Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
7 min — há 2 anos — Atualizado em: 10/23/2022, 9:37:27 PM
Santiago — O recente plebiscito constitucional, realizado em 4 de setembro no Chile, deu uma lição clara e uma vitória esmagadora à opção daqueles que rejeitaram a proposta da esquerda radical.
A opção era simples: aprovar ou rejeitar um projeto constitucional de 388 artigos, elaborado por uma maioria de constituintes de extrema-esquerda totalmente ignorantes do direito constitucional.
Nova Constituição e Quarta Revolução
O texto plebiscitado era a versão mais radical possível do que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira descreveu em seu ensaio Revolução e Contra-Revolução como Quarta Revolução: um misto de aniquilação do Estado simultânea ao controle total da economia por micro-organismos autônomos e descentralizados.
Para quem não leu o projeto de Constituição submetido à consulta plebiscitária, torna-se difícil avaliar a revolução profunda, de natureza “refundacional” — “começando do zero” — proposta pelo texto.
A grande maioria de seus redatores pertencia à extrema-esquerda e provinha do movimento de protesto iniciado em 18 de outubro de 2019, ao qual se convencionou chamar de Revolta social ou Despertar do Chile.
Encorajados por essa composição da convenção e pelo subsequente sucesso eleitoral do candidato Boric, ditos redatores julgavam que o terreno estava propício para “avançar sem ceder” e impor uma nova Constituição ao gosto da Revolução mais extremamente igualitária. Seu objetivo era definir as próximas décadas para a aniquilação de qualquer remanescente da sociedade cristã no Chile.
No entanto, ao longo de todo o processo de redação, que durou pouco mais de um ano, firmou-se na opinião nacional a convicção do caráter partidário da assembleia constituinte, a total falta de preparação de seus membros para a tarefa que lhes fora confiada, suas exigências cada vez mais absurdas e, por fim, o constrangimento pessoal e situações protagonizadas por vários deles.
Constituição arrasadora de valores tradicionais
O resultado foi que, ao mesmo tempo em que os redatores da esquerda radical incluíam no novo texto constitucional artigos de sua orientação, a maioria do País se afastava cada vez mais deles. No entanto, sua “embriaguez” ideológica não lhes permitiu perceber o abismo profundo que cavavam entre eles e a Nação real.
Introduziram assim, pêle-mêle, o aborto livre sem objeção de consciência com direitos dos animais e do meio ambiente; a multinacionalidade; o controle dos recursos naturais pelos “povos originários”; o fim das garantias ao direito de propriedade privada; a limitação da liberdade dos pais de educar os filhos; direitos sexuais e de “gênero”; a limitação do direito de praticar a verdadeira religião; a limitação do direito de abrir escolas particulares; a proteção das “cosmovisões” indígenas; a eliminação do Judiciário e do Senado; a nacionalização dos direitos à água; a limitação da exploração mineira e agrícola; o fim do estado de exceção para a defesa do terrorismo; a reforma dos Carabineiros; o perdão de todos os condenados pela justiça por conta da destruição de outubro de 2019, e um grande etcétera que ao longo de 388 artigos reduzia literalmente a escombros todo o sistema político, social e econômico construído ao longo de dois séculos de vida independente.
Em sua ânsia de refundação, nada poderia ficar de pé. Quase como uma nova versão do Khmer Vermelho do Camboja, para eles cumpria reeducar a sociedade chilena nos moldes dessa fórmula autogestionária em que toda e qualquer desigualdade e a mais modesta autoridade deveriam ser completamente destruídas.
Em plebiscito, chilenos rejeitam a nova Constituição
Concluídos os trabalhos da assembleia constituinte, o governo de Gabriel Boric não hesitou em comprometer todas as forças do Estado para favorecer a opção Aprovo. Visitas, palestras, distribuição de milhares de exemplares do texto, pronunciamentos ministeriais, todo o aparelho estatal estava pronto havia meses para favorecer essa opção e impedir o triunfo da Rejeição.
No entanto, a sorte já estava lançada. A opinião nacional foi esmagadoramente contrária à proposta, e o fez sentir em 4 de setembro passado com uma força e veemência que surpreendeu a todos.
Com efeito, nem as expectativas mais pessimistas do governo socialista, nem as mais otimistas dos favoráveis à Rejeição esperavam que estes últimos reunissem 62% do eleitorado, correspondente a quase oito milhões de eleitores, uma afluência historicamente elevada.
Depois de várias eleições com voto voluntário, neste ano ele foi obrigatório, donde a alta participação dos eleitores. Enquanto a opção Aprovo obteve somente 4.860.266 votos (38,13% do total), a opção Rejeito obteve 7.886.434 (61,87%). Os votos validamente emitidos totalizaram 12.746.700.
No epicentro das manifestações de protestos na Plaza Italia, depois do resultado, os rostos desfigurados dos representantes da Aprovação e dos agitadores eram indícios claros da confusão em que se encontravam.
Em meio ao desastre que esse resultado causou à esquerda nacional, há algumas informações que a prejudicam mais particularmente.
Uma foi a constatação de que nos 10 bairros mais pobres do País a opção Rejeição obteve percentual maior do que nos 10 bairros mais ricos.
Um segundo aspecto que atormentou os promotores da plurinacionalidade foi o alto índice de apoio à Rejeição nas comunas com porcentagem mais elevada de descendentes dos índios mapuches.
A Araucânia — região onde vive a maior parte da população identificada como mapuche — foi a segunda com maior percentual de votos a favor da Rejeição: 73,69%. Nessa região a Aprovação obteve somente 26,31% dos votos.
Um resultado definitivo?
Na vida política das nações nada é definitivo. Os caprichos e tendências daqueles que as compõem são permanentemente influenciados por diferentes correntes e opções. No entanto, apesar da fragilidade das decisões humanas, não será fácil reverter esse resultado.
A participação historicamente alta no referendo, a grande diferença entre as duas opções, o compromisso do governo com a primeira, a radicalidade da proposta do plebiscito e as expectativas frustras do socialismo internacional constituem um conjunto de circunstâncias que não hesitamos em considerar histórico.
Para reverter esses resultados a esquerda precisará de tempo e muita astúcia, pois o eleitorado está desperto e vigilante. O futuro dirá se conseguirão adormecê-lo, com a inevitável colaboração dos “companheiros de viagem” e dos “inocentes úteis”, do chamado “centro-direita” e dos círculos eclesiásticos de esquerda, cada vez menos “inocentes” e mais “úteis”.
Em seu já citado ensaio Revolução e Contra-Revolução, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira descreveu magistralmente as duas velocidades da Revolução: “Parece que os movimentos mais rápidos são inúteis. Contudo, não é verdade. A explosão desses extremismos levanta uma bandeira, cria um ponto de vista fixo que, por seu próprio radicalismo, fascina os moderados, para o qual caminham lentamente.”
Não será, portanto, de surpreender que no cenário nacional surjam revolucionários de “marcha lenta” propondo um novo texto constitucional menos radical em suas demandas imediatas, mas que a longo prazo conduz à mesma fórmula autogestionária.
Incumbirá a quem zelar pelos interesses da civilização cristã no Chile o dever de denunciar essas novas sereias que agora pedem um consenso socialista “moderado”.
Proteção de Nossa Senhora do Carmo
Para aqueles de nós que acompanham passo a passo esse processo revolucionário que em outubro de 2019 terminou de subverter a ordem nacional, uma coisa ficou clara: é o espírito “que cometestes outrora seguindo o modo de viver deste mundo, do príncipe das potestades do ar, do espírito que agora atua nos rebeldes” (Efésios, 2, 2).
Portanto, qualquer oposição a esse processo revolucionário deve encontrar seu principal apoio n’Aquela que extermina todas as heresias: “Alegra-te, Virgem Maria, tu que és a única que destruiu todas as heresias do mundo”, como afirma o Pequeno Ofício da Virgem.
Assim como antes do plebiscito nos dirigimos a Nossa Senhora do Carmo implorando o seu poderoso auxílio, assim também agora, conhecidos os resultados, agradecemos filialmente o seu socorro. Nós o fazemos confiantes na sua contínua e materna proteção do Chile, a Ela consagrado, e de seu futuro cristão.
Chile, Esquerdas, Gabriel Boric, Marxismo, Plebiscito
Fonte: Revista Catolicismo, Nº 862, Outubro/2022.
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