Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
22 min — há 5 anos — Atualizado em: 7/20/2019, 4:30:00 PM
No dia 20 de julho a Igreja comemora a festa de Elias, o profeta de fogo, que se consumia de zelo pelo Senhor Deus dos exércitos nove séculos antes da vinda do Redentor. Arrebatado por anjos, foi levado provavelmente ao paraíso terrestre num carro incandescente. Dessa posição privilegiada ele acompanha as vicissitudes da história da salvação, cujo cerne é a luta entre o bem e o mal, entre os filhos da luz e os filhos das trevas, entre os que seguem a Deus e os que se entregam ao demônio. Nessa batalha que durará até o final dos tempos, ocupa um lugar ímpar o profeta Elias que é considerado o fundador da Ordem Carmelitana. Foi o lutador indômito e implacável contra os idólatras, e retornará ao final dos tempos para lutar contra o Anticristo.
A história da salvação e a luta entre o bem e o mal começam com nossos primeiros pais Adão e Eva. O pecado original acarretou-lhes a expulsão do paraíso e a perda dos seus dons preternaturais. O sofrimento, a dor e a morte tornaram-se nossa herança comum. As tremendas consequências sobre a natureza humana decaída pelo pecado original manifestaram-se de modo trágico nos filhos do primeiro casal, quando Caim matou Abel. A Terra se tornou verdadeiramente um “vale de lágrimas”.
Segundo a ordem divina crescei e multiplicai-vos, as gerações se sucederam, mas povos inteiros caíram na idolatria, pecado que Deus pune com castigos tremendos. A humanidade quase se extinguiu no dilúvio universal, que só poupou Noé e sua família. A torre de Babel determinou a confusão das línguas e dispersão dos povos. Mas na noite dos tempos brilharam cá e lá almas de escol, sobre as quais repousava a benevolência divina. E junto com o castigo estava também a promessa que se realizaria quatro mil anos mais tarde: o Redentor abriria as portas do Céu para a humanidade decaída.
Dentro dos seus desígnios, Deus se apiedou dos homens e constituiu um povo eleito, prometeu a Abraão uma terra e uma descendência mais numerosa que as estrelas do céu e as areias do mar (Gen. 12 ss). Pôs à prova a fidelidade do patriarca, ordenando-lhe sacrificar o filho Isaac concebido em sua ancianidade. Abraão não hesitou em obedecer à ordem divina. Fiel à sua promessa, Deus o recompensou substituindo Isaac por um cordeiro no momento do sacrifício. De Isaac nasceu Jacó, cujos filhos deram origem às doze tribos. Inicialmente nômades, as tribos se fixaram no Egito depois da morte de Jacó, quando José se tornara primeiro-ministro do faraó. Mas depois veio um faraó que não conhecera José, e os descendentes de Jacó entraram num cativeiro longo de quatro séculos.
Libertado por Moisés segundo as ordens de Deus, o povo eleito passou miraculosamente a pé enxuto o Mar Vermelho. No Monte Horeb, Moisés recebeu as tábuas da lei com os Dez Mandamentos, símbolo de sua aliança com Deus. Mas no momento mesmo dessa aliança no sopé da montanha, cansado de esperar, parte do povo caiu na idolatria, adorou um bezerro de ouro e foi severamente castigado pelos levitas. Foram precisos ainda 40 anos de andança pelo deserto, para que afinal o povo eleito entrasse com Josué na terra prometida, onde passou a ser dirigido por juízes e profetas.
Mil anos depois da promessa feita a Abraão, Deus mandou o profeta Samuel ungir Saul. Grande guerreiro e organizador, Saul tornou-se o primeiro rei de Israel. Mas consultou uma bruxa, e sua prevaricação foi castigada por Deus com a morte numa batalha. Seu sucessor Davi conquistou Jerusalém e fez dela a capital das 12 tribos. Salomão tornou o país rico e construiu o primeiro templo de Jerusalém, escrínio fabuloso da Arca da Aliança, onde eram oferecidos sacrifícios ao Deus único e verdadeiro.
Porém o sábio rei Salomão teve dezenas de mulheres, muitas das quais provenientes de povos idólatras, e foram erguidos templos para o culto de Baal, Moloch, Astarté, Kamosh, Amon-Rá. A idolatria foi propagada por seu filho Jeroboão, comprometendo todo o esforço que fizera Moisés para arrancar o povo eleito de suas tendências à idolatria. O castigo divino não tardaria. O reino se dividiu: ao norte Israel com dez tribos, e ao sul Judá com duas tribos. O reino do norte se deixou arrastar praticamente inteiro para a apostasia, adorando Baal, o deus da fornicação, a quem serviam 850 sacerdotes, já agora sob o comando do rei Acab e de sua esposa Jezabel.
Neste contexto de apostasia, em que a pestilência da idolatria afetava grandes e pequenos, levantou-se o profeta Elias para vindicar os direitos do Deus verdadeiro: “E surgiu o profeta Elias como um fogo, e suas palavras ardiam como uma tocha” (Ecc. 38, 1). Vendo a tremenda degradação religiosa e moral de seu povo, e inflamado de zelo pela glória de Deus, Elias increpou o rei Acab: “Viva o Senhor Deus de Israel, em cuja presença estou, que nestes anos não cairá nem orvalho nem chuva, senão conforme as palavras da minha boca” (3 Reis, 17,1).
A esse respeito comenta Cornélio a Lapide (1567–1637), célebre exegeta jesuíta: “Não há dúvida de que Elias, estuante de zelo, anteriormente exortara o rei Acab a abandonar o culto de Baal e adorar o Deus verdadeiro. Como o rei fez ouvidos surdos, Elias passou das palavras ao açoite, e feriu toda a terra com a esterilidade, para que Acab e os idólatras aprendessem que não é Baal, mas o Deus verdadeiro, quem dá a chuva e os demais bens da terra. Invoquem-no, e não a Baal, a fim de obterem todas essas coisas”.
São João Crisóstomo refere-se a essa passagem nestes termos: “Quando Elias, profeta santíssimo, pôs os olhos no povo prevaricador, quando viu claramente Baal e os ídolos serem sacrilegamente adorados com desprezo do Senhor, quando todo o povo, abandonando o Criador, se entregava ao culto das estátuas de barro dos bosques, movido pelo zelo de Deus, decretou contra a Judéia a sentença da seca e do fim das chuvas. Então, subitamente, a terra lançou vapores, o céu se fechou, os rios secaram, as fontes se extinguiram, o bronze ferveu, a temperatura torturou, a tranquilidade ficou penosa, as noites se tornaram secas, os dias áridos, as searas se torraram, os arbustos feneceram, os prados desapareceram, os bosques enlanguesceram, os campos jejuaram, a terra tornou-se inculta, suas ervas morreram, e a ira de Deus se manifestou sobre todas as criaturas”.
O ódio de Acab se inflamou, e Deus ordenou que Elias se retirasse para o deserto, onde corvos lhe trariam alimento. O céu se fechou e tornou-se pesado como chumbo, a terra árida, a água dos rios e das torrentes evaporou-se. E o profeta sentiu na própria pele a terrível punição infligida a Israel.
Elias dirigiu-se a Sarepta, uma cidade entre Tiro e Sidon, onde foi abrigado por uma viúva pobre, que não tinha mais do que um punhado de farinha para fazer um pão. Generosa, ela deu ao profeta o que lhe restava de farinha, para manter sua vida. E foi recompensada por Deus, pois “desde aquele dia não faltou farinha na panela, nem diminuiu o azeite na almotolia”. Mas à pobreza se aliou a tragédia, pois o único filho da viúva morreu, e ela se queixou ao homem de Deus que lhe veio trazer tamanha desdita. Elias lhe respondeu: “Dá-me o teu filho. E tomou-o do seu regaço, levou-o à câmara onde ele estava alojado e o pôs em cima do seu leito. E clamou ao Senhor e disse: ‘Senhor, meu Deus, afligiste até a uma viúva que me sustenta como pode, matando seu filho?’. Estendeu-se depois, inclinou-se três vezes sobre o menino. E o Senhor ouviu a voz de Elias; e a alma do menino voltou a ele” (3 Reis, 17-22-23).
O filho da viúva de Sarepta retornou à vida, tornando-se o primeiro caso de ressurreição conhecido na História.
Enquanto isso, a seca ia se tornando insuportável. Três anos implacáveis se passaram, sem que caísse uma gota de água sequer naquelas terras áridas e agrestes. Então Deus mandou Elias procurar Acab, para fazer cessar a seca. O rei interpelou o profeta:
— “Porventura és tu aquele que traz perturbado Israel?
— Não sou eu quem perturbou Israel, mas és tu e a casa de teu pai, por terdes deixado os mandamentos do Senhor, e por terdes seguido Baal. Não obstante, manda agora, e faze juntar todo o povo de Israel no monte Carmelo, e os 450 profetas de Baal, e os 400 profetas dos bosques que comem da mesa de Jezabel.
Mandou então Acab chamar todos os filhos de Israel, e juntou os profetas no monte Carmelo” (3 Reis, 18-17-20).
Diante dos profetas de Baal, Elias interpelou o povo: “Até quanto claudicareis vós para os dois lados [inclinando-se umas vezes para o Senhor e outras para Baal]? Se o Senhor é Deus, segui-O; se, porém, o é Baal, segui-o. E o povo não lhe respondeu palavra. E Elias tornou a dizer ao povo: Eu sou o único que ficou, dos profetas do Senhor; mas os profetas de Baal chegam a 450 homens. [Contudo] deem-nos dois bois, e eles escolham para si um boi, e fazendo-o em pedaços, ponham-no sobre a lenha, mas não lhe metam fogo por baixo; e eu tomarei o outro boi, e o porei sobre a lenha, e também não lhe meterei fogo por baixo. Invocai vós os nomes dos vossos deuses, e eu invocarei o nome do meu Senhor; e o Deus que ouvir, mandando fogo, esse seja considerado o verdadeiro Deus”.
Os sacerdotes de Baal sacrificaram um boi, colocaram-no sobre a lenha, retalharam as faces e os torsos com facas e estiletes, rodopiaram e clamaram em altas vozes pelo nome de Baal, que não lhes respondeu. Elias zombou deles: “Gritai mais alto, porque ele é um deus, e talvez esteja falando, ou em alguma estalagem, ou em viagem, ou dorme, e necessita que o acordem”.
Desesperadamente, os falsos profetas saltaram e dançaram, oferecendo seu sangue ao ídolo. O sangue idólatra fluiu, mas tudo em vão, nenhum fogo cai do céu. Elias construiu então um altar de 12 pedras, correspondente ao número das tribos de Israel, dispôs a lenha sobre a qual derramou água em profusão, e colocou no altar o boi sacrificado. E dirigiu-se a Deus:
“Senhor Deus de Abraão e de Isaac e de Israel, mostra hoje que és o Deus de Israel, e que eu sou teu servo, e que por tua ordem fiz todas estas coisas. Ouve-me, Senhor, ouve-me, para que este povo aprenda que tu és o Senhor Deus, e que converteste novamente o seu coração. E o fogo do Senhor baixou do céu, e devorou o holocausto, e a lenha, e as pedras, consumindo o mesmo pó e a água que estava no regueiro. Todo o povo, vendo isto, prostrou-se com o rosto em terra, e disse: O Senhor é o Deus, o Senhor é o Deus. E Elias disse-lhes: Apanhai os profetas de Baal, e não escape deles nem um só” (3 Reis, 18,40).
Os falsos profetas de Baal foram mortos junto à torrente do Cison, parte por Elias, parte pelo povo. O zelo de Elias levou-o a matar mais idólatras do que converteu, pois além dos 850 adivinhos e falsos profetas, bem mais ainda exterminou com a seca de três anos. Havia nele muito mais empenho pela justiça e pelo castigo dos ímpios do que clemência e caridade em convertê-los.
Tomado de admiração, o Pe. Cornélio a Lapide realça o espírito de fogo do profeta: “Elias foi um espelho vivo dos pregadores da palavra de Deus. Com efeito, ígnea foi a sua mente, ígnea a sua palavra, ígneo o seu braço, com os quais converteu Israel”.1
Elias dirigiu-se ao rei Acab e lhe profetizou o fim da terrível seca: “Vai, come e bebe, porque já se ouve o ruído duma grande chuva”. Acompanhado de um servo, Elias subiu ao cume do Carmelo, prosternou-se com a cabeça entre os joelhos e rezou pedindo a chuva, até seu criado lhe dizer que estava surgindo do lado do mar e na fímbria do horizonte uma pequena nuvem.2 Na verdade não levou muito tempo para cair uma grande tempestade, pondo fim à seca de três anos, imposta como punição pelo pecado da idolatria.
Enquanto isso Jezabel tomou conhecimento da morte de seus falsos profetas, e jurou matar Elias. Enviou-lhe um mensageiro, dizendo: “Os deuses me tratem com toda a sua severidade se eu, amanhã a esta mesma hora, não te fizer perder a vida, como tu a fizeste perder a cada um deles” (3 Reis, 19,2).
A ameaça de Jezabel amedrontou o profeta. Elias, que com uma palavra de sua boca fechara o céu, enfrentara o poderoso rei Acab, ressuscitara um morto e matara os profetas de Baal (cujo nome significa, em hebraico, “o meu Deus é o Senhor”), tremeu diante da ira de Jezabel. Esse medo, segundo Cornélio a Lapide, não era tanto devido ao receio da morte iminente, mas pelo perigo de que a fé verdadeira se extinguisse em Israel e o falso culto de Baal saísse vitorioso.
Elias fugiu para o deserto, onde um anjo lhe trouxe pão e água, e Deus lhe ordenou que se dirigisse ao monte Horeb. Ele andou 40 dias e 40 noites rumo ao monte Horeb, onde escutou a voz de Deus:
— “O que fazes aqui, Elias?
— Eu me consumo de zelo pelo Senhor Deus dos exércitos, pois os filhos de Israel abandonaram a vossa aliança, derrubaram os vossos altares e mataram com a espada os vossos profetas. E eu fiquei só”. (1 Reis, 19,10).
Agora Deus não falou com Elias num terremoto, mas em “um sussurro brando e suave”. E lhe deu uma tríplice missão: ungir Hazael como rei da Síria, Jeú como rei de Israel, e Eliseu profeta “em seu lugar”. Elias encontrou Eliseu arando o campo, e lançou sobre ele o seu manto. Doravante Eliseu se transformaria totalmente. De rico agricultor (possuía muitas terras e 24 juntas de boi) tornou-se profeta e sucessor de profeta.
O rei Acab cobiçava uma vinha que pertencia a Nabot de Jezrael. Apesar de Acab lhe oferecer um preço justo, ou mesmo uma vinha melhor noutro local, Nabot não quis vendê-la, porque era herança de seus pais. Vendo a tristeza e a raiva do marido, Jezabel prometeu-lhe que a vinha seria sua. Mandou que anciãos da cidade organizassem uma reunião na qual Nabot seria acusado (por falso testemunho) de haver blasfemado. Assim se fez. Nabot foi apedrejado e morto, e Acab apoderou-se de suas terras. Um duplo crime hediondo: assassinato covarde e apropriação indébita. Assim, o castigo divino não se fez esperar.
Deus ordenou a Elias que fosse ao encontro de Acab, para increpá-lo e anunciar-lhe o castigo que viria: “Isto diz o Senhor: Neste lugar, em que os cães lamberam o sangue de Nabot, lamberão eles também o teu sangue” (3 Reis 21-19). Anunciou também a punição de Jezabel: “Os cães comerão Jezabel no campo de Jezrael”.
Atemorizado, mais por medo do castigo do que por amor à justiça, Acab se penitenciou. Uma penitência servil, imperfeita. De fato, ele se arrependeu do pecado por causa do iminente e terrível castigo decretado por Elias. Porém não se arrependeu por amor de Deus, por haver ofendido Aquele que é o Sumo Bem. Deus adiou o castigo, e Acab morreu no campo de batalha, ferido por um dardo inimigo.
Entrementes, a ira divina caiu inflexível sobre a cabeça da ímpia Jezabel. Arremessada da janela de seu palácio, estatelou-se no chão, foi pisoteada pelos cascos de cavalos, e cães famintos a devoraram. Quando alguns servos se apressaram a lhe recuperar e enterrar o cadáver, encontraram apenas o crânio e alguns ossos.
Ocozias sucedeu a seu pai Acab, e um dia caiu do quarto alto de seu palácio, em Samaria. Acamado, quis saber se sobreviveria, e mandou seus mensageiros consultarem o oráculo de Belzebu. Elias os interceptou e lhes increpou a superstição idolátrica.
Irritado ao saber do ocorrido, Ocozias enviou a Elias um capitão com 50 homens, com ordem de prendê-lo. O capitão se dirigiu a ele de modo depreciativo (e por isso será castigado): “Ó tu que te tens por homem de Deus, o rei mandou que venhas. Respondendo Elias, disse ao capitão de 50 homens: Se eu sou homem de Deus, desça fogo do céu e te devore, a ti e a teus 50 homens”. O fogo caiu do céu, consumindo os soldados. Ocozias enviou outro capitão com 50 homens, que também foram consumidos pelo fogo do céu. Pela terceira vez Ocozias enviou outro capitão com 50 soldados, e desta vez o comandante implorou por misericórdia. Elias poupou a vida a ele e aos seus subordinados. [vide quadro no final].
Acompanhado do capitão, Elias foi falar com o rei: “Eis o que diz o Senhor: Porque enviaste mensageiros para consultar Belzebu, deus de Acaron, como se não houvesse um Deus em Israel que tu pudesses consultar, por isso não te levantarás da cama em que jazes, mas certissimamente morrerás” (4 Reis, 1,3). Ocozias morreu após reinar apenas um ano.
Vindicando os direitos de Deus, Elias foi — como escreveu São Bernardo ao Papa Eugênio III — o modelo de justiça, o espelho de santidade, o exemplo de piedade, o propugnador da verdade, o defensor da fé, o doutor de Israel, o mestre dos incultos, o refúgio dos oprimidos, o advogado dos pobres, o braço das viúvas, o olho dos cegos, a língua dos mudos, o vingador dos crimes, o pavor dos maus, a glória dos bons, a vara dos poderosos, o martelo dos tiranos, o pai dos reis, o sal da terra, a luz do orbe, o profeta do Altíssimo, o precursor de Cristo, o ungido do Senhor, o Deus de Acab, o terror dos baalitas, o raio dos idólatras.3
Elias cumpriu a tríplice missão que Deus lhe confiara no Horeb, e aproximava-se o momento de deixar a Terra. Para uma pessoa comum, isso significa passar necessariamente pelos umbrais da morte. No entanto, a Providência divina tinha outros planos para Elias, o profeta das grandes exceções. Em um carro de fogo,4 ele foi levado pelos anjos, segundo alguns exegetas, para um lugar desconhecido na Terra; segundo outros, para o paraíso terrestre. Ao ser arrebatado aos céus, jogou seu manto para Eliseu, seu discípulo e sucessor.
Nove anos depois de ser arrebatado, Elias enviou uma carta a Jorão, rei de Judá, casado com a filha de Acab e Jezabel, anunciando-lhe o castigo por seu pecado de idolatria:
“Eis o que diz o Senhor Deus de David, teu pai: Porque não andaste pelos caminhos de teu pai Josafá nem pelos caminhos de Asa, rei de Judá, mas seguiste o caminho dos reis de Israel, e fizeste cair na idolatria Judá e os habitantes de Jerusalém, imitando a idolatria da casa de Acab, e além disso mataste teus irmãos, da casa de teu pai, e melhores do que tu: faço saber que também o Senhor te ferirá com um grande flagelo a ti, ao teu povo, e aos teus filhos, e às tuas mulheres, e a tudo o que te pertence. Tu serás ferido no teu ventre com uma doença maligníssima, até que te saiam pouco a pouco as entranhas todos os dias” (II Paral. 21, 12-15).
Assim, do lugar onde se encontra “consumindo-se em zelo pelo Senhor Deus dos exércitos”, o ígneo Elias segue o desenrolar da história da salvação.5 Contempla a pavorosa crise que nos dias de hoje convulsiona a Santa Igreja Católica, abomina os novos ídolos de luxúria e igualitarismo que a Revolução gnóstica vai erigindo por toda a parte no mundo inteiro. Certamente, com sua grande força de impetração, reza para que os atuais dias de abominação se abreviem e se cumpram as promessas de Fátima. E prepara-se para o momento em que, juntamente com Enoc, voltará à Terra para enfrentar o supremo idólatra e heresiarca que será o Anticristo.
E aí então, mais do que nunca, a esse varão de Deus, herói do Antigo e Novo Testamento, se aplicarão os elogios de Jesus Sirach:
“Quem pode, ó Elias, gloriar-se como tu? Tu que fizeste sair um morto do sepulcro, arrancando-o à morte, em virtude da palavra do Senhor Deus; que precipitaste os reis na desgraça, e desfizeste sem trabalho o seu poder, e no meio da sua glória os fizeste cair do leito [na sepultura]; que ouviste sobre o Sinai o juízo do Senhor, e sobre o Horeb os decretos de sua vingança; que sagraste reis para vingar crimes, e fizeste profetas para teus sucessores; que foste arrebatado ao céu num redemoinho de fogo, numa carruagem tirada por cavalos ardentes; tu, de quem está escrito que no tempo dos julgamentos (virás) para abrandar a ira do Senhor, para reconciliar o coração dos pais com os filhos, e para restabelecer as tribos de Jacó. Bem-aventurados os que te viram, e que foram honrados com a tua amizade” (Ecl. 48, 4-11).6
Notas:
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