Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
5 min — há 4 anos — Atualizado em: 5/22/2020, 4:42:02 PM
No recente documento publicado pelo Instituto Plinio Corrêa de Oliveira (A maior operação de engenharia social e de baldeação ideológica da História) as correntes ecologistas radicais são acusadas de se posicionarem como uma das principais beneficiárias da crise econômica e social decorrente do confinamento forçado da população.
Desde o início daaplicação das drásticas medidas de lockdownos verdes proclamaram aos quatro ventos que estava provado ser possível, diantede uma ameaça global, impor medidas rígidas para mudar o comportamento daspessoas, e que seria doravante inconsequente não declarar a “urgênciaclimática” e impor medidas severas para diminuir a produção de CO2.
A acusação lançada peloInstituto foi amplamente confirmada pelas declarações feitas no dia 6 de maio, aoconhecido jornal de esquerda Le Monde pelolíder ecologista francês Nicolas Hulot.
Para aqueles que nãoacompanham de perto a política francesa a figura de Nicolas Hulot pode serdesconhecida, mas ele é na França, segundo sondagens de opinião, o homempúblico com o maior índice de popularidade.
Depois de trabalhar como fotógrafo de imprensa e jornalista, Hulot se tornou uma figura conhecida em todos os lares por seu programa de televisão Ushuaïa, dedicado a esportes radicais e às belas paisagens. Com as simpatias angariadas nesse programa, as parcerias com grandes empresas e o maior canal de televisão, ele lançou a Fundação para a Natureza e o Homem, hoje Fundação Nicolas Hulot, dedicada ao combate à “mudança climática”. Malogrado pré-candidato do Partido Europa Ecologia — os Verdes às eleições presidenciais de 2012, o presidente Macron lhe ofereceu o Ministério da Transição Ecológica e Solidária, cargo que exerceu entre maio de 2017 e agosto de 2018, quando renunciou alegando que a ecologia não era uma prioridade do governo. Sem nenhum cargo político, ele continua sendo, entretanto, uma figura de relevo nos debates em torno das questões do meio ambiente, não escondendo suas ambições para as eleições presidenciais de 2022.
Do alto de sua atalaia,Nicolas Hulot sentiu que o pânico provocado em torno da Covid-19 era o momento propíciopara se lançar proposições radicais que influenciassem as decisões públicas queconfigurarão a “nova normalidade” emergente. Isso porque a presente crise “torna aceitáveis propostas que até agorapareciam totalmente inatingíveis”, sendo agora possível “criar um círculo virtuoso entre a vontadecidadã e a faculdade política”.
O título que o Le Monde deu à sua longa entrevista já émuito ilustrativo dessa mudança psicológica do cenário pós-coronavírus: “Nicolas Hulot: ‘O mundo de depois seráradicalmente diferente daquele de hoje, e sê-lo-á de bom grado ou pela força’”.
Como o Papa Francisco, ele sustenta que a crise sanitária provocada pelo coronavírus tem suas raízes nas perturbações do sistema ecológico causadas pelo excesso de produção e consumo. Um revide, em suma. Queixa-se que a crise climática apresenta o “cenário-catástrofe” de uma “crise sistêmica”, a qual, combinada com outras, pode “provocar um caos”, e apesar disso continua sendo tratada com “doses homeopáticas” que não correspondem nem a “um quarto das soluções adotadas contra o coronavírus”.
Pelo contrário, Hulotsustenta que “a sociedade, que aceitousem pestanejar ser privada de liberdades fundamentais, sonha em poder recuperara confiança no porvir, pelo que é preciso fazer as coisas em grande escala”.E reitera: “Estamos numa situação radical,eu não me acomodarei com medidas que não sejam radicais. Isso não serviria paranada.”
Para o líder ecologista“o Estado-providência está de volta”,mas propõe que em contrapartida pelas ajudas às empresas para salvá-las dafalência se exijam medidas concretas de caráter ecológico.
Ele também preconiza umamudança radical no comportamento das pessoas: “Não se poderá mais tomar o avião como antes, nem adquirir um produtoque chega do fim do mundo pela Amazon em 24 horas, por exemplo. Aqueles quepodem, poderão comprar carros bólidos ou SUV? Espero que não. Haverá nocomércio produtos alimentícios de fora da estação? Não. Cumpre que a oferta e oconsumo mudem rapidamente.”
Para que haja essamudança é preciso que “os bens e serviçosecologicamente e socialmente virtuosos” tenham impostos baixos, e aqueles quepenalizam “os bens tóxicos” sejamdissuasivos. Propõe ainda lançar “moedas locais” que permitam às coletividadeslocais ajudar os mais necessitados.
A entrevista é acompanhada de um manifesto contendo os “100 princípios para um mundo novo”, todos eles iniciados pelo refrão “chegou o tempo de…”. Eis os mais eloquentes, ordenados por temas, tendo como fundo de quadro o mito do “bom selvagem” e como horizonte a vida tribal autogestionária denunciada por Plinio Corrêa de Oliveira em seu estudo profético Tribalismo indígena: ideal comuno-missionário para o Brasil do século XXI.
Autopia do mundo novo — “Chegouo tempo… de colocarmos juntos as primeiras pedras de um mundo novo” / “de umimpulso desenfreado para abrir novas vias” / “de crer que outro mundo épossível” / “de mudar de paradigma”.
Possibilitadopor uma baldeação ideológica — “Chegouo tempo… de uma nova forma de pensar” / “de emancipar-se dos dogmas” / “de nosdesfazermos dos nossos condicionamentos mentais individuais e coletivos” / “decriar um lobby das consciências”.
Rumandopara um estilo de vida frugal — “Chegouo tempo de… nós nos libertarmos dos nossos vícios consumistas” / “dasobriedade” / “de aprender a viver mais simplesmente” / “de considerar oconjunto das crises ecológicas, climáticas, sociais, econômicas e sanitáriascomo uma só e mesma crise: uma crise do excesso” / “de exonerar os serviçospúblicos da lei do rendimento”.
Naimitação da vida tribal dos aborígenes — “Chegouo tempo de… reconhecer a humanidade plural” / “de cultivar a diferença” / “deescutar os povos aborígenes” / “de ligar nosso ‘eu’ ao ‘nós’” / “de criarliames” / “da inteligência coletiva”.
Emharmonia com a natureza — “Chegouo tempo de… nós nos reconciliarmos com a natureza” / “de cuidar e reparar anatureza” / “de respeitar a integridade e a variedade daquilo que é vivo” / “dedeixar o espaço ao mundo selvagem” / “de tratar os animais no respeito dos seuspróprios interesses”.
Não há a menor dúvidade que se a humanidade deixar-se dominar pelo pânico e embalar pelo pesadeloecologista de Nicolas Hulot, o mundo de amanhã será radicalmente diferente. E,para impedir que isso aconteça, ela deverá lutar!
José Antonio Ureta
37 artigosChileno, membro fundador da "Fundación Roma", uma das organizações chilenas pró-vida e pró-família mais influentes; Pesquisador e membro da "Société Française pour la Défense de la Tradition, Famille et Propriété"; colaborador da revista Catolicismo e do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira e autor do livro: "A mudança de paradigma do Papa Francisco: continuidade ou ruptura na missão da Igreja? Relatório de cinco anos do seu pontificado".
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