Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
3 min — há 4 anos — Atualizado em: 10/14/2020, 6:33:25 PM
Do site: DIES IRÆ
Talvez o episódio que causou maior perplexidade foi o chamado “affaire Comblin”. Em Junho de 1968, um documento bomba, preparado, sob os auspícios de D. Hélder Câmara, pelo padre belga José Comblin, professor do Instituto Teológico do Seminário de Recife, no Brasil, foi divulgado à imprensa brasileira. O documento propunha, de forma clara, um plano subversivo para desmantelar o Estado e estabelecer uma “ditadura popular” de matriz comunista. Aqui estão alguns pontos:
No documento, Comblin defendia uma tripla reforma – agrícola, urbana e fiscal – partindo do pressuposto de que a propriedade privada e, portanto, o capital, são intrinsecamente injustos. Qualquer uso privado do capital devia ser proibido por lei.
O objectivo, afirma Comblin, era estabelecer a igualdade absoluta. Cada hierarquia, tanto no plano político-social como eclesial, devia ser abolida.
No campo político-social, essa revolução igualitária propunha a destruição do Estado pelas mãos de “grupos de pressão” radicais, os quais, uma vez tomado o poder, deveriam estabelecer uma férrea “ditadura popular” para amordaçar a maioria, considerada “desleixada”.
Para permitir que essa minoria radical governasse sem obstáculos, o documento propunha a anulação virtual da autoridade dos Bispos, que estariam submissos ao poder de um órgão composto apenas por extremistas, uma espécie de “politburo” eclesiástico.
As Forças Armadas deveriam ser dissolvidas e as suas armas distribuídas pelo povo.
Enquanto o povo não tivesse atingido um nível aceitável de “consciência revolucionária”, a imprensa, a rádio e a TV seriam estritamente controladas. As elites que discordassem deveriam deixar o País.
Acusando o Poder Judiciário de ser “corrompido pela burguesia”, Comblin propunha o estabelecimento de “tribunais populares extraordinários” para aplicar o processo sumário contra qualquer um que se opusesse a este vento revolucionário.
No caso em que não fosse possível implementar este plano subversivo por meios normais, o professor do Seminário de Recife considerava legítimo recorrer às armas para estabelecer, pela força militar, o regime que teorizara.
No Brasil, o “Documento Comblin” teve o efeito de uma bomba atómica. Face à polémica que se seguiu, o P. Comblin não negou a autenticidade do documento, mas referiu que se tratava “só de um esboço”. Por seu lado, a Cúria de Olinda-Recife admitiu que o documento tinha saído do Seminário diocesano, mas afirmava que “não era um documento oficial”.
Interpretando a legítima indignação do povo brasileiro, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira escreveu uma carta aberta a Mons. Hélder Câmara, publicada em 25 jornais. Lemos na carta: «Estou certo de interpretar o sentimento de milhões de brasileiros pedindo a Vossa Excelência que expulse, do Instituto Teológico do Recife e da Arquidiocese, o agitador que tira proveito do sacerdócio para apunhalar a Igreja, e abusa da hospitalidade brasileira para pregar o comunismo, a ditadura e a violência no Brasil».
Hélder Câmara respondeu evasivamente: «Toda a gente tem o direito de discordar. Eu, simplesmente, ouço todas as opiniões». Mas, ao mesmo tempo, confirmou o P. Comblin no cargo de professor do Seminário, protegendo-o com a sua autoridade episcopal. No final, o governo brasileiro revogou o visto do padre belga, que, de seguida, teve que deixar o País.
E o quê que fez a Igreja face a esta atitude revolucionária de D. Hélder Câmara? Cerca de cinco anos após a sua morte, ocorrida em Agosto de 1999, D. Fernando Saburido, Arcebispo de Olinda-Recife, enviou uma carta à Santa Sé pedindo a abertura do processo de beatificação e de canonização de D. Hélder. Menos de dez dias depois da recepção da carta, a Congregação para a Causa dos Santos emitiu parecer favorável e, a 7 de Abril de 2015, o Bispo comunista recebeu o título de “Servo de Deus”. Segundo consta, o Papa Francisco deseja beatificá-lo em breve. Kyrie, eleison!
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