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4 min — há 8 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 8:48:19 PM
A professora de Estudos Russos Soviéticos e pós-Soviéticos da Universidade de Rennes 2, na França, Cécile Vaissié, acaba de publicar um estudo aprofundado sobre a evolução das “redes de influência” russas em seu país desde o tempo da URSS até os dias presentes, comentou o especialista Paul A. Goble para a agência Euromaidanpress.
O livro Les Reseaux du Kremlin en France (As redes do Kremlin na França, Ed. Les petits matins) descreve os métodos de Moscou para penetrar na mídia e conquistar amizades nos ambientes políticos recorrendo a uma rede de financiamentos ocultos em território gaulês
Essa rede ter-se-ia revelado muito eficaz num inesperado setor do espectro político, embora a imagem da Rússia na população francesa em geral não seja boa.
A professora Cécile Vaissié foi entrevistada sobre seu livro em francês e em inglês pela France 24. Reproduzimos os vídeos no fim do artigo.
A autora defende que “algumas dessas redes já vinham existindo há muito tempo”, remontando ao sistema de espionagem e sabotagem soviética da Guerra Fria.
Entre essas, algumas nunca deixaram de funcionar, enquanto outras foram “reativadas” pelo regime de Putin, que criou ainda outras novas, estendendo seus tentáculos pelo coração da chamada “extrema-direita” francesa.
Essas novas extensões da velha rede comunista são as mais surpreendentes e as que mais chamam a atenção dos especialistas.
Vaissié observa que na Franca “a Rússia foi sempre tida em conta de um país misterioso” e por isso mesmo atraiu admiradores.
A professora também tem um grande respeito e estima pela nação russa e pela sua cultura, mas denuncia o erro, comum no Ocidente, de acreditar que a população russa e seus líderes constituem um todo coeso.
Isso não é verdade, diz a especialista, porque Putin e sua equipe no Kremlin não representam o povo russo atual, nem mesmo muitos aspectos do passado glorioso da Rússia que eles dizem encarnar.
O fato de muitas pessoas acreditarem na miragem de o regime de Putin representar esse passado misterioso e rutilante permite às redes de espionagem conquistar agentes em setores da direita francesa.
Segundo a especialista, Lenine, Stalin e seus seguidores exploraram esse engano.
E isso a ponto de os governos franceses ignorarem os relatórios fidedignos sobre os crimes soviéticos e justificarem a não condenação de agressões internacionais, como a repressão da Insurreição Húngara de 1956 ou a invasão do Afeganistão em 1979.
Também hoje há políticos, intelectuais e homens de negócios atraídos pelas mensagens de Moscou, embora em número muito menor se comparado com as décadas de 30 a 70 do século XX.
Esse é um fenômeno de círculos fechados, porque “85% do povo francês têm uma imagem negativa das autoridades russas e de Vladimir Putin”, acrescenta.
Antes da queda da URSS Moscou confiava no Partido Comunista Francês, mas agora procura apoio “principalmente no lado da extrema- direita”, fornecendo créditos e outras ajudas ao Front Nacional.
Vaissie destaca também que os agentes de influência russos não se esqueceram da extrema-esquerda francesa.
“Muitos dos agentes russos designados pelo Kremlin para desenvolver as relações franco-russas são ‘ex-‘oficiais da KGB que, como disse o próprio Vladimir Putin, nunca deixaram de ser ‘ex-‘”, explica a especialista.
Sem dúvida Moscou está aplicando dinheiro para seduzir novos apoiadores, mas é ingênuo supor que todos estão ‘vendidos’. Há os enganados que sinceramente acreditam que o presidente russo e sua equipe são “defensores da Tradição”, de direita, e por isso são “antiamericanos”, etc., diz a professora.
Vaissié nomeia e descreve as maiores organizações visíveis que Moscou usa para disseminar sua influência na França. Mas esses não são os instrumentos em que a ‘ex-‘KGB deposita suas maiores esperanças.
Cécile Vaissié lembra que em 2014 o Front National, de “extrema- direita”, liderado por Marine Le Pen, recebeu surpreendentemente 9,4 milhões de euros num empréstimo fornecido por um banco russo alimentado pelo Kremlin.
Em Les réseaux du Kremlin en France, a professora Vaissié também desmonta os métodos de Moscou para tentar descolar cada país europeu da Aliança Atlântica, como explica em sua entrevista a France24.
Putin banqueiro de certa extrema-direita para rachar Europa e dominá-la (em inglês)
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