, e voltou dizendo que tinha encontrado corpos desfeitos, cabeças e braços arrancados, cavalos mutilados.

Julgando-o tonto devido à falta de oxigênio, ou até bêbado, o capitã Dimitrios Kondos desceu até o local. E voltou dizendo que Elias não só não estava errado, mas que havia muito mais coisas: lançadores de discos, efebos de mármore, estátuas de bronze e ânforas de cerâmica.

Certamente era um tesouro transportado outrora por um navio cujos restos desfeitos ainda podiam ser identificados.

Tratava-se na verdade de um dos mais importantes naufrágios da História. Era um navio que levava um tesouro com joias e esculturas que hoje estão nos museus.

Após estudarem as moedas que faziam parte do tesouro, os arqueólogos calcularam que o navio afundou entre os anos 85 e 60 a. C.

Ele foi um dos maiores da época e não se sabe bem por que naufragou. Talvez devido a uma tempestade, ou por sobrecarga de riquezas.

Reconhecida a riquíssima carga, constatou-se que era o botim de guerra que o cônsul romano Lúcio Cornélio Sila havia amealhado dos atenienses na Primeira Guerra Mitridática (88 a.C. – 84 a.C.).

Naquela guerra, que opôs Roma ao famoso Mitrídates VI, rei do Ponto, Sila invadiu a Grécia e saqueou Atenas, que era aliada de Mitrídates.

O botim provavelmente devia ser exibido num desfile triunfal do imperador Júlio César, mas o mar resolveu ficar com ele.

As obras de arte, ânforas e outros objetos resgatados foram para o Museu Arqueológico Nacional de Atenas.

Uma peça, entretanto, era sumamente intrigante.

Computador de Arquimedes: a peça principal foi a primeira achada
Computador de Arquimedes: a peça principal foi a primeira achada.

Havia sido catalogada como “item 15.087” e, contrariamente ao resto do tesouro, não se sabia ao certo para que servia. Mas devia ser muito valiosa para estar entre tantos artefatos seletos.

O diretor do Museu de Atenas, Valerios Stais, analisou cuidadosamente aquilo que parecia ser uma máquina. Pois se tratava de uma peça de bronze calcificado e corroído pela água que exibia incrustados restos de engrenagens.

Novas expedições juntaram fragmentos desse objeto: 82 no total. Ele deve ter tido 30 centímetros de altura por 15 de largura, e estava composto de várias rodas dentadas superpostas, onde estavam gravados 3.000 caracteres. O todo ficava protegido por uma caixa de madeira.

Acreditava-se que os níveis de precisão e miniaturização do engenho só haviam aparecido cerca de 1.400 anos depois, como nos relógios astronômicos das catedrais, capazes de reproduzir o movimento dos planetas, do Sol e da Lua, e predizer suas fases.

Os investigadores discutiram durante anos o que seria aquela peça. Só concordaram em que era um aparelho pequeno, leve e portátil.

À procura de uma pista, os arqueólogos recorreram às bibliotecas. E identificaram alusões inquietantes, que acabaram sendo esclarecedoras.

Encontraram que Arquimedes (287 a.C. – 212 a.C.), o maior matemático e inventor da Antiguidade, escrevera um manual com o título: Sobre a construção de máquinas de astronomia.

Também o filósofo e político Marco Túlio Cícero (106 a.C. – 43 a.C.), em seu tratado De republica, descreve engenhos que podiam calcular os eclipses em função de outros movimentos dos astros.

Ele também menciona que no ano 212 a. C., o cônsul romano Marco Claudio Marcelo (268 a.C. – 208 a.C.) conquistou Siracusa (Sicília). E dali trouxe um objeto fascinante feito por Arquimedes.

Tudo apontava na direção do “item 15.087”, que os cientistas começaram a chamar de “mecanismo de Anticitera”, local da descoberta, e parecia ter relação com o aparelho roubado em Siracusa. Ele talvez fosse uma versão 2.0 mais aperfeiçoada do invento de Arquimedes.

De 1951 até 1983, o físico inglês Derek de Solla Price tirou muitas radiografias das peças enferrujadas e reconstituiu o mecanismo. Segundo ele, o modelo mostrava a posição do Sol e da Lua no zodíaco e apontava as datas para as colheitas.

A descoberta de Solla Price foi ouvida com desconfiança: parecia algo moderno demais, até desprestigiante para a ciência da computação moderna.

Mas Michael Wright, especialista em engenharia mecânica do Museu da Ciência de Londres, obteve tomografias irrefutáveis com tecnologia 3D. O mecanismo reproduzia com exatidão os movimentos do céu, as fases lunares, e apontava as festividades religiosas.

Wright construiu uma nova réplica usando as mesmas ferramentas dos gregos, e demonstrou que se tratava de um computador mecânico.

“Tu introduzes uma série de dados e ele te devolve outros relacionados”, explicou num documentário do History Channel.

Computador de Arquimedes (réplica): muitas de suas funcionalidades ainda não foram descobertas
Computador de Arquimedes (réplica): muitas de suas funcionalidades ainda não foram descobertas.

Eis a surpresa: os antigos antes de Cristo já tinham concebido e construído o primeiro computador da História.

O consenso científico hodierno concorda em que o “mecanismo de Anticitera” ou “computador de Arquimedes” era um planetário portátil que era movido com uma manivela lateral e mostrava a posição presente e futura do Sol, da Lua e dos cinco planetas então conhecidos: Marte, Júpiter, Vênus, Saturno e Mercúrio.

Tinha detalhes extremamente refinados: a agulha da Lua acelerava e desacelerava ritmicamente, copiando a órbita real. Outra agulha lembrava ao usuário que este devia fazer retroceder um dia em cada 76 anos, o hiper-preciso calendário.

No início do III milênio o “computador de Arquimedes” ainda continha segredos a revelar.

Um consórcio de astrônomos e historiadores liderados pelo matemático inglês Tony Freeth lançou o Antikythera Mechanism Research Project.

Um fabricante de tomógrafos aceitou criar um com potência suficiente para penetrar em todos os níveis do equipamento enferrujado retirado do fundo do mar.

Não foi pouca coisa. Pois o singular tomógrafo pesa oito toneladas e foi levado em caminhão de Londres até Atenas.

O esforço foi bem compensado: o tomógrafo produziu uma série de imagens em alta resolução e em 3D. O mecanismo ainda conservava 27 engrenagens, talvez a metade dos originais, concentrados em sete centímetros.

“Foi como ver um mundo novo”, comenta Freeth no documentário The 2000 year-old computer (“O computador de dois mil anos”) documentário especial da BBC.

Com base nas tomografias e técnicas especiais para detectar antigos traços de pintura, Feeh identificou as letras gregas que a corrosão do mar havia apagado.

As letras formavam frases: “a cor é negra”, “a cor é vermelho- sangue”. Isso confirmava que o aparelho também predizia eclipses solares e lunares.

Freeth também verificou que uma espécie de relógio embutido anunciava a data dos jogos pan-helênicos, que incluíam gladiadores.

O relógio dava maior destaque aos Jogos Ístmicos, celebrados em Corinto. Os investigadores descobriram também que o calendário concordava com o da colônia grega de Siracusa. Então, a mão inspiradora ou inventora de Arquimedes tornou-se ainda mais patente.

Desde 2008, outra equipe, sustentada pela Universidade Puget Sound de Tacoma e pela Fundação Fulbright, e liderada pelos cientistas James Evans e Christián Carman, descobriu que a escala do zodíaco não estava dividida em partes iguais.

A agulha que representava o Sol demorava mais em algumas das zonas, acelerava e desacelerava acompanhando o ritmo da Lua.

Procura-se saber o uso que lhe era dado.

As reconstituições tentam compreender como e para o que pode ter sido feito na Antiguidade um mecanismo que se acreditava exclusivo da Era Contemporânea
As reconstituições tentam compreender como e para o que pode ter sido feito na Antiguidade um mecanismo que se acreditava exclusivo da Era Contemporânea

 

“O mais provável é que fosse uma espécie de computador. Se queres saber quando será o próximo eclipse, bastava girar a manivela até sair a predição. Se queres saber onde estava Marte no dia em que nasceste, basta girar o calendário até o dia de teu nascimento e ficarás sabendo”, disse Christián ao jornal “Clarin” de Buenos Aires.

Christián estudou as imagens gravadas na face posterior do mecanismo e descobriu os eclipses ordenados num ciclo que se repetia a cada 47 meses. Tratava-se só dos eclipses no hemisfério norte, o único que os gregos podiam observar.

Os cientistas queriam saber a data em que foi feito o “computador de Arquimedes”. Por sua parte, os epigrafistas, ou especialistas em inscrições antigas, dataram as inscrições entre o ano 250 a.C. e o 50 a.C., um espectro de tempo assaz grande que incluía dez eclipses.

Com base nos estudos de Alexander Jones, que estabeleceram a velocidade lunar de alguns eclipses, Christián descartou nove dos dez possíveis. Só uma hipótese ficou de pé: o primeiro eclipse do mecanismo aconteceu no dia 25 de junho de 205 a. C., às 15.35, hora local de Atenas.

Portanto, o calendário de Anticitera começou a funcionar em agosto ou setembro do ano 216 antes de Cristo, quando Arquimedes ainda estava vivo.

Apesar da precisão deste dado, ainda há outras variáveis para serem decifradas, sugeridas por engrenagens cuja finalidade ainda não foi identificada.

Christián observou o fascínio que produz um instrumento que passou 2.000 anos no fundo do mar.

De fato, o reaparecimento do engenho aponta que muitas coisas de que a modernidade se ufana foram na realidade inventadas há milênios, sem dinheiro nem maquinarias complicadas, mas apenas contemplando com sabedoria natural a ordem posta por Deus no Universo criado.

 

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Luis Dufaur

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Escritor, jornalista, conferencista de política internacional no Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, webmaster de diversos blogs.

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