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Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo

Radicalizando os radicalismos

Por Jacinto Flecha

4 minhá 9 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 8:50:20 PM


escrever a mão

Se o prezado leitor teve a louvável iniciativa de desfrutar o que escrevo nestas crônicas – muitas vezes são também agudas – provavelmente considera-me radical. Não me ofende nem um pouco. De acordo com a etimologia (radix = raiz, em latim), radical é quem tem convicções firmes, solidamente enraizadas em bom terreno. Só não é radical quem não tem raízes, portanto mantenho altaneiramente meus radicalismos, com olímpico desprezo pelos radicais que me acusam de radical: Odeio videogames; nunca vejo televisão; não batuco em tabletes; detesto jeans de qualquer tipo; abomino rock, punk, funk, rap e outros; fujo das modernidades decadentes deste nosso mundo encharcado de modernidades e decadências. Minhas convicções são firmes como o Corcovado. Especialmente quando o vejo como sustentáculo de Cristo Redentor.

Talvez alguns acreditem que posições como essas levam ao isolamento. Pelo contrário, eu as assumi conscientemente, e posso afirmar que nunca me senti solitário, anti-social, marginalizado. Não espero nem desejo aplausos de decadentes, escravos da moda, títeres a serviço da difusão dos maus costumes. Se fogem de mim, também eu fujo deles. Bendito isolamento, se me põe longe de gente assim.

Mas hoje eu tive um susto, deixando-me bastante decepcionado com os meus radicalismos. Não, não me julgue apressadamente, permaneço muito confortável nas minhas posições radicais, e mais seguro ainda. O meu susto foi em sentido contrário, isto é, encontrei gente mais radical do que eu. E até com um acréscimo muito valioso para os escravos da tecnologia: São cientistas (ohhh!), neurocientistas (nossa!!), usaram aparelhos de última geração (beleza!), ressonância magnética (que barato!!).

Quais as conclusões desses luminares? As mesmas que venho desenvolvendo com base exclusivamente nas minhas experiências e observações pessoais. Ótimo que eles tenham chegado a essas conclusões, mas eu não mudaria uma vírgula das minhas, se divergissem do que afirmei. Veja algumas conclusões interessantes:

• Ninguém deve usar o computador antes dos vinte anos. Depois disso, só quando estritamente necessário para o trabalho.

• Nunca se deve ver televisão, em nenhuma idade ou época da vida.

• Os videogames prejudicam a capacidade de raciocínio e o controle mental das crianças. Já se conhecia este efeito, mas pesquisas recentes o estendem aos adultos que passam a usar videogames. E os cientistas concluem que não se deve usá-los nunca.

•  Escrever à mão é mais benéfico para crianças, é necessário ao processo de aprender a ler e escrever.

Esta última conclusão leva-me a uma crônica recente (Entre lousa e tablete), onde mostrei com palavras e exemplos simples que o aprendizado pelos métodos tradicionais – com lousa, quadro negro, papel, lápis, caneta – gera conhecimentos muito mais duráveis e efetivos. Apontei as deficiências de quem usa tablete, celular inteligente e outros brinquedinhos cheios de tecnologia. E suponho ter deixado claro que o grau cada vez maior de analfabetismo funcional deriva em grande parte disso.

Você já deve ter notado, caro leitor, que raramente incluo referências completas, transcrições de estudos científicos, dados estatísticos complexos. Sei que isso é necessário e indispensável no âmbito técnico-científico, mas estaria deslocado numa crônica que pretende ser leve, uma espécie de conversa com o leitor. De modo geral, vinculo a fatos do quotidiano minhas afirmações e conclusões, e um leitor atento pode entendê-las facilmente nos momentos de lazer, mesmo não sendo cientista.

Vou abrir hoje uma exceção, incluindo algumas frases colhidas em reportagem sobre pesquisa científica de equipe altamente qualificada. Chegou-me às mãos pela gentileza de um leitor, impressionado com o que leu naquela crônica:

“Os dados do exame do cérebro sugerem que, ao escrever, prepara-se um sistema que facilita a leitura quando as crianças começam a passar por este processo. Quando as crianças aprendem a escrever as letras à mão, o cérebro parece ficar ligado e responder de forma diferente às letras, estabelecendo uma ligação entre o processo de aprender a escrever e o de aprender a ler. Desenvolver as habilidades motoras mais sofisticadas, necessárias para escrever à mão, pode ser benéfico em muitas outras áreas do desenvolvimento cognitivo. Pelo que concluiu a pesquisa, nada parece substituir o aprendizado com a escrita à mão”. Veja mais detalhes neste link: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/02/150212_gch_criancas_teclados_fn

Meu radicalismo pode parecer sem base, exagerado, mas veja que estou em boa companhia. Não falta nem a indiscutível ressonância magnética. Já que gastaram tanta ciência e tecnologia para chegar às mesmas conclusões deste cronista, não tenha receio em radicalizar como eles mandam. Não lhe parece lógica esta decisão? E não me sentirei ofendido se firmar sua decisão baseado nas conclusões deles.

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Jacinto Flecha

Jacinto Flecha

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Jacinto Flecha, médico, cronista e colaborador da Agência Boa Imprensa.

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