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Sacralidade é aquilo (quid) de uma coisa por onde se nota mais facilmente nela seu relacionamento com Deus, através de sua inserção no plano de Deus e através de sua semelhança com Deus, do que com outros objetos
8 min — há 2 anos — Atualizado em: 5/11/2023, 8:15:01 AM
No último artigo tratamos da Sacralidade, uma das noções fundamentais de uma Civilização Católica.
Como vimos, a ideia de publicar um Manifesto que fosse a resposta da Contra-revolução aos erros modernos [leia-se Revolução] levou o Prof. Plinio e um grupo de amigos a se reunirem, desde a década de 1950.
A Revolução, demonstra o Prof. Plinio, vem estabelecendo desde o ocaso da Idade Média, uma guerra contra o sacral. As grandes etapas desse processo (Renascimento, Pseudo-reforma, Revolução Francesa, Comunismo, IV Revolução) podem ser analisadas como sucessivas abolições da sacralidade.
O progressismo, por exemplo, decretou a morte da Sacralidade na Liturgia, nos objetos de culto, no cerimonial. No quarto sermão da Quaresma para a Cúria Romana, o cardeal Cantalamessa, Pregador da Casa Pontifícia, destacou: “A liturgia católica se transformou, em pouco tempo, de ação com forte traço sacral e sacerdotal, a ação mais comunitária e participada, onde todo o povo de Deus tem a sua parte, cada um com o próprio ministério.” (1)
O Clero ensina, governa, santifica; os leigos são governados, ensinados, santificados — essa é a doutrina católica tradicional.
Democratização na Igreja e perda da Sacralidade são reversíveis. Considerar o Sacerdote como presidente da assembleia é o mesmo que abater a sacralidade do Sacramento da Ordem.
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Vimos que "sacralidade é aquilo (quid) de uma coisa por onde se nota mais facilmente nela seu relacionamento com Deus, através de sua inserção no plano de Deus e através de sua semelhança com Deus, do que com outros objetos."
O Prof. Plinio complementa: “Também apresenta certo aspecto de
sacralidade aquilo que não tendo aqueles atributos que especialmente lembram a
Deus, tenha um lado por onde se considerando se chega até Deus.”
Hoje, vamos mostrar o contraste entre o espírito católico tradicional — todo ele embebido da Sacralidade — e a heresia modernista que sobreviveu às condenações de São Pio X e se transmutou em progressismo, TL. O progressismo, veremos, é a morte da Sacralidade na Religião.
O exemplo da naveta, objeto moldado aos longo dos séculos pela Santa Igreja, vimos que tem essa finalidade de elevar os fieis até o Criador. Essa nota, presente nos objetos de culto tradicionais, por onde se percebe mais facilmente nela os reflexos de Deus, se chama Sacralidade.
Duas navetas para incenso, duas concepções de Religião. A primeira é transcendente, eleva até Deus. A segunda naveta é meramente utilitária, feia e proletarizante, não facilita ao homem elevar-se ao Criador.
“Sacral é tudo aquilo que tem especiais qualidades para lembrar os supremos atributos de Deus.” Isto é o conceito de sacral, conclui o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira.
Os objetos profanos também são suscetíveis de apresentarem aspectos sacrais. Para nós, brasileiros, é possível que a sacralidade da espada, a sacralidade de imolar a vida em defesa da Pátria injustamente agredida, seja de mais difícil percepção.
Vejamos o que nos diz o Prof. Plinio:
“Há muito a espada deixou de ser uma arma de guerra.” Mas, a espada ainda é usada como um distintivo dos oficiais. Bom, é o brilho niquelado da espada, é a linha reta da espada, o ligeiramente afilado da espada, o punho da espada, tudo da espada lembra alguma coisa da espadachinada. E queiram ou não queiram, na sensibilidade dos homens a batalha com a espada e lança acabou sendo a batalha por excelência!“
Acrescenta: “A bomba atômica é incomparavelmente mais mortífera, mas uma batalha (…) não é só matar, nem é só vencer! Uma batalha é expor-se, é fazer força, é ter agilidade, é ter bastante amor para fazer a proeza de um duelador!”
Leia: por que a Igreja abençoa as espadas? https://novo.ipco.org.br/formacao-a-sacralidade-da-espada
“A guerra é, por algum lado, é sobretudo holocausto. É o homem dar-se, mas dar-se com sua força, dar de um dar em que ele entra, permanece e se afunda no perigo! Ali ele é herói! Propriamente ele não é herói porque ele vence: ele é herói porque se expôs ao risco! Por uma coisa mais alta.
Enquanto não houver uma participação no supremo, não há propriamente sacralidade.
Essa noção da sacralidade do holocausto fica mais claro quando contemplamos o Sacrifício da Cruz. Nosso Senhor se imola por nós: “uma participação no supremo caracteriza a sacralidade da guerra do Divino Mestre contra o demônio, o mundo e a carne. “Eu venci o mundo”.
Continua:
“uma flecha, uma torre de igreja gótica, ou uma torre de castelo gótico pode ser sacral, porque muito melhor do que simplesmente um brilhante, ela lembra a alma cheia de sagrado que compôs aquilo.
“E através da alma que lembra muito mais a Deus – a alma sacral, a alma que adora o sacral lembra muito mais a Deus – ele chega muito próximo de Deus. Aquilo que traz, portanto, consigo uma certa semelhança especial com Deus a qualquer título, isso é sacral.”
E a Sacralidade naqueles consagrados a Deus?
Quando a gente vendo passar numa procissão um clérigo, “há nisso mais sacralidade do que vendo passar o povo.”
Continua o Prof. Plinio: “Porque o clérigo se dá a Deus, é consagrado. O padre quando dá a absolvição não é ele que fala, é Nosso Senhor Jesus Cristo que se serve da laringe dele para falar. E se vai o bispo na frente, ou atrás conforme disponha a liturgia [em uma procissão], tem mais sacralidade do que o padre. Por quê? Porque o padre tem apenas uma participação na plenitude do sacerdócio. O padre pode consagrar, pode administrar os Sacramentos. Mas o bispo dá um sacramento que o padre não pode dar. O padre não faz padre, e o bispo ordena o padre. De onde o bispo tem mais sacralidade porque ele tem a plenitude do Sacramento da Ordem.
“Mas, se à testa dessa procissão caminhasse o Papa, não havia palavras para dizer, porque aquele é a chave de cúpula da Igreja, por assim dizer, toca em Deus com as mãos.”
Surge a pergunta: “o que é a coisa mais sacral que existe na terra?”
“É o Santíssimo Sacramento. Por mais que procurem, nada pode comparar-se em sacralidade ao Santíssimo Sacramento. Mas o Santíssimo Sacramento está oculto nas aparências eucarísticas. De maneira que em torno dEle a Igreja constitui todo o culto eucarístico, que é um universo de sacralidade, mas Ele considerado em si, Ele é sacral porque é o próprio Deus que está oculto ali sob aquelas aparências.”
Aqui, entende-se porque a Santa Igreja elaborou as maravilhas exteriores para realçar a Sacralidade do Santíssimo Sacramento: turíbulo, naveta, incenso, lamparina. Ostensório para a bênção.
Por essa razão, São Pedro Julião Eymard queria uma corte de adoradores.
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Vimos o conceito de Sacralidade: “a sacralidade é a propriedade da coisa que participa do sagrado” e por isso eleva a alma para as considerações de Deus.
Mostramos que o progressismo rejeita a sacralidade nos símbolos, na liturgia, na doutrina.
Demos alguns exemplos de sacralidade: a naveta, a espada a serviço da Fé, a flexa de uma catedral, a sacralidade do Clérigo e, por fim, o auge no Santíssimo Sacramento, para quem pedia São Julião Eymard, uma corte permanente de adoradores.
Nossa Senhora, sede da sabedoria, rogai por nós.
(1) https://fratresinunum.com/ – Artigo de José Antonio Ureta
Esse artigo foi composto com base em anotações de reunião do Prof. Plinio para formação de jovens, em 1989.
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