Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
6 min — há 3 anos — Atualizado em: 8/26/2021, 3:15:44 PM
Cansaço ameaçador. Provocada pelo cansaço, a retirada vergonhosa dos Estados Unidos do Afeganistão significou a derrota do forte sonhador pelo fraco fanatizado. Um calafrio de insegurança percorreu de alto a baixo a coluna vertebral de todos os aliados dos Estados Unidos na região. A opinião pública dos Estados Unidos, no geral, cansou-se da guerra do Afeganistão. Bateu o desalento. Não aceita mais sacrifícios. Em especial, os contribuintes, que lá enterraram cerca de 2 trilhões de dólares. Tudo isso estrila nos ouvidos da classe política. Lamento supor, desejaria que acontecesse o contrário, mas os norte-americanos não fugirão da dor. Não vai demorar, despencarão multiplicados os sacrifícios sobre o povo dos Estados Unidos em decorrência da presente atitude do governo de Washington. De passagem, o maior e mais importante campo de batalha de momento e nos meses futuros não estará no Afeganistão, mas no interior da opinião pública norte-americana. Ali se estará decidindo em larga medida o futuro próximo do povo afegão. E até dos aliados dos Estados Unidos, se não da própria nação do norte.
Celebrações reveladoras. Estamos assistindo a uma das maiores derrotas dos Estados Unidos em sua história. E é o primeiro grande fracasso de política exterior do governo Biden. Mais: o fracasso não é apenas dos Estados Unidos, é também do Ocidente. Estão sendo evacuados os cidadãos dos Estados Unidos, França, Inglaterra, Alemanha. Nenhum chinês, nenhum russo. A China saudou simpática o novo regime talibã — na língua pashtun, talibã significa estudante; serão os estudantes e praticantes da lei de Maomé. A Rússia já declarou que vai manter a embaixada em Cabul trabalhando normalmente. No Brasil, o Partido da Causa Operária, marxista-leninista, celebrou a vitória talibã por representar derrota acachapante do “imperialismo norte-americano”. Em Cabul comboios de talibãs gritam “Death to America” — morte aos Estados Unidos. Daqui a pouco, temor generalizado, com vivas de correntes que se proclamam progressistas, o Afeganistão retrocederá por tempo indeterminado para o horror obscurantista.
Continua letalmente ativo o perigo principal. A guerra do Afeganistão tem 20 anos, começou em 7 de outubro de 2001 com a Operação Liberdade Duradoura desencadeada pelo presidente George W. Bush; ele queria impedir que o país asiático servisse de santuário para agrupações terroristas, na ocasião em especial a Al-Qaeda — hoje são várias de letalidade parecida com aquela — que havia perpetrado em 11 de setembro o atentado contra as Torres Gêmeas, pertencentes ao complexo comercial do World Trade Center. Outras nações participaram do referido esforço militar, como a França, Alemanha e Reino Unido. O grupo islâmico terrorista foi rapidamente apeado do poder, mas infelizmente continuou subjugando e aterrorizando extensas áreas. Com a retirada das tropas norte-americanas, a intimidação moral prevaleceu de novo, e os talibãs dominaram rapidamente o país inteiro. E o que agora provavelmente acontecerá? O Afeganistão será de novo santuário de organizações terroristas que ali se prepararão para atacar países do Ocidente, em especial Estados Unidos, Alemanha, França, Inglaterra. É questão de ano, ano e pouco. Contudo, nenhum atentado ali será planejado contra instalações da Rússia ou da China. O motivo determinante da invasão da 2001 continua inteiro.
Passivo pesado. A guerra custou quase 2 trilhões de dólares. Os Estados Unidos gastaram 82 bilhões de dólares na modernização das forças de segurança do Afeganistão treinamentos e equipamentos. Todo esse arsenal moderno caiu nas mãos do Talibã que agora tem presença militar forte na região. Morreram nos 20 anos de presença norte-americana no Afeganistão mais de 2 mil soldados dos Estados Unidos (fora feridos, adoecidos e amputados da guerra), quase 80 mil militares e membros das forças policiais, por volta de 80 mil civis, em torno de 90 mil afegãos de grupos contrários aos Estados Unidos. Erros de avaliação dos setores dirigentes norte-americanos, dos seus serviços de informação, além de concepções ingênuas e otimistas, ameaçam tornar inútil todo esse sacrifício.
Perspectivas. O Talibã, segundo cálculos de organizações norte-americanas, tem negócios oriundos do tráfico de drogas (ópio, em especial), extorsão de proprietários nas regiões subjugadas, cobrança de “pedágio” de fazendeiros plantadores de papoula, de donos de minas. E ainda recebem doações provenientes dos países do Golfo, ricos em petróleo, em geral com base em motivos religiosos. O maior produtor de ópio no mundo é o Afeganistão, e aqui está a grande fonte de renda dos talibãs. À maneira dos narcoterroristas colombianos, temos dirigentes talibãs metidos no tráfico de drogas, useiros com os métodos das máfias, gestores de fundos provenientes do Golfo Pérsico. De outra forma, constituiu-se em Cabul um governo composto de grupos celerados, sem escrúpulos, com histórico macabro; já tiranizou o país vinte anos atrás.
Desengajamento indisfarçado. Na 2ª feira, 16 de agosto, o presidente Joe Biden fez discurso circunstanciado à nação americana no qual foi tragicamente claro:
“Manifest destiny”. Correntes da opinião pública dos Estados Unidos reconhecem que seu país tem vocação universal, nascida dos fatos, na preservação das liberdades no mundo. Tal destino manifesto naturalmente traz engajamento, reclama o fim da funesta e dissolvente saturação, que intoxica parte enorme do público. Outras correntes vão por rumo oposto, são isolacionistas, recusam tal dever, colocam de forma inadequada os Estados Unidos em primeiro lugar, esquecendo-se pelo menos na prática os deveres do destino comum partilhado com as demais nações. Tal vocação de proteção natural não deve ser renegada. A lógica o exige, os maiores interesses humanos o exigem. Trata-se agora de estimulá-la. Substituir o cansaço, postura derrotista, por ânimo e determinação, posição que leva à vitória.
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