Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
10 min — há 5 anos — Atualizado em: 3/29/2020, 9:28:40 PM
Mesmo depois das duas grandes Guerras Mundiais que devastaram as nações e suas formas de governos, principalmente as que eram regidas pela nobreza – de modo especial no Ocidente –, temos ainda hoje a encantadora Nobreza Britânica.
Com sua Rainha, Elizabeth II aos 93 anos, casada a 73 anos com Príncipe Philip completando 67 anos de reinado. É impressionante vermos que até hoje vem deslumbrando não apenas o seu povo britânico, mas o mundo todo – note-se que até nações não monárquicas a admiram.
Quem não parou por um instante para ver a filmagem, da borda de platina do casamento da Rainha Elizabeth II, – em 2017, onde os seus súditos dormiam, muitas vezes ao relento – renunciando a suas camas aconchegantes e à comodidade de assistir (a cerimônia) pela TV ou internet – para ver um aceno da Rainha, mesmo que não fosse direcionado a si mesmos. Será que um chefe de Estado moderno, por exemplo: Dilma Rousseff ou Angela Merkel, conseguiriam despertar tamanho entusiasmo e admiração?
Outro deslumbre: dos contos de Cinderela à vida real, Kate Middleton se casa com o príncipe William [foto ao lado], acontecimento chamado por muitos como “casamento do século”, onde bilhões deitam seu olhar para Mundo da Nobreza. Cerca de dois bilhões de pessoas em 180 países acompanharam a cerimônia pela televisão, pela internet, ao mesmo tempo em que milhares de pessoas de todo mundo tomaram as ruas de Londres — para o acontecimento mais esperado na Grã-Bretanha — desde o casamento de Diana e Charles, os pais de William.
O mundo olha com especial atenção as atitudes que vem tomando o jovem casal real britânico, o duque e a duquesa de Cambridge. A simpatia da duquesa, Catherine Cambridge, vem se assemelhando, aos olhos do público, à da princesa Diana – que também foi aos poucos ganhado –, e mais ainda, agraciou com uma prole abundante, onde garantirá a dinastia da Casa de Windsor, e vem tomando ares de princesa… Sobretudo, o príncipe William vem deixado se envolver e forjando-se pela Tradição que a monarquia inglesa formou, imbuindo-se da missão de um nobre.
Agora, bem distante disto, infelizmente, é o caso do príncipe Harry – o duque de Sussex – e sua esposa Meghan, conforme notícia do jornal O Estado com o título: “Harry e Meghan rejeitam usar nome ‘Sussex Royal’”; eles “deixarão de utilizar a denominação ‘real’ nos próximos meses[…], depois de terem aberto mão das suas funções reais em março.” E continua; “O casal já não podia usar o título de ‘alteza real’.” (OESP 22/02/2020).
Estas atitudes vêm demonstrado um rompimento — por não terem mais apreço a Tradição da Nobreza, — deixando transparecer que passam quase por asfixiamento. No rumo que estão tomando, se tornarão – muito em breve, com muito apoio midiático, aliás – uns Jet Set. A sobra da nobreza …
Mas, como entender esta mudança tão trágica e repentina? O que mudou mesmo neles para chegarem a esse ponto?
Para isto trarei ao leitor um texto tirado do livro Nobreza e elites tradicionais análogas… de autoria do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, onde poderemos ver, como pano de fundo, quais poderiam ser as razões que levaram o príncipe Harry e sua esposa Meghan a renunciarem à nobreza.
Poderemos também entender porque o outro casal, o príncipe William, duque de Cambridge e a duquesa Catherine, vem encantando todo o mundo, por uma postura digna da nobreza, uma ascese entre renúncia e dedicação – vencendo uma atmosfera hostil muitas vezes – na defesa da Tradição da Nobreza, que é fruto da Civilização Cristã.
O papel da nobreza, que deve se empenhar na sociedade e no exemplo a seu povo, explanado na alocuções de Pio XII ao Patriciado e a Nobreza romana *:
‘ “ O apreço a uma tradição é virtude raríssima nos nossos dias. De um lado, porque a ânsia de novidades, o desprezo pelo passado, são atitudes de alma que a Revolução () tornou muito frequentes. De outro lado, porque os defensores da tradição a entendem por vezes de modo inteiramente falso. A tradição não é um mero valor histórico, nem um simples tema para variações de um saudosismo romântico. É ela um valor a ser entendido, não de modo exclusivamente arqueológico, mas como fator indispensável para a vida contemporânea. ” ’
(*) O termo “Revolução” é usado neste livro no mesmo sentido que lhe é atribuído no ensaio Revolução e Contra-Revolução, do mesmo autor.
Designa ele um movimento iniciado no século XV tendente a destruir a Civilização Cristã e implantar um estado de coisas diametralmente oposto. Constituem etapas desse processo a Pseudo-Reforma, a Revolução Francesa, o Comunismo nas suas múltiplas variações e na sua subtil metamorfose dos dias presentes.”
‘ “A palavra tradição, diz o Pontífice, “soa desagradavelmente a muitos ouvidos. Ela desagrada, com razão, quando pronunciada por certos lábios. Alguns a compreendem mal; outros usam-na como falacioso pretexto para o seu egoísmo inativo. À vista de um desentendimento e desacordo tão dramáticos, não poucas vozes invejosas, muitas vezes hostis e de má fé, e mais frequentemente ainda ignorantes ou enganadas, questionam-vos e perguntam-vos sem rebuços: para que servis? Para responder-lhes, convém antes entender-se o verdadeiro sentido e valor desta tradição, da qual desejais ser antes de tudo os representantes.” ’*
‘ “Mas a tradição é algo muito diverso dum simples apego a um passado já desaparecido; é justamente o contrário duma reação que desconfia de qualquer progresso sadio. Etimologicamente, o próprio vocábulo é sinônimo de caminho e de marcha para a frente – sinonímia e não identidade. Com efeito, enquanto o progresso indica somente o facto de caminhar para a frente, passo após passo, procurando com o olhar um incerto porvir, a tradição indica também um caminho para a frente, mas um caminho contínuo, que se desenvolve ao mesmo tempo tranquilo e vivaz, de acordo com as leis da vida, escapando à angustiosa alternativa si jeunesse savait, si vieillesse pouvait! [se a juventude soubesse, se a velhice pudesse]; semelhante àquele Senhor de Turenne (*), do qual foi dito: ‘Teve na sua mocidade toda a prudência duma idade avançada, e numa idade avançada todo o vigor da juventude’ (Fléchier, Oração fúnebre, 1676).’
(*) Refere-se a Henrique de Latour d’Auvergne, Visconde de Turenne, Marechal de França (1611-1675).
‘ “Na força da tradição, a juventude, iluminada e guiada pela experiência dos anciãos, avança com passo mais seguro, e a velhice transmite e entrega confiante o arado a mãos mais vigorosas, que continuam o sulco já iniciado. Como indica o seu nome, a tradição é um dom que passa de geração em geração; é a tocha que, a cada revezamento, um corredor põe na mão do outro, e confia-lha sem que a corrida pare ou diminua de velocidade. Tradição e progresso reciprocamente completam-se com tanta harmonia que, assim como a tradição sem o progresso se contradiria a si mesma, assim também o progresso sem a tradição seria um empreendimento temerário, um salto no escuro.
“Não, não se trata de remar contra a corrente, de retroceder para as formas de vida e de acção de idades já passadas, mas sim de, tomando e seguindo o que o passado tem de melhor, caminhar ao encontro do porvir com o vigor imutável da juventude” (*).’
(*) PNR 1944, pp. 178-180; cfr. Documentos VI.
‘O sopro demagógico de igualitarismo que perpassa o mundo contemporâneo cria uma atmosfera de antipatia contra as elites tradicionais. E isto, precisamente, em grande parte pela fidelidade que estas têm à tradição. Há nessa antipatia, pois, uma grave injustiça, desde que tais elites entendam a tradição retamente:’
‘ “Procedendo desta forma, a vossa vocação resplandece já delineada, grande e laboriosa, pelo que deveria merecer-vos a gratidão de todos, e tornar-vos superiores às acusações que vos fossem feitas de um ou de outro lado.
‘ “Enquanto tendes providamente em vista ajudar o verdadeiro progresso para um mais são e feliz porvir, seria uma injustiça e uma ingratidão recriminar-vos e imputar-vos como uma desonra o culto do passado, o estudo da sua história, o amor aos santos costumes, a fidelidade irremovível aos princípios eternos. Os exemplos gloriosos ou infaustos daqueles que precederam os tempos presentes são uma lição e uma luz diante dos vossos passos. E com razão já foi dito que os ensinamentos da História fazem da Humanidade um homem que caminha sempre e nunca envelhece. Viveis na sociedade moderna, não como emigrados em País estrangeiro, mas como beneméritos e insignes cidadãos, que pretendem e querem trabalhar com os seus contemporâneos, a fim de preparar o saneamento, a restauração e o progresso do mundo” (*).” ’
(*) PNR 1944, p. 180.
Não imagine o leitor que, com este sábio conselho, Pio XII omite os graves perigos resultantes da supervalorização da técnica moderna. Com efeito, eis o que, a tal respeito, ele ensina:
“A …. técnica, levada no nosso século ao apogeu do esplendor e do rendimento, parece inegável que se transforma por circunstâncias de facto em grave perigo espiritual. Diríamos que dá ao homem moderno, inclinado diante do seu altar, um sentido de auto-suficiência, e de satisfação plena das suas aspirações de conhecimento e de poder sem limites. Com o seu múltiplo emprego, a absoluta confiança que suscita, as inexauríveis possibilidades que promete, a técnica moderna desenvolve, em torno do homem contemporâneo, visão tão vasta que leva muitos a confundi-la com o próprio infinito. Atribui-se-lhe, por consequência, uma autonomia impossível, que por sua vez se transforma, no pensar de alguns, em errada concepção da vida e do mundo, que se designa com o nome de ‘espírito técnico’.
“Mas este, em que consiste exatamente? Em considerar como o mais alto valor humano e da vida o tirar o maior proveito das forças e dos elementos da natureza; em colocar como fim, de preferência a todas as outras atividades humanas, os métodos tecnicamente possíveis de produção mecânica, vendo neles a perfeição da cultura e da felicidade na terra.” (Rádio-mensagem de Natal de 1953, Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità Pio XII, Tipografia Poliglotta Vaticana, vol. XV, p. 522).
Fonte: * Nobreza e Elites tradicionais análogas na alocuções de Pio XII ao Patriciado e a Nobreza romana. Livraria Civilização – Editora – Porto – Portugal, 1993, (página 74 Capitulo V, Ponto 3 letra b e c).
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